fifty

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— Obrigada - agradeci por sua ajuda, pegando minhas muletas e apoiando meu peso novamente nos objetos.

   Megan desceu o último degrau, seu rosto cansado parecia preocupado e arrependido, as bochechas avermelhadas em um ato de vergonha por toda confusão que causou. Eu conseguia ver bem o seu constragimento, sabendo que a mais velha se sentia péssima por tudo que estava acontecendo. Vez ou outra Emi abria a boca para dizer algo, embora segundos depois a fechasse novamente e permanecesse quieta. Andávamos lado a lado no corredor frio do prédio, nosso objetivo sendo o apartamento de Dabi, onde a Megan afirmava que o moreno esperava-me.

Eu me perguntava se estava certo aquilo, duvidando de minhas escolhas de ser quem procuraria, e não ele que viria atrás de mim. Apesar de tudo, eu tinha certeza que o mais alto não conseguiria lidar com a situação e nem mesmo tentaria resolver, por isso eu estava tomando o controle e indo até seus aposentos. Uma desproporcional ansiedade tomava conta de meu peito, fazendo cócegas angustiantes em mim e desfazendo o ciclo de minha respiração, o ar faltando nos pulmões. Agarrei as muletas, as palmas das mãos escorregavam por conta do suor causado pelo nervosismo.

Paramos de frente para a porta escura, um silêncio desconfortável se formando entre mim e Megan, que constantemente tornava a olhar para todos os cantos do corredor vazio. Dei um pigarro, ajeitando as madeixas de cabelo que tampavam minha visão.

— Acho que já vou indo - disse, coçando a nuca frustrada.

   Concordei, dando um leve sorrisinho para minha irmã, que me respondeu com um aceno singelo. A ruiva voltou a andar, seus passos ficando mais rápidos a cada distância percorrida. Ela parecia querer esquecer os problemas que me causou, dando-me o tempo e espaço para lidar e resolver tudo com clareza. Suspirei, ajeitando minha posição com as muletas e verificando se a bota ortopédica estava bem colocada. Pensei milhares de vezes antes de bater na madeira escurava, tornando a fazer críticas sobre mim mesma pelo fato de ir atrás de alguém que me machucou. Me sentia burra e frustrada.

   Dei três toques na porta, esperando por uma resposta, todavia apenas recebendo o silêncio mortal de dentro do cômodo. Repeti o ato, novamente sendo deixada no corredor frio e escuro sem nenhum retorno. Contei até dez, tendo esperanças de que Dabi aparecesse na entrada com seu belo par de olhos azuis me encarando. Soltei o ar cansada, me perguntando se estava tudo bem ou se o rapaz havia saído. Resolvi verificar se a maçaneta permanecia trancada, tendo a surpresa da porta ser aberta assim que girei o metal gélido.

   Observei o quarto escuro, uma única iluminação vinda do banheiro, que estava aberto. Divaguei entre entrar no apartamento ou ir embora, dando um passo à frente logo após decidir o que realmente fazer. A escuridão do local invadiu meu corpo, os poucos objetos que eu enxergava se destacavam nas estantes e encima da cama enorme, onde me deitei algumas vezesno passado. Um sentimento de saudades instalava-se desesperadamente em meu peito fragilizado, o cheiro forte de mel misturado com canela entrava por minhas narinas e anestesiava minha mente, trazendo a sensação de familiaridade de que sentia falta.

   Busquei pela presença de Dabi, não encontrando sua silhueta em nenhum canto do cômodo meio apagado de luz. A lua transcedia do lado de fora, seu reflexo passando pela janela aberta e entrando em abundância junto com o vento gélido. Tentava abraçar meu corpo, sendo inútil por ter a necessidade de me apoiar nas muletas. Manquei decidida até o banheiro, de onde saía a única iluminação artificial que chamava minha atenção. Cada passo dado era uma batida errada de meu coração, deixando-me levemente caótica internamente. As mãos escorregavam pelos apoios, sempre fazendo com que eu reposicionasse meus dedos no lugar certo.

   Assim que cheguei na entrada do local, observei com cuidado todo o ambiente, tendo meus olhos cegados pela claridade excessiva. Dabi estava encolhido minimamente na banheira de água escura, seu cabelo — não mais da cor preta — escorria nas pontas, a tintura manchando sua nuca e braços. Um branco cinzento mantinha-se na cabeleira do maior, que segurava com força as bordas da bacia. Seus dedos pintados com um esmalte negro agarravam urgentemente as beiradas, buscando algum tipo de apoio.

𝒚𝒐𝒖 {dabi}Onde histórias criam vida. Descubra agora