CAPÍTULO 51
- Que silêncio! – quebrou o silencio o gêmeo – podem dormir rapazes. Tomei 03 energéticos e, logo a frente meu irmão esta dirigindo. Descansam.
- Esses remédios estão me dando sono danado. Você se importa se eu dormir? – disse ele todo manhoso, passando a mão no meu ombro.
"Que vontade de pegar no colo que me dava!"
- Sem problemas! – disse passando a mão nos seus cabelos.
Pegamos a estrada rumo a Rio Preto. Confesso que não gosto de viajar a noite, mas tudo o que houve naquela cidade, me dava coragem suficiente para sair dali. Eu estava tão "pilhado" com tudo o que acontecera aquela que mal percebi as horas passar. O Murilo era um cara que precisava de tratamentos psicológicos e dos bons. Não que ele fosse "louco" ou algo parecido, era a possessão dele que me dava medo. Ele, desde menino, atacava o ruivo que estava roncando no banco, sempre que tinha oportunidade. Chegavam a me dar nos nervos todas às vezes que nós discutíamos por ele. Anos mais tarde vem à tona que toda essa história de ser o Shaitaini, começou com esse ciúmes. Tirando o problema dessa noite, agora, eu tinha que me focar para duas coisas, primeira: operação do Arthur. Segundo, ir a polícia denunciar meu ex namorado.
Tirei de dentro do meu bolso o dente que ele arrancara de sua boca, junto com a aliança que ele comprara para firmar nosso namoro. Fiquei segurando na mão e os girando na minha palma.Pois é, há 03 dias tudo isso era uma coisa completamente diferente. Todos estavam felizes. O Murilo me enganou sobre sua vida no passado, mas ele tinha razão em algo. Aquilo que havia acontecido com ele, não era problema meu. E o que me deixava mais mal, era que ele estava me namorado e, ao mesmo tempo, me usando como uma força, extra, para parar com tudo isso. Eu como um péssimo namorado, o abandonei. Sentia-me culpado, porque, ao mesmo tempo em que eu tirei o Muca das drogas, eu coloquei-o novamente. Sentia-me um fracasso.
Não quero ser julgado por estar defendendo o Murilo. Ele também tentou melhorar e mudar para ficar comigo, da mesma forma que esse garoto do sorriso torto fez. E mais uma vez o Alan Bortolozzo causara decepção. O Murilo pode ter sido um cara mau, mas comigo, ele sempre me tratava como um rei. Eu era tratado como um filho por ele e, esse tratamento, eu jamais encontrarei em outro cara. Tirando o lance da possessão, não posso acusá-lo de mais nada. Era tudo eu. Agora todas as peças se encaixavam. Eu arruinei a vida de todos que tentaram meu amor. O Burro, mesmo tendo amor de irmão, eu o decepcionei. Decepcionei mais que qualquer coisa na sua "vidinha". Sempre o tratei como segundo plano, mesmo que, para mim, ele seja o amor da minha vida. Tinha medo de me apegar, ainda mais do que eu já era. Tinha medo de machuca-lo. Tinha medo de ficar uma vida toda plantando um amor platônico e viver sofrendo o resto da vida essa agonia.
O Murilo é um cara que se jogaria em frente de um caminhão por mim. Ele tem um amor, uma admiração, uma veneração, que chega a ser inexplicável o tamanho de tudo isso. Tenho no meu coração, centenas de troféus que ele conquistara ao me ensinar sobre esse mundo. Fora o primeiro "homem" – porque não considero meus primos como homens que tive, e, sim apenas sexo - que eu tive, me ensinou a beijar, a ter pegada de macho, a fazer amor de verdade, carinho, companheirismo, a ser ativo, a ser passivo, a ser homem de verdade. E, esse ensinamento, levarei para o resto da minha vida. Sem falar que qualquer pessoal que eu venha a namorar, pode ter toda certeza que será no padrão Murilo de ser. Ele é foda!
Aí, tenho esse guri, de cabelos raspados e ruivo, criado no sítio, apenas com os pais, que não sabia atender um telefone ao chegar à cidade grande. De magricela a bombado. rque "bombado" nunca fora o "padrão Burro de ser", mas que hoje estava um homenzarrão e tanto.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...