O Burro entrou com um grande sorriso estampado no rosto. Ele estava diferente, usava umas roupas estilo "escritório de gente rica", o que dava uma aparência mais "responsável" do que sempre fora. Ele ficou olhando para todos os cantos, móveis, objetos do meu apartamento e rindo. Ele pegara os porta-retratos em cima do rack. Fotos da nossa infância.
- Esqueci de pedir sua licença para entrar? - disse ele fazendo uma reverência.
- Toda! - respondi fechando a porta e o analisando andando pela minha sala.
- Devo saber o motivo da graça? - perguntei fazendo levantar a sobrancelha.
"Ah, como eu odiava o fato dele conseguir levantar apenas uma sobrancelha. Com certeza, era algo que deveria ser estudado nele!"
- Apena vendo seu apartamento. Simples, básico, sem muitos "entulhos". E com nossas fotos de moleque. Essa daqui fora logo que cheguei no Green?
- Sim!
- Na verdade, era um ano a mais.
- Gostei, bem "clean" - disse ele abrindo as janelas e olhando do lado de fora - menos a vizinhança.
- Apartamento mais "clean" = menos coisas pra eu limpar.
- E você acha que eu não sei?! O senhor preguiça em pessoa ficar limpando. Me admira muito não encontrar um urubu aqui dentro.
- Nossa, falando assim, até parece que é o exemplo de limpeza.
Ele soltou um risada gostosa. Sabia que estava rindo da minha forma de agir com ele;
- Sempre se defendendo com um ataque Alan? Mas fica frio, eu sou muito bagunceiro, não tem ideia.
- E... como você está? - perguntei sem jeito, já que nossa amizade não estava lá das melhores após aquela briga.
- Eu vou facilitar algo para mim e para você... - disse ele me puxando e sentando no sofá - ... por mais que você possa ter feito eu sofrer, não consigo sentir raiva de ti. Você não tem ideia como eu queria sentir toda aquela raiva que as pessoas sentem ao ouvir o seu nome, mas não! Você, só você tem esse dom. Mesmo todos os outros reprovando esse meu comportamento.
Estendi a mão pra ele que sorria.
- O que é isso? - perguntou olhando para minha palma aberta.
- Estou dando o primeiro passo para pedir desculpas. O segundo seria apertá-la e depois saímos para comer!
Ele apertou a minha mão e depois me puxou para um abraço. Depois, contei tudo o que estava acontecendo em minha vida acadêmica, vida financeira e familiar. Saímos pouco tempo depois e fomos ao Mc Donald's. Compramos 04 lanches cada e sentamos a beira da represa. Como era bom ficar sentados sentindo aquele vento geladinho.
- E me fale sobre os amores Alan? - perguntou ele enfiando todo lanche na boca.
"Só você Burrão! O Único amor ainda é só você"
- Nada, apenas faíscas de amores - menti a ele - a mais provável mora bem longe daqui.
- Nem tem como vocês começarem agora e mais pra frente um tentar morar perto do outro? - perguntou ele me olhando de baixo.
"Não, não, não mesmo!" - disse a mim mesmo.
- Prefiro dar continuidade a projetos pessoais a namoro por enquanto.
- "Projetos Pessoais?!" Que palavra difícil vindo de ti. Quais projetos? - ele perguntou rindo.
- Me formar, por exemplo!
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...