Escutava os cochichos de Akashi e Himiko, não dando muita importância para o que diziam. Eu sabia que falavam sobre mim, porém minha consciência estava tão desfocada, que as palavras que saíam da boca dos dois não entravam em meu cérebro. Único pensamento concreto que fixava-se em minha mente eram as memórias de alguns anos atrás, depois de eu perder minha família e começar a viver em uma quitinete em um bairro mais pobre de Tóquio. Trabalhava em uma loja de conveniência pela madrugada e estudava em período integral em um colégio público da vizinhança. Meu único tempo livre se baseava das quatro e meia da tarde até às onze da noite, eu aproveitava daquele descanso para estudar e dar alguns cochilos. Por dois anos eu fiquei nesta mesma rotina cansativa.Meu subconsciente me perguntava o porque de eu me recobrar disso na situação em que estava, e eu o respondia todas às vezes que era a única maneira de esquecer-me de onde estava e dos problemas que me envolviam. Vez ou outra eu conseguia dormir, porém acordava assustada por não ter paz de espírito em meus próprios sonhos. Já estava cansada destes acontecimentos frequentes e comecei a temer cair no sono, obrigando minhas orbes cinzentas ficarem abertas por todo o momento, fingia estar dormindo para meus amigos, quando na verdade, eu buscava vestígios em minha memória de alguma resposta para a situação hoje mais cedo.
Emi, a garota ruiva, também vivia em minha mente, dando-me dor de cabeça sempre que lembrava da mesma saindo do quarto de Dabi. As coisas pioravam quando as palavras que me disse naquela madrugada voltavam como flashs sugadores de energia. Cada minuto que se passava, eu tinha mais certeza de meu sentimento de familiaridade com a garota, os gritos que ela me dera na cozinha pareciam carregar um peso a mais e um significado por trás de suas ações. Levantei-me relutante, sentindo a cabeça girar quando senti o chão frio bater contra meus pés instáveis. Dei três passos até uma cômoda onde se encontrava meus pertences e procurei por dentro da bolsa a fotografia desgastada e antiga.
— Ahmya? - Compress me chamou, ficando em alerta por meu movimento repentino.
Ignorei o que o mais velho falava, sentindo a visão ficar turva e atrapalhar minha procura. As mãos tremiam e a respiração estava pesada, tive que parar o que fazia para conseguir enxergar normalmente. A ansiedade começou a se aflorar de meu peito e senti meu coração saltar quando meus dedos gélidos entraram em contato com o papel da fotografia. Puxei-a de lá, observando com cuidado o rosto de Megan, absorvendo cada detalhe que nunca reparei antes em sua face angelical. Seu sorriso singelo estampava uma expressão feliz enquanto mamãe nos abraçava, ela segurava em uma de minhas mãos, a apertando enquanto dizia que eu tinha que sorrir como a mesma. Me lembro de seu toque até hoje.
Desabei, perdendo o equilíbrio das pernas quando finalmente reconheci o rosto de Emi. Meus dedos tremiam tanto que não tinham força para segurar o fino papel onde tinha a fotografia. Lágrimas e mais lágrimas escorriam por minhas bochechas rosadas e manchadas de sardas, um rio de gotas salgadas se formando em minha face cansada e acabada. Era ela. Era Megan.
— Ahmya! - Toga disse, chegando perto de mim assim que me viu cair - Você está bem? O que aconteceu?
Mostrei lhe a foto, apontando com dificuldade para o rosto de minha irmã. Toga arregalou os olhos minimamente, ainda não entendendo com clareza o que eu queria lhe mostrar. Akashi e Compress se aproximaram, olhando por cima do ombro da loira o que estava acontecendo.
— O que é isso? - o mais velho pegou o papel.
Respirei fundo antes de dizer:
— Minha irmã - sinalizei a garota quando era mais nova - Emi é minha irmã.
Tornou o olhar entre a fotografia e eu, entregando-me novamente o papel depois de suspirar profundamente.
