CAPÍTULO 46

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                                CAPÍTULO 46

Cozinha de carnaval era uma fartura. Em cima de uma imensa mesa de madeira, havia sacos e mais sacos de pão francês. Dezenas deles. Sacos de tomates, sacos de cebola. Tudo à vontade. Dois fardos de leite e muito achocolatado. Peguei leite gelado, coloquei pedras de gelo, achocolatado e bati tudo no liquidificador. Lá fora dava para ouvir o som de um carro chegando. Supus que fosse o Murilo voltando, já que nem fazia seus 15 minutos que tinha ido. Continuei a bater meu leite e depois bebi tudo dentro do copo de liquidificador. Os passos lá fora iam aumentando, aumentando até ouvir a porta da cozinha se abrindo. Continuei de costas para porta, na tentativa de ser surpreendido com um beijo na nuca, mas ao invés disso, a melhor voz do mundo falava comigo:

- Você vai morrer e continuará a beber shake com essa boca suja dentro do copo do liquidificador?

Sim, lá estava ele parado. Me olhando, com aquele sorriso torto.

"Respira Alan!" – disse o meu cérebro.

Engoli o shake que desceu rasgando na garganta, dando até uma dor, após atolar tudo do esôfago. Ai o ar saiu. O ar saiu com tanta força que comecei a rir de felicidade. Ria tanto que saia shake pelo nariz. Ficamos lá, sob um minuto, um olhando para outro, sob um raio de sol que entrava pela janela da cozinha. Ele estava mais... ruivo do que o normal. O cabelo raspado, sem barba. Tinha ficado mais forte, acho que os treinos novos que ele tanto tinha falado que iria começar. Fechei os olhos, aonde mesmo que eu estava e os reabri para certificar que não era sonho.

"Caralho, quantas vezes eu te encontrei em sonhos? Quantas vezes pedi para parar de sonhar, pois estava ficando mal? Quantas vezes pedi para você voltar falar comigo? Quantas vezes pedi para que sumisse da minha vida? Quantas vezes eu pedi para que voltasse a sonhar contigo novamente? Pois, ao menos nos sonhos, eu sentia você dentro do meu coração!"

Meu coração estava tão disparado que deveria ser vista, pulando no meu peito, a olho nu, quilômetros da chácara. As pontas dos meus dedos estavam formigando e ele lá, sorrindo pra mim. Sim, ele voltara.

- Burro? – perguntei abrindo os olhos e me apoiando para não cair.

- Acho que ainda é esse meu nome. – disse sorrindo e me olhando com aquele "ar de apaixonado".

- Como...? – me faltava palavras, atitudes e meu estômago estava bem lá no fundo e a dor no coração reaparecera – como... quer dizer, então... você veio!

- Parece que viu um fantasma! – disse ele abrindo os braços.

- Pior! – disse fazendo-o me olhar com cara de susto – Não, quero dizer, não foi isso que eu quis dizer – corrigi vendo a careta que ele estava fazendo – É que tanto tempo sem te ver, Burrão que nem sei o que dizer.

- Eu só queria que você seguisse sua vida... – ai que ele fechou a cara de vez.

- Eu? – deu aquela bufada - Seguir minha vida sem você? Não sei como você pode pensar assim? – disse olhando no fundo dos seu olhos – independente de tudo, você é meu melhor amigo.

Ao colocar o copo de shake na pia, via algo que fez minhas pernas amolecerem. O Um Anel (a aliança do Murilo) estava na minha mão.

"E agora, será que ele viu? Será que da tempo de tirar?!"

Enfiei a mão com cautela debaixo da água e fingi estar lavando o copo. Tirei a aliança, com cuidado a coloquei dentro do bolso.

- Não sei porque agi daquela forma! Só sei que eu pedi para você se afastar de mim, sendo que prometi jamais te deixar de lado. Só que você me deu nenhuma atenção. Você é rancoroso, mimado e marrento – e se afastou de mim indo rumo a varanda, me deixando olhando para o nada.

MEU CORPO É MUITO PESADO!!!Onde histórias criam vida. Descubra agora