Capítulo 21

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Esse capitulo contem relatos de violência e abuso, conteúdo que pode ser sensível para algumas pessoas. 

Boa leitura!

Martina

Quando sua voz me traz de volta do inferno e eu desperto, me deparo com a pior cena que poderia ter visto, eu estou em cima do Felipe, com as mãos na sua garganta e ele me olha quase desfalecendo.

Em meus pesadelos eu revivia a uma das milhares de vezes em que o Erico tocou em mim. Ele era um sádico imundo, amava me ouvir implorar. E todas as vezes que eu me recusava a dar esse gostinho para ele, o mesmo usava uma nova tortura.

Confissões saem pela minha boca, meus pensamentos parecem tomar vida própria, confesso para Felipe todos os meus sentimentos, mais confusos e ele me olha atônito.

_Você não é nada disso, baby! _Ele dá mais um passo em minha direção. _É perfeita para mim, me deixa entrar, colocar todos os pedacinhos do seu coração.

_Não posso. Felipe, você é como um anjo. E anjos não descem ao inferno para resgatar pessoas como eu! _Fecho os meus olhos sentindo meu peito se contorcer.

Preciso mandar ele para longe, eu não posso machucar ele, prefiro morrer a fazer algo parecido com o que eu fiz hoje.

_Seus argumentos para me manter longe são inúteis. _Sinto quando seus braços circulam meus corpo me apertando contra seu peito.

E como se algo se rompesse dentro de mim com esse abraço, eu choro como nunca chorei na vida, me entrego a uma dor que me consome e me aprisiona há dez anos.

_Eu tinha quatorze anos, e ele frequentava aquele lugar que eu chamava de casa. Ele me buscou na escola e disse que eu seu não fosse uma boa menina, ele machucaria as minhas irmãs. _Sinto as braços se Felipe me apertarem ainda mais, mas não sou capaz de olhar em seu rosto. Preciso contar para alguém e mesmo que depois de tudo ele sinta nojo de mim, agora ele parece a ser única pessoa com que eu possa desabafar. _Então, eu fui com ele. A Donna era uma criança ainda e a Alessa já sofria tanto, que eu não podia deixar nada de ruim acontecer com elas. E ele começou a fazer isso todos os dias, me buscava na escola e me levava para a casa dele, e me violentava de todas as maneiras possíveis. Ele era um sádico, um estuprador e roubou tudo de mim. _Grito de dor, sinto meu estomago se revira e corro para o banheiro vomitando tudo o que eu tinha no estômago.

Sinto a mão do Felipe segurando meus cabelos e fazer um carinho nas minhas costas.

_Ele me tirou tudo de bom. Meu amor à vida, a minha inocência, meus sonhos. Me transformou nessa coisa oca, sem capacidade de amar! _Me sento no chão abraçando as minhas próprias pernas me sentindo pequena e indefesa.

Ouço apenas respiração do Felipe por longos minutos até que tomo coragem de olhar em seus olhos e não consigo identificar os sentimentos que vejo ali.

_Você não é oca! _Ele diz  tentando controlar sua respiração. _Você não perdeu a capacidade de nada, Martina! _Ele segura meu rosto entre as suas mãos. _ Baby, você era uma criança, e viveu no inferno para proteger suas irmãs. Martina, você é perfeita, você é inteira. E talvez esse não seja o melhor momento, mas, eu preciso dizer que isso só me fez ter mais certeza de que eu estou apaixonado por você, e que eu vou cuidar com a minha vida da coisa mais preciosa que  existe para mim, você!

_Felipe... _Olho para ele procurando por palavras, sentindo meu peito ser preenchido por um sentimento novo... amor.

_Me deixa cuidar de você, devolver seus sonhos. _ Uno nossos lábios tentando demonstrar com esse beijo todas as coisas que eu não consigo expressar com palavras.

Sinto seus braços me erguendo do chão frio do meu banheiro e me carregando até a cama. O tempo parece parar enquanto nos beijamos, todos os meus medos somem e só existe o Felipe e eu.

_Queria ter mais ar em meus pulmões, para poder beija-la até o mundo acabar! _Ele sussurra me colocando na cama se deitando ao meu lado. _Eu sinto muito por tudo que passou.

Me viro para ele colocando um dedo em seus lábios impedindo-o de falar.

_Eu nunca contei isso para ninguém e não estou pronta para me aprofundar mais nesse assunto. _Faço um carinho no seu rosto. _Machuquei você? _Toco as marcas vermelhas em seu pescoço. _Me desculpa? Eu estava presa dentro daquele pesadelo, jamais faria isso com você se tivesse consciência.

_Eu sei disso, baby! _Ele beija as minhas mãos, e eu não vejo a repulsa que eu sempre imaginei ver. _Está se sentindo bem? Quer um chá, um remédio? _Nego com um aceno de cabeça sem saber bem o que falar ou como agir. Me sinto envergonhada por tudo o que eu disse. _Não me joga para longe outra vez, Martina.

_Não posso prometer não fazer isso. Eu sempre faço isso, afastado toda luz que ameaça a entrar na minha escuridão. _Confesso olhando em seus olhos. _Eu sou complicada demais para um cara como você.

_E eu sou simples demais para uma garota como você, somos perfeitos um para o outro. Equilibramos! _Ele me sorrir e meu coração bate descompassado. Ele não vai me deixar fugir. _Quer sair comigo? Tipo um encontro?

_Um encontro? Com um assassino a minha procura e nos dois metidos em uma operação policial? _Dou um sorriso largo e mordo meu lábio. _ Eu aceito!

_Aceita? _Ele me olha surpreso e confirmo com um aceno de cabeça. _Mesmo? Vai sair comigo? Eu nunca cheguei nessa parte.  _Ele parece eufórico e me olha com uma criança que acabou de ganhar um presente. _Eu não esperava por isso, calma, que eu vou me controlar!

_Vai ser meu primeiro encontro, não sei muito bem como funciona! _Falo meio tímida diante da sua animação.

_Vai ser o melhor encontro da sua vida. Eu assistir vários filmes de romance, sei tudo sobre encontros! _Ele diz brincalhão.

_Seus adversários vão ficar chocados em saber desse seu segredo, Lobo!

_Será um segredo nosso, Caçadora! _Ele me beija a testa e afaga meus cabelos. E eu sinto meu corpo exausto. _Pode dormir, baby. Vou estar aqui.

_Acho melhor ir para o sofá, não quero te machucar de novo! _Sussurro. Mas, meu desejo é ter seus braços envolta de mim, me protegendo.

_Não vai me machucar, dormimos juntos e não me machucou. Se quer teve um pesadelo. _Ele me traz para mais perto de si deitando a minha cabeça em seu peito. _Vou proteger seu sono. _Ele diz me fazendo carinho e permanecemos em um silencio agradável.

_Meu anjo protetor. _Sussurro antes de cair no sono, segura de que com nos braços de Felipe, meus demônios não podem me pegar. 




Aí está a razão da Martina ser ter relutante em relação ao Felipe. Esse tipo de trauma acarreta diversos bloqueios emocionais nas vitimas. Pessoas vitimas de abuso precisam de amor, compreensão, acolhimento e justiça. 

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Martina- Série Irmãos Valente (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora