CAPÍTULO 49
O ruivo apenas me encarou. Tinha certeza que ele estava chateadíssimo com meu comportamento perto do Murilo. E, ainda mais, por essa impressão de eu ser submisso a ele. O Murilo esperou que o Burro fechasse a porta para tranca-la. Ele tirou toda a minha roupa e foi até o armário para pegar duas toalhas, uma de banho e outra de rosto. Em seguida, ele foi até o chuveiro e mudou para água gelada.
- Você não acha que tá bem friozinho para você colocar na água fria? – perguntei.
- Você não ia querer ter água quente entrando dentro dos seus ralados – disse ele dando um sorriso de canto.
Aquelas palavras fizeram meu estômago gelar. Eu já tinha ralado na vida, mas nada era comparado com aquilo. Tinha muito barro, muita área grossa, mato e alguns pedregulhos.
Agora, com "todas as letras", eu sabia o que o Burro sentiu quando o Murilo o derrubou na quadra. Ouvi o Murilo abrindo o chuveiro e, em seguida, ele tirou sua roupa, ficando apenas de cueca. Ele fora até a pia e pegou o sabão neutro e a toalha de rosto.
"É agora meu Deus!" – pensei engolindo seco.
Ele entrou primeiro embaixo da água e forçou o máximo para não fazer careta. Mas era notável – pela sua respiração ofegante – que estava estupidamente gelada.
- Agora é sua vez Alan! Quero que você segure meu pescoço, se precisar, puxe meu cabelo e, se tiver coragem, pode arranca-los fora – disse ele olhando sério para mim.
- Até parece que vou precisar fazer isso! – disse esnobando-o.
- E essa toalha eu quero que você a coloque na boca, para morder com toda força – disse ele me entregando.
Eu apenas dei de ombros.
- Vai doer tanto assim, pra você me dar seus cabelos pra eu arrancar e uma toalha pra eu morder?
- Vai ser a pior dor da sua vida – disse ele sério.
- Já tive coisas piores, meu querido! – disse esnobando-o.
- Acredite em mim Alan, não teve! – disse ele dando um sorriso de canto – Eu quero que você molhe bem suas costelas, porque, parte do barro já secou, então precisamos molhar bem e tirar o máximo que pudermos tirar, sem eu ter que usar as mãos. Molhe também sua bunda, porque um dos cortes está nela.
Apenas assenti. Olhei para ele por um momento. Busquei algum tipo de força que pudesse me fazer criar coragem, então, fechei os olhos e entrei debaixo do chuveiro. A água gelada me fizera pular fora do box antes mesmo que pudesse chegar aos meus machucados.
- Que água gelada, Murilo! – disse ofegante.
- Vem amor, vem agora antes que piore – disse ele estendendo a mão para mim.
Fechei os olhos novamente, segurei a mão do Murilo e entrei debaixo da água. A água estava tão gelada que nem conseguia lembrar dos machucados. Mas aos poucos, como ele já havia previsto, o barro que estava seco começara a amolecer e a água a entrar nos machucados. Foi então que senti minha pele arder ao ponto de gritar de dor.
"Agora entendi o porque da toalha!" – pensei.
Coloquei a toalha na boca e a mordi com força.
- Vou aumentar a força da água e quero que você levante os braços – disse ele passando a mão nos meus cabelos.
Fiz o que ele pediu, aos poucos, eu ia levantando meu braço direito, abrindo espaço para entrar mais água, sem falar que fazia a pele esticar.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
Roman d'amourHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...