Esperamos ele entrar no elevador e subir até o andar do Murilo. Aproveitamos que estávamos sozinhos para dar um passeio pelos terrenos do condomínio.
- Sinto saudades de tudo isso aqui – disse o Murilo num tom de nostalgia.
- Tudo o quê?
- De quando éramos adolescentes, brincávamos todos os dias, jogávamos futebol, fazíamos aventuras com a molecada, de como eu te admirava.
- Você? – perguntei espantado – Você me admirando?
- Em todos os sentidos.
- E pensar que você sempre fora o garoto exemplo, que ganhara "trocentas" medalhas, falava mais línguas que o Papa, dava mais entrevistas que a Hebe Camargo – disse fazendo gargalhar.
- Pois é! Tive sim uma adolescência boa. Mas confesso que você teve uma melhor que a minha.
- Por que tu falas assim? Você tem 25 anos, ganha bem, mora bem, é cobiçado dentro da aeronáutica? – perguntei apontando um banco em meio à pracinha escura.
No sentamos no banco da pracinha que estava bem escura àquela hora da madrugada.
- Exatamente por isso! Tenho uma vida, obrigações e responsabilidade que um homem de 40 anos deveria ter. Eu não sei o que é sair por ai com amigos, ir para as baladas, pegação e até mesmo namorar – completou olhando fundo nos meus olhos.
- Foi por isso que você sumiu todos esses anos?
- Sim! Mesmo eu estando completamente apaixonado por um rapaz chamado Alan Bortolozzo, eu precisei me distancia de ti até concluir todas as etapas da minha vida, para chegar onde cheguei. Ter a patente que tenho hoje.
- Eu fiquei muito mal com isso!
- No seu lugar, eu ficaria também!
Para que levar adiante uma conversa que já havia morrido?
- Foi muito bom você me explicar o que houve, pois sempre me senti culpado por você desaparecer – disse sendo abraçado por ele.
- Não Bortolozzo! Você nunca foi culpado de nada e sim a minha família que sempre colocou as minhas obrigações em primeiro lugar.
- Não querendo te cortar, mas já cortando, não acha que aqui estamos muito expostos? Precisamos ser mais discretos! – disse me levantando.
Ele se levantou num pulo.
- Vamos até as churrasqueiras. A esse horário todas deverão estar apagadas – disse sentindo ele me acompanhando.
Seguimos rumo às quadras, onde era mais escuro. Ele continuava a explicar todas suas obrigações que tinha dentro do I.T.A. Agora sim eu poderia ficar tranquilo em relação ao seu sumiço. Coisa que anos eu me consumi, pensando ser responsável por ele jamais me ligar.
- Você também desistiu muito rápido da minha amizade – disse ele me dando uma cutucada.
- DESISTI MUITO RÁPIDO? – perguntei aos berros.
- Adorei a parte que você queria sair da pracinha para ter mais descrição. Tens alguma sugestão agora que acordastes o condomínio todo? – ironizou.
- Tonto! Eu desisti muito rápido? Quem disse isso?
- Exatamente por isso! Ninguém me disse que você tinha me procurado. Logo, concluí que você não queria mais a minha amizade.
- Você tem ideia que pensei em você nesses sete longos anos? – perguntei fazendo-o me encarar.
- Fico muito feliz e meu coração enche de alegria ao ouvir isso Bortolozzo. Você soube, agora pouco pelo tenente Guazira, que eu sempre falei de você para ele e para todo mundo. Sabe uma das únicas fotos que temos juntos?
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomantizmHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...