Atravessamos o condomínio todo até chegarmos à famosa "Árvore". Famosa por ser a maior e mais bela árvore do condomínio. Embaixo dela, havia um cercado cheio de areia grossa para as crianças menores brincarem, bancos de madeira para as pessoas descansar e gaiolas onde havia vários canários que atraía atenção de todos os moradores. Era, de longe, a maior árvore do condomínio todo. Tinha facilmente 06 andares de altura. Poucos, muito poucos, arriscavam a chegar ao topo dela.
Esperei até que todas as pessoas chegassem para começar o ritual.
- Você é um cara do sítio, não é? – perguntei.
- Sô sim! – disse ele com certa raiva na voz.
- Então, chegar ao topo dela e amarrar sua camiseta no galho mais alto, não seria dificuldade? – perguntei deixando o boquiaberto.
- Cêquéqui eu suba até lá em cima? – perguntou ele engolindo seco.
- Não! Quero que você "suba lá embaixo"–Ironizou o Diego.
- Até o último galho – disse abrindo um sorriso de triunfo – Qual e burrão, não é tão difícil assim?
- É perigoso! – disse o Burro olhando para os pés.
- ELE DESISTIU! – disse fazendo todos o vaiarem.
- Não é isso, sô! O pobrema é qui tem uma caxa de marimbondo tatu nela – disse ele ficando ofegante.
- POBREMA? – gritou o Diego fazendo todos rirem.
- Os marimbondos tem mais medo de você do que você deles Burro. Agora, vou contar até três para você começar a subir – disse fazendo-o ficar desesperado – um...
- Moço, é perigoso! – disse ele desesperado.
- Dois...
- Não Alan, faço qualquer coisa – disse.
- Três – disse virando as costas para ele e chamando a turma para me acompanhar.
- Eu subo, eu subo, eu subo – disse ele arrancando a camiseta e começando a subir a árvore.
- Vai ser divertido – disse arrancando risadas de admiração.
Ele foi subindo de galho em galho, com uma facilidade incrível.
- Até parece que a árvore foi feita para ele – disse o Danilo sem piscar.
- Cala a boca!
- Ele vai conseguir! – disse o Diego movendo os lábios a cada galho que ele subia.
- Tá torcendo a favor do caipira? – perguntei inconformado.
- Até então, os únicos que tinham chegado ao topo, eram você e o Murilo – completou o Guilherme.
- Por que vocês não somem daqui e deixa-me ver até onde aquele Burro sobe? – perguntei irritado.
Minha cabeça começava a ferver de raiva. Raiva misturada com uma dose de vergonha e inveja. Porque, teria que assumir que ele era tão bom quanto eu e o Murilo éramos. Porque seu nome seria escrito no hall dos corajosos.
- Esse caipira Alan, mora em sítio. Lógico que ele saberia subir em árvores – disse o Diego – Não adianta você ficar todo nervoso por algo que você deveria saber. Dessa vez o Burro foi você Alan! – continuou ele, virando as costas e indo para o fundo da turma.
- Por que você não vai à merda heim Diego? – disse partindo pra cima dele.
- Vai me bater por estar com raiva dele? – perguntou ele arqueando as sobrancelhas.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
Lãng mạnHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...