CAPÍTULO 53 - ESPECIAL NÚMERO 03
No final de toda aquela confusão, o Arthur foi expulso do hospital, mas pode voltar após ficar 36 horas na porta da casa do médico que ele socou, para lhe pedir perdão. Fui levado para ala da morte, ainda no mesmo dia e colocaram um cateter em mim, caso necessário colocarem medicação. Eu fiquei puto, porque detesto aquee treco no meu braço, limitando meus movimentos.
- De verdade Léo, isso dói, incomoda meu braço e... – tentava sempre completar as frases, mas as palavras sumiam quando eu tinha que enfrentar meu destino – é assim então que vou morrer, com limitações para sair do quarto, limitações para me mexer, me entubando remédios sem necessidade?
- Não pode se revoltar agora meu filho! – disse minha mãe vindo até minha cama e fazendo carinho no meu braço – você sabe que tem que ficar bem e em paz!
- Fica fria mãe. Em menos de 20 dias estarei bem em paz!
- Alan? – chamou o Léo, com uma cara muito séria – vai ficar torturando a gente também?!
- Como disse Le-o-nar-do, só 20 dias e a vida segue pra vocês.
- Meu filho, nós queremos ficar em paz!
- Como eu fico em paz com essa máquina apitando no meu ouvido e essa agulha no meu braço?
- você está ótimo Alan – disse minha mãe – olha só esse hospital. Olha esse quarto.
- Ótimo pra que? – indaguei fazendo os dois bufarem – vamos, completem a frase.
Minha mãe caiu no choro e saiu do quarto. Depois, o Léo me ignorou por vários minutos, mesmo eu pedindo ajuda para entender o que os enfermeiros estavam dizendo, ele ficou sentado na grande poltrona azul que ficava ao lado da cama. Depois meu irmão passou pela porta, segurando uma sacola. Ele estava com aspecto de zumbi. Olheiras profundas e olhos avermelhados. Não deveria estar comendo direito.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou meu irmão ao verem todos quietos no quarto.
- Estão nervosinhos porque disse a verdade.
Ele olhou para os dois que continuavam com a cara de cu, mas não teve respostas.
- Você está bem Alan? – perguntou ele me dando um abraço, um beijo e sentando ao meu lado. Ele segurava minha mão e analisava o meu cateter.
- Pra quem vai morrer, eu estou ótimo!
- Por que está falando assim? Ah, agora entendi a cara de funeral.
- É bom pra irem treinando!
- Faz o seguinte: pegue esses seus comentários e durma com eles.
- Pra não mandar enfiar no meu cu, né Leo? – repliquei ao ver que ele deixara o quarto e seguiu em passos pesados pelo corredor.
Ele mal saiu e eu já senti o peso do arrependimento nas palavras que dissestes. Eu queria muito que ele aparecesse de novo, no quarto, mas não aconteceu. Depois do café da tarde, minha mãe se despediu dizendo que precisava ir pra casa se trocar e descansar. Deixei que ela fosse.
- E aí, o que me conta de bom? – perguntou meu irmão quebrando o silêncio.
Apenas olhei sério para ele e ele retribuiu a cara de cu.
"Sério mesmo, o que eles imaginam que eu responda quando pergunta "Está tudo bem?!". É obvio que não está, vou desaparecer para sempre em 20 dias."
VOCÊ ESTÁ LENDO
MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...