"Será que esse sentimento, era um sentimento de irmão-amigo ou sentimento de algo mais? Até então não tinha certeza."
O que eu mais queria, naquele momento, era poder estar lá com ele. Sentia totalmente impotente do meu melhor amigo estar sofrendo e eu aqui, no meio da minha festa. Por sorte seus pais estavam no meu churrasco, pois, caso contrario, o padrasto do Burro iria brigar com a molecada e o Burro levar um castigo gigantesco por não fazer nada.
"Caralho! E o que ele vai falar quando os pais dele o virem ele sem um centímetro de sobrancelha?" – pensei.
Senti-me tão besta por não estar com ele. O "acidente" durante o jogo fora tão chato, que as meninas voltaram para o churrasco e os meninos aproveitaram o calor para nadar. Ou seja, ninguém deu a mínima importância para o que tinham feito com o garoto. Já o Murilo, que ficou sentando no alambrado o tempo todo, veio em minha direção sorrindo.
- Vamos nadar Alan? – perguntou o Murilo com ar de triunfo.
"Nadar? Como ele era cachorro, frio e sarcástico. Ele simplesmente acabou com a graça de todos e não estava nem ligando para o ocorrido" – pensei.
E eu fiz um careta, pois estava incrédulo com a cara de pau dele.
- Como você pôde fazer aquilo com ele? – eu perguntei, fazendo-o ficar carrancudo novamente.
- Que foi Alan? – disse ele colocando a mão no meu peito, fazendo para na hora - ficou com dó daquele panaca lá? Ele mereceu! Muito playboyzinho, metido a jogador. Se ele tivesse no exército teria sido linchado - disse rindo.
- Só achei que você pegou pesado demais!
- Eu peguei pesado demais? – ele riu de novo - Ele não é jogador de futebol profissional do caralho a quatro? – disse ele debochando.
- Ele joga sim cara, mas...
- Mas... então ele deve estar acostumado a levar jogo de corpo. Só que hoje ele deveria estar...menos precavido, não acha? – dizia ironicamente e rindo.
- Precavido? Você parecia um jogador de Rugby raivoso – eu disse com raiva.
- Para com isso Alan! – disse ele no mesmo tom que o meu – Então é isso, você vai defender aquele playboyzinho? – disse ele dando um soco numa árvore que estava próxima a ele.
A árvore chacoalhou fazendo inúmeras folhas cair. Aposto que se eu socasse aquela árvore daquela maneira, eu perderia todos os ossos da mão.
"Como um homem inteligente e rico, poderia ser tão bruto e ignorante a pensar por esse lado?" – pensei.
- Você o machucou! – eu disse com voz baixa.
- Machuquei? Não Alan, eu não o machuquei. Apenas esbarrei nele. Agora, se ele caiu no chão, rolou, se ralou, ai já é um problema dele. Agora, cansei desse assunto! Será que da para você calar a boca? Você é ou não meu irmão de sangue? – ele disse bravo, com cara de quem fosse me matar – Ou você esqueceu que meu sangue corre nas suas veias?
Mas um segundo depois ele abriu um sorriso gostoso e começou a gargalhar.
- Filha da puta. Achei que fosse me dar um soco – eu disse aliviado.
- Você acha mesmo que eu relaria a mão em você? Jamais! E vou te falar uma coisa. Você e meus pais são as únicas pessoas no mundo que eu jamais relaria a mão. Palavra de homem – disse ele fazendo sinal de juramento com os dedos.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomansaHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...