Sentir

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Dakota Creed

Desço as escadas silenciosamente apenas para descobrir que já tem alguém acordado, observo atentamente que Tyler está escrevendo algo em um caderno meio velho.

Ele percebe que estou por perto e fecha rapidamente, aponto com o queixo para a geladeira e abro distraída. Não quero atrapalhar ele com o que quer que seja.

-Seis anos atrás. Quem fazia os trabalhos?- ele pergunta e o observo.- Sempre tem um preferido, não?

-Sim.- assinto devolvendo a água para a geladeira.- Era um cara chamado Boris, preferido de Ralph.

-E o que aconteceu com ele?- Tyler tem um olhar sombrio.

-Ralph o matou.- explico.- Ele quis trocar de comando e...as coisas não acabaram bem.

-Desculpe pela forma como tenho tratado você.- ele abaixa a cabeça.- Só quero achar Ralph.

-O que aconteceu?- pergunto e ele fica atento.- Se você quiser me contar, claro.

-Eu estava fora da cidade, resolvendo algo relacionado a um carregamento.- ele explica.- De alguma forma os dois acharam que eu mandei mensagem para eles e entraram em um carro juntos para checarem se eu estava bem.

-Ah.- eu logo percebo.- Sinto muito.

-Não é culpa sua.- ele fala isso como se estivesse com raiva.

Mas eu não o culpo, perder duas pessoas que ama de uma vez...não tinha ninguém para amar, mas devia ser difícil. Abaixo minha cabeça cruzo os braços.

-Foi deixada em uma caçamba de lixo aos dois dias de nascimento.- falo e ele me olha surpreso.- Isso foi o que Ralph falou.

-Como assim?- ele pergunta interessado.

Me sento na frente dele e percebo que estou fazendo igual uma das meninas de onde eu morava, ela ficava fofocando com as outras enquanto eu treinava.

-Eu pesquisei o dia e ano do meu nascimento.- explico.- Não tem nada.

-Ele pode ter apagado.- explica.

-Pode, mas ainda acho estranho.- coloco o cabelo atrás da orelha.- Enfim, era só para dizer que....

Não consigo encontrar palavras, não sem nem porque falei com ele sobre isso. Acho que quis falar algo pessoal já que ele também tinha falado algo bem pessoal.

-Obrigado, Dakota.- ele toca meu ombro e recolhe as coisas.

Tento sorrir e enquanto ele vai se afastando franzo as sobrancelhas, sinto que pouco a pouco estou conquistando um lugar aqui dentro. Mas ainda não sou de dentro de verdade.

Não sei quanto tempo fico pensando, parece tempo o bastante para alguém descer e eu ouvir o assovio de Judith, ela vem até mim e acaricia minhas costas.

-Está tudo bem?- pergunta.

-Sim.- assinto rapidamente.- Me distrai.

-Ok.- ela tenta ficar em uma pose descontraída.- Então...você e o Chris...

-Chris?- finjo não saber.

-Sim, o meu neto...alto, olhos azuis.- ela sorri e eu mordo o lábio.- Sei que vocês tem algo.

-Não é nada.- balanço a cabeça.

-Ah, tá.- ela ri.- Chris não é nada, Dakota.

Fico não por ter falado assim.

-Ele é doce e diferente dos outros.- ela explica.- Pra ele nunca é nada.

-O que eu deveria dizer?- franzo as sobrancelhas.- Nunca fui permitida....- toco meu peito.- Judith, eu não sei o que sentir.

Família e Honra - 4° Geração 01Onde histórias criam vida. Descubra agora