Ele pegou a avenida que fica às margens do rio Preto. O rio que dá o nome a cidade. Era uma avenida extensa e larga. Naquela época, o rio era muito mal cuidado. Tão mal cuidado que lembrava até um brejo em meio a um matagal. Sem falar que todo o esgoto da cidade era despejado naquele rio. Não havia semáforos nos cruzamentos, não havia faixas de sinalização, não havia muretas de contenção, não havia iluminação adequada. Aquele é o local perfeito para dois garotos, sem habilitação, passar sem ser vistos.
- E como foi lá? – perguntei "quebrando gelo".
- Já te disse, nós transamos, ela cheirou um monte de pó, tomamos banho e, quando fomos no trocar, ela caiu no chão, começou a tremer e babar. Entãonós saímos correndo dali – disse ele sem paciência.
- Isso eu já sei Murilo! Quero saber da transa? – disse me segurando na alça da porta.
Ele me encarou por um momento, talvez achando que eu tivesse o zombando.
- Ah cara, ela chegou, já abaixou minhas calças e começou a "pagar" boquete – disse ele dando uma pegada na mala – como eu estava cheio de tesão, pedi para que ela parasse e colocasse a camisinha porque eu já estava quase gozando.
- Nossa, que rápido Murilo! – disse dando uma longa gargalhada.
- Cala a boca! Você se gaba, porque faz isso há anos. Hoje foi minha primeira vez, oras – disse ele ficando carrancudo.
"Ele me encantava com seus gestos e mania. Desde daqueles mais básicos como: um sorriso, um cafuné, uma piada besta ou sua vontade de me ensinar matemática. Aos mais brutos, como: quando ele ficava irritado, bravejava com os outros, fazia suas excepcionais amostras de força."
- Ai, dei umas bombadas, de quatro, e gozei. Você acha mano, ela é muito sacana. Ela sabe que de quatro a gente goza rápido – disse ele balançando a cabeça de indignação – Muito cuzona!
"Você tem ejaculação precoce e a culpa é da puta?" – pensei.
- É mesmo uma pena! – disse segurando com todas as forças para não rir – Mas que foi rápido foi – disse rindo por dentro.
- Cala a boca Alan!
- Ah meu, contando o tempo que você ficou dentro do quarto...
- Uns 20 minutos – interrompeu ele.
- Isso! Nesses 20 minutos, você: transou, tomou banho, se enxugou, colocou a roupa, a viugarota ter uma overdose. Então mano, sua transa não durou nem 02 minutos – disse caindo na gargalhada.
- Há, há, há... Muito engraçado Alan – ironizou.
Ele começou acelerar o carro, sentido a uma curva.
- Murilo, sei que você não quer ser pego pela polícia, mas nos matar? – disse fazendo uma força absurda para meu corpo não prensar na porta – Toda nossa alegria de hoje seria em vão.
- Aqui é piloto, Alan! – disse ele dando aquela bagunçada nos meus cabelos.
Ao final da curva, perto de uma saída que dava para os bairros, apareceu um cão negro que parou no meio da avenida ao ver o carro vindo em sua direção. Engoli seco quando o Murilo não freara e tentou desviar indo em direção ao rio. Em 05 segundos, o carro bateu no que o "popular" chama de "tartaruga", capotou por umas vezes, caindo de ponta cabeça dentro do rio. Apenas 05 segundos fora suficiente para nos colocar entre a vida e a morte. O carro bateu pelo lado do Murilo, trincando a janela de vidro.
- ALAN? – gritou ele me chacoalhando.
Eu estava zonzo da cerveja e fiz força para poder me concentrar no que estava acontecendo. O carro ainda estava de ponta cabeça. A água não estava entrando. Funguei aliviado por não ter acontecido nada. Um estalo fez com que as luzes do carro apagarem. O motor desligou. Ficamos em silêncio para entender o que estava acontecendo. Mas para meu pânico, ouvia o som da água entrando pelo ar condicionado.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...