Capítulo 10

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Para minha felicidade, os primeiros dias passaram muito rápidos. Quer dizer, poderia ser pior. Não que eu estivesse me divertindo, mas fora agradável. A presença daquele garoto estava contagiando positivamente a todos. Na segunda e na terça-feira, nós íamos para escola de manhã e na hora do almoço o Arthur fielmente nos buscava para voltarmos para casa. À tarde eu passava meu tempo lendo para ele e ensinando-o a falar corretamente o português.

"Antes que vocês pensem que foi da minha pessoa ensinar português a ele, não foi. Ele me pediu, pois dizia que precisava se adaptar ao meu ambiente."

Durante a noite ele contava histórias da sua infância. Coisas que ele fazia no seu sítio. Curiosidades da sua vida caipira que nos fascinava, durante o jantar na mesa. A única coisa de diferente, era que descobrimos que ele fazia xixi na cama.

"Nada demais, mas se essa história caísse na mão da galera, seria uma bomba. Ou que chamamos hoje de bullying."

Lembro-me muito bem daquela quarta-feira ensolarada. Deveria fazer por volta dos seus 35º, temperatura típica da minha cidade.  Bem no portão de saída estava meu irmão todos sorridente, sem camiseta, pois dizia ter que "pegar uma cor" para atrair a mulherada. E sol naquele horário era o que não faltava. Dizia todos que, se eu puxasse ao meu irmão, eu seria um garoto muito popular com as mulheres. Ele sempre fora o primeiro a hastear a bandeira de "pegador" do colégio. Primeiro, pela beleza rústica de um italiano e depois pelo carisma e bom humor. Lembrava até um cão, pois ele fazia amizade com todos mundo e todo mundo era legal com ele. Não me assustaria se ele deitasse no chão e pedisse para alguém coçar sua barriga.

- Boa tarde pirralhada! – disse meu irmão quando nos viu saindo do portão.

- Boa tarde Arthur! – respondeu eu e o Biesso.

"Na verdade, deveria ser "Boa tarde Caronte!".

Da escola até minha casa, eram 02 kilômetros e 400 metros. Minha mãe nos trazia pela manhã e a tarde meu irmão nos buscava. Passávamos por trás do Shopping da cidade. Do Shopping até a minha casa, era apenas conjuntos de terrenos baldios com uma casa ou outra.

- Queria saber por que vocês dois estão tão desanimados assim? – perguntou meu irmão parando bem no meio do caminho – Tão andando que nem duas senhorinhas.

- Muito calor! – respondeu o Burro.

- O Arthur acha que todos correm que nem ele – disse fazendo meu irmão rir alto.

- Na verdade pivete, ninguém corre mais que eu - confirmou ele.

- Eu corro mais que você – disse o Burro fazendo meu irmão franzir bem a testa.

- Ro, ro, rul – disse imitando a risada idiota do Arthur.

Ele apenas fitou o guri por uns instantes, pegou um graveto e continuou a caminhada no sol escaldante, todo sorridente, balançando o graveto de um lado para outro.

- E a escola Biesso, tá muito difícil? – perguntou o Arthur quebrando o gelo.

- Só ingreis!

- IN-GLÊS – corrigiu eu e o Arthur ao mesmo tempo.

- Só o in-glês – ele repetiu devagar.

- E o português também! – disse o Arthur fazendo todos rir.

- É que eu num sei pra que serve o in-glês – disse ele dando de ombros.

O sol esquentava e a mochila pesava com o passar do tempo. O que era brincadeira dava lugar para a respiração ofegante e ao cansaço. Após andarmos um terço do caminho no sol do meio dia, chegamos a tão fresca e gostosa Praça do Vivendas. No meio da praça tinha um bebedouro e sempre parávamos lá na nossa volta. Meu irmão molhava a cabeça e seu corpo, enquanto eu e o Burro apenas bebíamos aquela água gostosa e refrescante. Água que vinha direto do poço artesiano. Matávamos a sede com grandes goladas daquela água geladinha. Era sempre um alívio chegar lá. Essa era conhecida como a praça dos eucaliptos, pois praticamente todas as árvores dali eram eucaliptos. Quando ventava, os galhos batiam uns nas outros, soltando um aroma maravilhoso, sem falar no som do vento cortando as folhas. Era recompensador chegar ali.

MEU CORPO É MUITO PESADO!!!Onde histórias criam vida. Descubra agora