Capítulo 38
Era normal eu, todos os anos reunirmos: o Burro, o Arthur e os gêmeos passarem o Revéillon juntos. Dessa vez seria diferente. Seria apenas eu e o meu amor passeando por aonde queríamos, de jeito que queríamos e como queríamos. Sem se preocupar com horário, pra aonde irmos, o que comermos. Pra descer ao litoral usasse apenas uma estrada. Todos os anos é sempre a mesma coisa. Quilômetros e mais quilômetros de engarrafamento. Quando se está com 05 pessoas no carro e mais um cooler de cerveja, fica fácil passar o dia todo debaixo de um sol escaldante, mas, em 02, ficaria difícil, porque teríamos medo caso um problema mecânico. Esse ano, como só ia eu e o Burro, decidimos fazer algo "suicida". Atravessarmos o estado todo, mais a capital, em plena madrugada. A grande vantagem e viajar com o Burro era que seu padrasto era muito rico. Em 2007 ter um GPS no carro era considerado artigo de luxo.
Fomos com o nosso tempo, sem pressa para nada, conversando muito sobre a vida. Eu sempre olhava aqueles olhos cor de jabuticaba que fazia graça para mim. Imaginei um dia estarmos fazendo aquela viagem, como um casal de verdade, aonde eu pudesse passar toda a trajetória com a mão sobre sua perna, roubar um beijo enquanto ele dirige, mandar parar no acostamento para fazermos alguma loucura. Eu me pegava rindo dos meus pensamentos e, sempre que ele me perguntava por que eu estava rindo, eu respondia que estava feliz demais pela nossa viagem! Viajar de madrugada foi tão gostoso que não pegamos 01 mísero quilômetro de engarrafamento. Passamos por Praia Grande, São Vicente, Santos, pegamos a balsa e chegamos ao Guarujá. Andamos pela avenida que fica a beira mar e paramos na praia de Pitangueiras às 04 da manhã. Ainda faltavam 02 dias para o Reveillon e os bares estavam lotados de turistas e as ruas também. Estacionamos o carro numa das ruas paralelas e resolvemos descer para ver como estava.
- Chegamos Alan, nós dois temos capacidade de fazermos uma viagem e ainda chegarmos inteiros aqui – disse a ele que ia e ia tirando seus tênis para por o pé na areia – nós podemos.
Repeti o mesmo gesto, tirando meus tênis e os deixando num montinho de areia.
- Ah o mar! – disse ele abrindo-os braços e deixando aquele ar delicioso tomar conta do seu corpo.
Eu apenas fiquei ao seu lado, admirando a forma com que ele passava a mão no vento. Na forma que seus dedos faziam desenhos imaginários. Era como se, na cabeça dele, ele já estivesse dentro da água e ficar deslizando-o o seu corpo, fosse uma brincadeira tão gostosa. Um dia, eu gostaria de poder entrar dentro da sua cabeça, para saber exatamente o que é que ele tanto sente nas pequenas coisas.
- Vamos Alan, vamos entrar? – chamou ele arrancando a camiseta e o short, ficando apenas de cueca preta e pulando no mar.
Ele mergulhava e voltava a superfície a cada onde que vinha.
- Você é idiota? – perguntei quando ele começou a me encarar.
- SIM! VEM TÁ MUITO QUENTE – berrou mais uma vez.
- NUNCA! VAI QUE TEM ALGUMA COISA QUE ME ARRANCA ALGUM PEDAÇO MEU, OU ME ENVENENA OU ME DA UM CHOQUE – berrei de volta a ele.
- QUE TIPO DE ANIMAL SE MATARIA POR VOCÊ?! VEM LOGO, JÁ ESTAMOS INDO PARA O HOTEL.
- NUNCA! DEIXO PRA AMANHÃ!
Ele deu um mergulho no mar e depois saiu e vindo em minha direção, com os braços cruzados e se esfregando por causa do frio.
- TIRA ESSA ROUPA! – mandou ele;
- O que?
- Agora – disse ele rindo.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...