Ao contrário do que eu imaginava, os dias foram passando e Murilo mal aparecera para sair conosco. Deveria estar fazendo a linha "matar saudades". Assim, passava maior tempo visitando parentes, amigos de infância e aproveitando as férias com os pais. Das raras vezes que ele aparecia, era só para dizer um "oi" e ou "tchau". Quer dizer, menos para uma pessoa, o Burro. O Murilo não intenção alguma de tratá-lo bem. Quando ele resolvia "dar as caras" para a molecada, ele fazia questão de cumprimentar a todos, menos o Burro. Até o pessoal que conhecia o Murilo há anos ficava impactado com aquela cena. Ainda mais com o Burro. O cara que era considerado o Senhor Amizade do condomínio. Tinha também aquele lance de esbarrar propositalmente no garoto, o arremessando longe. E, ao invés de pedir desculpas, ele chamava atenção da galera para caçoá-lo.
"Como alguém que não conhece a outra, pode ter ódio dela?"
E conhecendo o Murilo como conheço (se é que ele tem aquela cabeça de seis anos atrás) tenho certeza que ele queria que o Biesso realmente se incomodasse a ponto de brigar com ele. Só que, o que o Murilo não sabia, era que o Burro era o cara mais sossegado do mundo. Eu nunca tinha o visto se alterar por nada e com ninguém. Muito menos alterar a voz com alguém.
"Como já falei para vocês lá atrás, às vezes, dava até raiva da calma dele".
Então, se o Murilo quisesse brigar, com certeza não seria com o Burro. Na verdade, era até mais fácil o Murilo se irritar com a calma dele, do que esperar a tão "sonhada" provocação. Porém, quanto mais contato nós três tínhamos, mais "pesados" iam ficando os esbarrões e as provocações. Era nítido como o Burrão ficava triste com aquela situação e, se não fosse pela minha amizade, por eu ser o melhor amigo dele, ele jamais estaria enfrentando aquelas humilhações. Quando o Murilo estava por perto, o Burro mal abria a boca para falar algo. Talvez com medo de virar alvo de piadas.
"O engraçado do Burro leitores, era que, quanto mais ele virava saco de pancadas do Murilo, mais carente e pegajoso ele ficava. O horário de almoço sempre era muito tarde e, naquela semana em específico, ele fizera questão de me esperar para almoçarmos juntos e depois ele me levava de volta para o serviço. Quando eu chegava do serviço às 17 horas, lá estava ele na porta da empresa me esperando para me levar para casa. Tarefa que era habitualmente feita pelo Arthur. Ele queria ficar ao meu lado mesmo quando eu insistia, dizendo, estar cansado demais para ficarmos conversando. Acho que ele estava com medo de que eu não fosse ser mais amigo dele. Com medo que o Murilo me impressionasse mais que tudo. Só que para sorte do Burro, o Murilo não voltou agir como antes. Que ficava no meu pé 24 horas. Agora ele estava diferente, mais adulto, mais solto, com outros pensamentos, atitudes e ações. Não era mais aquele moleque que dependia de mim para rir, sair, praticar esportes, comer, dormir, etc. Agora, ele agia por conta própria".
Os dias passaram e meu aniversário chegara.
"Vocês sabem como funciona festa em condomínio, né? Você convida uma meia dúzia de pessoas, mas no final aparece todo mundo e mais um pouco".
Era um sábado, fazia um sol de rachar e todos os meus amigos comparecera para a festa. Para as meninas, nós alugamos um Videokê. Já para os homens, uma bola e um baralho já era o suficiente para se divertir. Sem que aquele calor lembrava PISCINA. De todos os meus amigos da turma antiga – aquela que eu e o Murilo reinávamos – quem mais modificara o corpo, de muito longe fora o Murilo. Ele sempre fora um garoto forte para o padrão, mas dessa vez, ele voltou quase três vezes maior. Aposto que o motivo daquela mudança foi devido aos treinos que ele tem na academia militar. Ele não crescera apenas de peso, crescera também de altura. Quando eu o vi pela última vez, estava um palmo abaixo que eu. Já hoje, estava praticamente um palmo maior que eu.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...