fourty six

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alerta gatilho

   Um enorme penhasco se formava em minha frente, os pedregulhos da ponta eram molhados pela água que vinha das ondas gigantescas. O mar era bravo e não media forças para destruir tudo que estava em seu caminho. Meus pés descalços encostavam na grama fria e úmida, um capim leve e fino roçava por minhas panturrilhas expostas. Eu sentia frio, o vento batia tão forte que todo meu corpo tremia e eu me esforçava para esquentar meus braços, que eram cobertos por uma fina camada de tecido branco. Meus cabelos estavam úmidos, grudando em minhas bochechas gélidas e esvoaçando-se pelos ares junto com a brisa, uma leve valsa entre os dois se iniciando.

   Dei um passo hesitante em direção à bera do penhasco, a terra grudando em meu pé e sujando minha pele pálida. Um sentimento estranho de liberdade e medo se instalava cada vez mais em meu peito, alguns pensamentos distorcidos preenchiam minha mente. Cenas onde Megan sorria, Compress cuidando de mim, Akashi e Toga conversando comigo, mamãe cantando para eu dormir e Dabi deitado ao meu lado, seus olhos azuis penetrando meu coração e se fixando no fundo do mesmo. Na memória, meus dedos tocavam sua pele manchada, a quentura de sua derme quase queimando meus dígitos, porém eu não me importava com a dor mínima que sentia. O cabelo do maior estava sobre sua testa, gotículas de suor escorrendo e deixando úmido os fios negros, sua boca dizia palavras incoerentes para mim, sussurrando como o sopro do vento alguma canção fraca.

   O gramado amplo voltou para minha visão, o moreno que amava sumindo e deixando apenas o sentimento de solidão. Dei outro passo, apressado dessa vez, a dor instalando-se permanente ao meu peito sôfrego, que lutava contra o abandono e saudades que vieram como um baque assim que Dabi saiu de meus pensamentos. Uma tontura rondava minha cabeça, não me deixando raciocinar com facilidade e quando percebi, eu corria cegamente para alguma direção. Não era perceptível para mim o que acontecia, apenas entendi quando senti a grama e terra grudada em meus pés, dando-me um sinal do que realmente estava ocorrendo. Olhei em volta, ainda movimentando as pernas rapidamente, o vento batia em meu rosto, no final de meu destino encontrava-se o penhasco. Ele me chamava, como se fosse minha única opção diante de tanto sofrimento.

Por um momento, senti uma sensação de paz, a brisa não era mais tão forte e o barulho das ondas gigantescas cessaram, uma calmaria estranha preenchendo meu peito e mente. Até que senti o choque de temperatura cobrir todo meu corpo, uma pressão por cima de mim e uma textura diferente por toda minha derme. Percebi então, que havia me jogado do alto do paredão de pedras, toda a água salgada envolvendo minhas extremidades e as congelando levemente. Era frio, porém reconfortante, como um dia chuvoso onde passávamos o resto da tarde debaixo das cobertas quentes. Fechei os olhos e deixei com que o oceano me levasse para onde tinha que ser.

Finalmente - uma voz feminina disse.

   Eu sentia meu corpo molhado, a adrenalina subindo por todas as minhas correntes sanguíneas e a respiração urgente. Sentia uma necessidade desesperadora de sentir o ar entrando por meus pulmões, fazia de tudo para puxar o oxigênio com força. Observei o local onde eu estava, reconhecendo a banheira branca a minha frente, onde era preenchida por um pouco de água morna. Eu tinha meus dois braços segurados por trás, onde Max estava agachado junto à mim dentro da bacia grande, ele usava de sua força para me manter naquela posição sem oportunidades para sair. Meu corpo estava inteiramente molhado e deduzi que o garoto me afogara na banheira com o intuito de me acordar.

— Bom dia, Ahmya - escutei Emi dizer com sarcasmo evidente.

   Olhei para minha irmã, encontrando seus olhos cinzentos e caóticos. Ela tinha seus braços cruzados ao peito, encostava-se na pia e batia o pé impaciente. Senti uma pontada de dor na nuca e lembrei-me do baque da noite passada. Meu coração ficou mais frenético e uma corrente elétrica passou por todos os meus nervos, instigando-me a chegar perto da ruiva, porém fui impedida por Max. Olhei pro tatuado, forçando novamente meus braços, não tendo resultado.

— Me solta - pedi.

— Não, ele não vai te soltar - Megan andou até nós, colocando a ponta de seus dedos em meu queixo que tremia de frio.

   Eu ainda não estava acostumada com seus toques sabendo que agora ela era minha irmã, e não uma recruta. Meus olhos se fecharam por instinto, saboreando de seu leve contato com minha derme gélida. Senti um tapa forte estalar por minha bochecha, fazendo meu rosto virar por inteiro. Encarei-a assustada, sempre confusa por suas atitudes repentinas.

— Por que você continua agindo assim? - sussurrei, a ardência do tapa se intensificando levemente.

— Por que será, não é? - percorreu com seus dígitos o contorno de minha face - Deve ser porque você me abandonou há cinco anos atrás.

   Encarei-a confusa, buscando explicações em suas expressões e gestos.

— Depois de tudo que fiz por você... - deu uma pausa - Foi bem doloroso, sabia?

— Do que você está falando? Era para você estar morta - encarei os olhos turbulentos, vendo um pouco de mim em seus traços orientais.

— Morta?

   Os cílios postiços da garota tilintaram, um leve tremor percorrendo seu rosto. Emi tinha uma aparência cansada, sempre a escondendo com maquiagens, porém nunca conseguiu realmente tampar toda suas olheiras e a cicatriz pelo olho. A boca sempre estava ressecada e as pálpebras mantinham-se baixas e rasas, como se sempre estivesse com sono, porém nunca dormia.

— S-sim - gaguejei por puro nervosismo.

— Eu nunca morri, garota - cerrou as sobrancelhas.

— Mas eu te vi morrer - eu tinha um olhar tristonho e preocupado, uma desconfiança pelo o que meus olhos realmente viram vinha com rapidez em minha mente.

— Está se fazendo de coitada? - segurou com força meu queixo, Max me apertando mais contra seu corpo - Tudo isso para que? Para não admitir que me largou com aqueles estupradores? Sua consciência dói, Ahmya?

   Eu não entendia onde Megan queria chegar. Minha nuca doía e minha respiração estava descompensada, tudo girava e eu não conseguia sentir meus braços como antes.

— Megan - chamei baixinho, vendo a garota parar por um momento - Eu nunca te abandonaria se pudesse, em todos esses anos a única coisa que senti foi sua falta. Eu te vi morrer com meus próprios olhos.

   Lágrimas invadiram minha visão, não me deixando ver a reação da mais velha sobre meu depoimento. Ficamos em silêncio enquanto eu chorava baixinho em meu canto, a cabeça baixa com pingos de água caindo dl cabelo molhado.

— Eu vou ter que te relembrar do que realmente aconteceu? - olhei para seu rosto bonito e maquiado - Espero que você escute tudo, e preste bastante atenção.

*
hey, é a nanda ^^
como vocês estao??

então amores, sabe a Megan? Então, essa menina da mídia é muito parecida com ela, a única diferença é que a Megan tem uma aparência mais asiática

procurei pelo pinterest inteiro alguma garota ruiva que fosse parecida com a Emi, porém não tinha nenhuma :(

enfim amores, até próxima atualização, tia nanda ama vocês <3

cap sem revisão!!!

𝒚𝒐𝒖 {dabi}Onde histórias criam vida. Descubra agora