𝒚𝒐𝒖 {dabi}

fourty three

alerta de possível gatilho

   Fazia mais de três horas que eu estava no terraço deserto e gelado, sentindo o vento forte secar minhas milhares de lágrimas que desciam pelos olhos inchados e vermelhos. Eu apenas observava minhas mãos tremerem pelo frio desgastante, sentindo-me tão vazia por dentro que não tinha forças para levantar e fazer algo útil.

   Meu celular tocava pela terceira vez, o icone de Toga aparecendo na tela trincada, peguei o mesmo e atendi a chamada, não tendo coragem de falar algo.

— Ahmya? - eu escutei a voz singela da garota, sendo abafada pelo áudio ruim de meu telefone.

   Não a respondi, sentindo meu coração se roer novamente e uma onde de emoções negativas tomar conta de meu corpo encolhido. Meus olhos se encheram de lágrimas e o queixo tremeu, alguns fios escuros de minha cabeleira bagunçada grudando em minhas bochechas manchadas de sardas. O céu nublado e atmosfera úmida pioravam minha situação, fazendo minhas extremidades tremerem continuamente e minha pele começar a ficar em um tom diáfano, tão pálido quanto alguém doente.

— Ahmya? - repetiu, com força.

   Escutei a porta do terraço ser aberta ferozmente, diversos passos preenchendo o local onde eu estava. Eu coincidentemente estava onde Dabi havia confessado seu amor por mim, grudada no parapeito em que o moreno uma vez havia estado. As madeixas de cabelo loiros apareceram em meu campo de visão turvo, juntamente com mais duas cabeças. Meus olhos infelizmente não focavam nas pessoas que corriam em minha direção, as orbes cinzentas desfocadas e mortas por dentro e fora.

   Senti um abraço quente em volta de meus braços e quando finalmente prestei atenção no ambiente, reconheci a jaqueta de couro que Compress geralmente usava, envolvendo meus ombros gélidos que apenas eram tampados por um fino tecido. Akashi me perguntava se estava bem, suas orelhas de gatinho mexendo ansiosamente no alto de sua cabeça, os olhos de felino encarando meu rosto inchado, de quem eu sentia vergonha.

"— Vai embora logo, não quero ter que olhar o seu rosto nojento."

Aquelas palavras tão cruéis não saíam de minha mente fraca, dando-me desespero a cada vez que me recordava da cena em que Dabi me maltratou e humilhou por um motivo que eu não sabia. Abracei o couro, enterrando minha cabeça em seu tecido quente enquanto sentia as lágrimas mancharem novamente minha visão. Senti braços circularem por minhas pernas e coluna, tirando-me do chão frio do terraço, um leve sussurro se instalando no pé de meu ouvido.

— Vai ficar tudo bem, ok? - Compress abraçou mais o meu corpo, andando rapidamente para dentro do prédio.

Eu cheirava seu pescoço, sentindo uma essência extremamente relaxante e doce, que fazia minha mente se acalmar minimamente, mas tirava meu foco da dor insuportável que sentia. As lágrimas ainda escorriam por minhas bochechas, molhando levemente a camiseta do homem que me carregava. O frio do terraço se desfez quando descemos pelas escadas, Toga e Akashi acompanhando os passos do homem mais velho. Conseguia sentir o leve abafo de calor que o edifício emanava, aumentando a temperatura de meu corpo gélido e esbranquiçado.

   Paramos de frente para uma porta, que foi aberta com rapidez por Himiko. Adentramos pelo quarto de Compress, o aquecedor ligado deixava a atmosfera calorosa e aconchegante, um abraço de quentura em meu rosto úmido que tremia levemente. Fui deixada gentilmente encima do colchão macio, a jaqueta escura em meus ombros ainda me cobrindo e protegendo do frio, mesmo estando quente ali. Compress me ofereceu água, sentando-se ao meu lado enquanto me observava beber o líquido transparente em temperatura ambiente. Seus olhos transpareciam uma preocupação eminentemente, acompanhados das sobrancelhas cerradas e da boca repuxada em uma careta estranha.

   Toga deixava minhas coisas em um canto do cômodo, logo vindo em minha direção e se agachando em minha frente. Ela também parecia preocupada, observava cada mínima expressão que eu fazia, passando as pontas dos dedos na palma de minha mão, um sinal singelo de carinho e apreciação. Fuyuki ao fundo aumentava a temperatura do quarto, buscando também uma coberta para me esquentar melhor, suas orelhinhas estavam frenéticas e ele parecia assustado.

   Ficamos em silêncio, o copo em minha mão chacoalhava levemente por conta do nervosismo. Senti vontade de chorar novamente, meu coração se apertando e não bombeando o sangue corretamente. Minha respiração falhou e eu tive que forçar o oxigênio entrar em meus pulmões, sentindo o ar passar por minhas narinas e me aquecer por dentro. Era difícil dizer algo quando você apenas queria sair daquele sofrimento contínuo, minha cabeça latejava com pontadas doídas na nuca e a sensação de querer sumir se aflorava em meu peito sôfrego.

— Dabi... - comecei, sentindo minha garganta mais seca - Ele...

Não tinha forças para continuar, porém Compress pareceu ter entendido onde eu queria chegar, afinal, fora ele quem me alertou sobre.

— Me perdoa - me abraçou de lado, colando seu rosto em meu cabelo bagunçado - Se eu tivesse parado ela, nada disso teria acontecido.

Não faria diferença. Ele me odiaria igual e diria aquelas palavras igual. Saber disso me corroía, e o questionamento de saber o porque dele ter brincado comigo se instalava cada vez mais em meus pensamentos. Por que Dabi fora tão gentil, compreensível e carinhoso em certos momentos, se me odiava?

Observei o rosto de Toga, que ainda não tinha entendido, mas não se importava com a explicação agora. A loira procurava me acalmar, passando seus dedos pelos meus em uma carícia genuína e serena, um ato onde uma conexão forte entre mim e a mais nova se intensificava. Akashi agora me cobria com edredons e tirava a jaqueta de mim, arrumando meus fios escurecidos para tentar mostrar sua compaixão com a dor inexplicável que eu sentia.

— Ele disse que eu era sem graça - confessei, sentindo as lágrimas voltarem para meus olhos cinzentos e tempestuosos, onde uma tempestade de emoções estava - Falou que eu era inútil para ele.

Coloquei meu rosto entre as mãos, chorando livremente na frente de meus amigos. Ser traída e odiada pelo motivo da sua felicidade genuína, era em outras palavras, desgastante e depressivo.

*
ok calma...
primeiro de tudo, muito obrigado pelos 51k de views em 'you', todo o apoio de vocês é muito significativo para mim!!

segundo: se preparem

terceiro: amo vocês😠😠

beijocas

cap sem revisão!!!!