"Só para vocês entenderem Leitores. Tinha dois caminhos para chegar até as churrasqueiras, o primeiro: era ir pelo meio dos prédios, caminho bem mais curto. Segundo: dar a volta pelo playground."
Acabei de me secar e seguimos para a festa novamente, mas ele seguiu pelo caminho mais comprido. Algo que me deixara preocupado e com o coração na boca.
- Por que não vamos pela rua? Pelo playground tem muito barro – eu perguntei na esperança que ele me adiantasse o que ele queria.
- Cala a boca e anda! – disse ele sem olhar nos meus olhos.
- Cara, você vai nos fazer andar o dobro do percurso. Você não tem cérebro não? – disse irritado.
Mas ele ficou mudo. Já eu, estava nervoso, porque ele escolhera andar pelo barro, pedregulhos e grama, sendo que eu estava descalço. Andamos uns 200 metros e chegamos até os brinquedos, onde ele escolhera um balanço para se sentar. Fiquei parado e olhando para ele, sem entender nada.
- Senta aí – disse ele sem olhar para mim.
- Não quero me sentar. Primeiro você disse que estava morrendo de pressa e agora você quer brincar de balançar? – tinha que responder a altura.
- Não vou demorar – ele disse num tom calmo.
Respirei fundo e sentei-me no balanço ao lado dele.
- Fala Arthur, que está acontecendo? – perguntei.
- Alan, há anos atrás eu peguei você tendo relações com meus primos mais velhos e te perdoei por você ser bem mais novo que eles. Você tinha apenas 10 anos e eles 14, era desvantagem. Por mais que você soubesse o que era sexo, você não tinha base e nem dimensões para a coisa – disse ele dando uma longa pausa – e nem eu tinha para ter te dedurado. Tanto que eu apanhei mais que você, lembra?
- Sei, mas...
- Então, hoje eu chego no vestiário e dou de cara com você excitado junto com outro homem. Você acha isso normal? – perguntou ele sério.
- Arthur, não aconteceu nada – eu disse.
- Não aconteceu nada porque não deu tempo ou porque não era para acontecer? Essa é a minha pergunta? – agora sim ele levantou os olhos para mim.
- Não aconteceu nada, porque não existe nada para acontecer!
- Poxa, eu tenho tanto carinho por você, tenho tanto amor e você, ai no meio desses moleques, fazendo essas porcarias?
- Eu não fiz nada Arthur – disse num tom de voz mais alterado.
- Pode ser, pode ser! Mas será que o King também estava apenas de pau duro por estar? Ou ele aproveitou que você é meio "pancada" para isso?
- Não sei. Isso você deveria perguntar a ele.
- Quero que saiba que eu não tenho nada contra e, que minhas brincadeiras, são apenas brincadeiras, mas você é meu irmão caralho. Eu te amo e não queria isso para você. Você sabe como essa gente sofre?
- Arthur, eu não fiz nada e nem queria fazer.
- Esse tipo de gente são discriminadas o tempo todo. Esse tipo de gente é vista como, se tivesse uma doença grave, contagiosa e incurável. Você sabe o quanto você vai sofrer? – continuou ele fazendo aquela cara de nojo.
- Não estou fazendo nada – eu disse com o choro vindo a garganta.
"Ele sabe de tudo. Será que eu conto e me livro desse fardo ou será que eu fico quieto e toco minha vida?" – pensei.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomantikHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...