Eu, minha família e meu mais novo irmão de sangue, passamos mais três dias dentro daquele belo hospital. De fato, a presença do Murilo e os constantes paparicos da minha mãe e do meu irmão, fizeram meus dias mais fáceis. Eu recebia injeções de hora em hora, 24 horas por dia, o que dificultava minhas madrugadas naquele lugar. Diariamente, às 04 da manhã, os enfermeiros vinham até o quarto e coletavam sangue para fazer exames. Às 06 da manhã, o Doutor vinha até o quarto contando e explicando meu resultado aos meninos. Com base nos resultados, ele dizia a dosagem de medicamentos e quando eu poderia ter a possível alta. Tudo, sempre nas primeiras horas da manhã, o que me deixava cada dia mais estressado. Por sorte, o Arthur e o Murilo, sempre demonstraram ter paciência e bom humor. Até aquela raiva que meu irmão estava do Murilo, passava ao longo que ambos adquiriam mais intimidade. Por algum motivo, o médico não liberara nada para eu comer, até o dia que eu recebi alta.
"Não que eu tenha ficado com fome, pelo contrário, o excesso de remédio até me deixava com a sensação de estar sempre estufado e me enojava sentir o cheiro da comida que as enfermeiras traziam aos acompanhantes."
No 8º dia, logo pela manhã, o médico passou com um sorriso largo dizendo que ia me dar alta.
- É menino Alan! Tá na hora de ir embora, não acha? – disse o doutor bem humorado.
- Acho muito bom doutor! – disse tampando a boca para ele não sentir meu mau hálito.
- Então tá bom! Liberei a dieta leve para você e, logo após comer, tomar seu banho e cuidar desse curativo, você pode ir – disse ele assinando os papéis na prancheta.
Todo mundo começou a bater palmas e rir de alegria.
- Valeu Doutor! – disse o Arthur dando um forte aperto de mão.
- Na verdade, tem uma coisa a ser feita antes – disse ele.
Os meninos se entreolharam e depois me encararam.
- Alguma coisa errada Doutor? – perguntou o Arthur chegando mais perto.
- A Assistente Social liberou os policiais para fazer o Boletim de Ocorrência – disse o médico sem nos olhar – O certo seria você ir até a delegacia. Mas como a Assistente Social fez um bom trabalho, dizendo que você estava debilitado, eles acabaram concordando em vir até aqui.
- Mas por quê? – perguntei indignado.
- Porque, no dia do acidente, alguém fez um Boletim de Ocorrência contra o Murilo. Agora, eles estão vindo até aqui para tirar a sua versão.
- Mas quem iria fazer um Boletim de Ocorrência contra o Murilo?– perguntei sentindo meu perto arder de raiva – Eu não quero fazer nada. Nem adiante eles virem aqui.
"Quem foi o filha da mãe que fez isso?"
- Entendo.Isso já é algo que eu não posso fazer meu rapaz! – disse ele dando um sorriso de consolo – Bom, minha parte está feita. Você vai comer algo agora, tomar um banho, limpar bem e trocar esse curativo, esperar pelos policiais e depois está "livre" – disse ele dando um tapinha sobre meu joelho.
- Muito obrigado Doutor! – agradeci apertando forte a sua mão.
- Obrigado meninos por ajudar o Alan. Em especial a você Murilo – disse ele dando as mãos e depois saindo do quarto.
Esperamos que ele saísse e logo o Arthur fechou a porta.
- Quem foi o idiota que fez o Boletim de Ocorrência? – perguntei irritado aos dois.
- Fui eu Alan – disse meu irmão dando um passo à frente.
- Por que você fez essa babaquice? – brandei contra ele.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomantizmHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...