— Ahmya... - arregalei os olhos. Ele não acreditava em mim?
— Você viu ela morrer - Fuyuki terminou de dizer o que Compress queria.
Lembrei-me desse fato, perdendo a visão novamente e não conseguindo filtrar o ar que entrava pelas narinas. Se Megan morreu, então por que Emi era idêntica a ela? Não fazia sentido, tinha que ser minha irmã, afinal de contas, a ruiva até mesmo tinha as cicatrizes dos maltratos de Katsuo.
— Você deve estar cansada, é melhor deitar-se novamente - Himiko aproximou-se de mim, encostando em meu ombro esquerdo.
Afastei-me de seu toque, ainda surpresa com toda a descoberta e segredos que eu ainda tinha que descobrir. Levantei-me do chão, andando com rapidez para fora do quarto, ignorando os chamados de meus amigos, que a todo custo me mandavam entrar de novo no cômodo e descansar. Desci as escadas cambaleando, procurando por cada canto a garota ruiva, não tendo vestígios de sua presença no prédio. Até que cheguei em uma espécie de sala, onde um sofá enorme se encontrava de frente para a lareira acesa com fogo azul. O calor do ambiente era confortável e agradável, trazendo uma iluminação azulada para todo o cômodo, as cortinas cinzas estavam fechadas e um abajur ao lado das mesmas estava ligado, acompanhando a coloração turquesa. Olhei para o sofá, encontrando Max deitado no mesmo, lendo um livro de medicina. Atrás do rapaz se encontrava Dabi, fumando seu habitual cigarro, os olhos azuis do mesmo me penetraram e senti um formigamento estranho no corpo.
— M-Max - gaguejei por puro nervosismo.
O moreno me encarou, retirando a concentração de seu livro. Minhas mãos tremeram mais uma vez. Sentia-me assustada por estar no mesmo ambiente que a pessoa por quem tinha uma decepção amorosa. Eu respirava fundo várias vezes, tomando coragem para continuar o que queria dizer, apenas consegui quando ativei minha individualidade, acalmando levemente meus nervos.
— Onde está Emi? - fechei os olhos, tentando esquecer da presença de Dabi.
— Saiu - respondeu-me simplista.
— Quando ela volta? - voltei a encarar o garoto.
— Daqui dois dias - pegou seu livro, tampando o próprio rosto.
Meu corpo ficou estático. Vi Dabi se aproximar com movimentos lentos, os olhos baixos e o cigarro balançando na ponta dos dedos. O maior parou em minha frente, um olhar de desgosto em seu rosto belo. Senti uma tontura forte ao lembrar-me da saudades que sua boca fazia.
— O que você precisa com ela? - a voz rouca e grave soou, arrepiando os pelos de meu corpo.
Pensei em várias respostas de uma vez, porém a que mais se sobressaía na ponta de minha língua era:
— Não te interessa - mesmo estando chateada e confusa por tudo que Dabi me disse, eu ainda preservava a minha dignidade.
Ficamos em silêncio, o moreno encarando meus olhos turbulentos e eu observando seus detalhes graciosos que machucavam cada célula de meus músculos. Max suspirou, fechando seu livro e jogando-o na mesinha de centro que tinha no cômodo.
— O que você precisa, Ahmya? - levantou-se com as mãos no bolso e uma expressão estranha.
— De onde você conhece a Emi?
*
mores, criei um insta para interagir com vocês
vou falar apenas de minhas fics lá!!
o arroba é @izzi.satvão lá ;)
cap sem revisão!!!
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𝒚𝒐𝒖 {dabi}
FanfictionDepois de ser recrutada para a Liga dos Vilões, Ahmya fica tentada entre descobrir mais sobre Dabi ou manter-se quieta em seu canto. Porém, ao que tudo indica, ela não era a única curiosa. Dabi observava a garota de longe e sentia desejo ao ve...