Mais um ano se passou com a ida do Murilo. Os velhos hábitos e costumes de viver com o Burro, logo voltaram ao normal. Fazer 22 anos nada mais é que ter mais responsabilidades a serem feitas. Quando eu fiz 18 anos, achei que eu fosse conquistar o mundo e, hoje, não saí nem debaixo das saias da minha mãe. O Arthur que estava cada vez mais insuportável em relação à faculdade. Tinha dias que ficava tão irritante que passávamos semanas sem dar um "Oi". Era estranho, pois a palavra "família" na minha casa era muito forte. Sempre fui dependente da minha mãe e do Arthur. Sempre fui aquele cara que teve as refeições prontas, a louça lavada, as roupas limpas. Precisava apenas acordar, trabalhar e dormir. Fui sempre fadado a dar satisfações e explicações da minha vida ao meu irmão. Isso me tornava uma pessoa mimada e sem controle da minha própria vida. Mas precisava tomar um rumo diferente, precisava respirar mais, precisava ser o Alan que nasci para ser.
Quando se fala em São José do Rio Preto, a primeira coisa que se vê nos mapas é a represa da cidade situada num ponto estratégico. Era bonita de se ver. Gostosa para caminhadas, corridas, passeios com família.
- Seu irmão só quer que você vença na vida — disse o Burro tomando um gole da sua cerveja gelada enquanto observávamos as pessoas caminharem na Represa da nossa cidade.
- Ele quer apenas ficar livre de mim! — disse olhando para os meus pés — Assim como a minha mãe.
Sentia que a cerveja estava fazendo efeito rápido, pois estava ficando zonzo.
- Para de drama Alan. Além do mais, isso não é bom? Ficar sozinho, ter mais liberdade, dormir e acordar na hora que quiser, tomar banho de portas aberta e andar pelado pela casa — disse o Burro com olhar perdido nos pensamentos.
Três rapazes passaram por nós, correndo sem camiseta, corpo ensopado de suor.
"E três bundas lindas subindo e descendo, conforme eles corriam."
Pensamentos que faziam meu estômago revirar. Eu sempre disfarcei meu desejo por homens. Isso incluía sempre transava com garotas. Na verdade, conseguia! Após beijar o Murilo, meu corpo passou a rejeitar automaticamente qualquer possibilidade de ficar com outras garotas. Era como se eu comesse verduras em uma churrascaria. Você até consegue, mas você nunca vai ficar bem alimentado. Porém, agora que experimentei o gosto da carne, jamais conseguiria colocar qualquer verdura na boca novamente. Disse ao Burro que não estava passando por um bom período e o fato de tentar entrar numa faculdade estava me deixando bem "desestimulado" ao "ficar com meninas". A coisa boa do Burro, era que, por mais que fosse ruim a situação, ele nunca me contestava ou ficava me aporrinhando. Pelo contrário, ele sempre me apoiava em tudo.
- Isso significa ter que lavar a louça sozinho — disse tirando o Burro do seu olhar longe.
- Isso significa ter que lavar a louça, as cuecas e limpar a casa — disse ele rindo — Porém, tem um lado bom, você pode fazer tudo no seu tempo.
- Ou seja, elas podem apodrecer?
- Sim! Elas podem apodrecer que ninguém vai te encher — disse ele virando a garrafa num gole só - Que é bem o seu caso — disse ele dando um soco e saindo correndo pela pista de cooper.
- Seu filha da puta! Machucou — eu disse correndo atrás dele para revidar.
Corri atrás do Burro enquanto ele desviava das pessoas.
- Muito saudável você correr com uma cerveja na mão! — disse ele a minha frente.
- E pelo jeito você concorda, já que bebeu até agora — disse ele jogando um pouco em nele.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
Roman d'amourHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...