Capítulo XXIX

1.6K 185 29
                                    

O frescor do crepúsculo trouxe o alento que Safira tanto esperava. Caminhou calmamente até o banco de concreto frio que ficava em baixo de uma cerejeira repleta de flores, o mesmo da noite em que estivera com Charles no jardim. O aroma ali era doce e suave exatamente como deveria estar no início de uma primavera londrina.

- Espero que não esteja pensando em fugir - a brisa trouxe a voz de Charles até ela em tom de sussurro.

Safira se virou para o homem esguio atrás dela. As sombras das arvores dançavam em seu rosto, tornando cada contorno ainda mais atraente aos olhos dela.

- Eu nem sonharia - respondeu ela sorrindo e se sentando no banco - Espero que não esteja me seguindo milorde - acrescentou ela despretensiosa, sabendo que era exatamente o que esperava.

Charles caminhou até ela sem desviar o olhar. Ao contemplar a cena Safira só pode pensar em quanto o equilíbrio dele era impecável, mesmo com a dificuldade em andar e a ausência de luminosidade noturna. Safira sempre precisava ter os olhos bem atentos ao seu caminhar e mesmo assim não conseguia evitar alguns tropeços.

- Lamento não corresponder suas expectativas dessa vez - respondeu ele se sentando ao seu lado - Precisava respirar um pouco ou enlouqueceria naquele salão - mesmo com a pouca luz Safira percebeu a verdade que transbordava em seu olhar.

- Somos tão parecidos... - O lábio de Safira se inclinou em um sorriso enquanto ela sentia algo terno dentro de si.

Subitamente a expressão doce de Charles se transformou em raiva.

- Não me diga que George... - os batimentos cardíacos dele aceleraram.

- Não - apaziguou ela rapidamente - Ele foi impertinente como uma criança mimada... Um tanto cruel devo dizer, mas não fez nada grave.

Os ombros de Charles voltaram para seu lugar abandonando a postura tensa que assumiram a pouco.

- Eu só precisava de um pouco de solidão, o que era impossível de conseguir lá dentro - continuou ela diante do silêncio que se estendeu. Seu olhar estava perdido em algum ponto distante no gramado.

- Deveria saber o quão perigoso é se aventurar em um jardim escuro durante um baile cheio de homens Safira... - a forma como seu nome fora pronunciado chamou sua atenção para ele novamente.

- Acredite, eu sei o quanto é perigoso... - seus olhos faiscaram para ele. Charles soube do que ela estava se lembrando - Eu deveria temer...

Safira se aproximava lentamente, outra rajada de vento os atingiu trazendo o perfume delicioso de Charles até ela, enfeitiçando-a.

- Muito - completou ele encurtando ainda mais a distância entre eles.

- Que sorte a minha ter alguém como você para me proteger, não é mesmo? - Seus lábios encostavam nos dele enquanto pronunciava vagarosamente cada palavra.

O roçar dos lábios dela nos dele eram uma sensação única, o sabor do desejo irremediável era viciante e Charles precisou toma-la nos braços de uma maneira pouco cavalheiresca com medo de que se Safira se afastasse ele pudesse morrer ali mesmo.

- Não deveria se sentir tão segura assim... - sussurrou ele provando da pele salgada de seu pescoço.

- Mas sinto. - era impossível tê-lo tão perto e provar de uma sensação divergente... proteção, amor, paixão, excitação... todas aquelas palavras descreviam perfeitamente as sensações que Safira experimentava naquele momento.

A mão de Charles deslizou pela superfície enluvada dos dedos dela chegando até o pulso, logo encontrou a pele cor de pêssego, nua e macia do braço dela provocando uma descarga elétrica e aumentando a energia que fluía tão rapidamente entre eles. Continuando seu percurso, ele sentiu os dedos passearem suavemente pela manga sedosa do vestido até chegarem ao seu destino: a borda do decote.

- Ah céus - ofegou ele enquanto Safira mordiscava o lábio inferior dele com delicadeza.

- Está... tudo bem? - perguntou ela arfando diante do toque dele em seu pescoço.

- Eu... Ah Safira... está cada vez mais difícil para mim... - ele a puxou para cima dele pressionando o quadril dela no local de onde provinha toda aquela angústia.

Safira se viu incapaz de formular qualquer frase coerente ao sentir um aperto no meio de suas pernas.

- Eu preciso de tanto de você... não consigo mais esperar... - ele precisou unir forças para separar seus lábios e encarar aquele lindo rosto - Eu vou cumprir a promessa que fiz a você. Vou terminar este noivado, vou me casar com você e finalmente me livrar dessa agonia de não poder tê-la por completo.

Agora observando-o atentamente Safira parecia tão pura, com seus lábios avermelhados e olhos redondos semelhantes aos de uma coruja...

- Você já me tem por completo, querido... - as mãos delicadas dela passearam carinhosamente pelo maxilar tenso dele.

- Você não entende... - Charles brincou com uma mecha de cabelo que se desprendia do seu penteado antes de arrumá-la atrás das pedras de Safira na orelha dela. - Eu preciso terminar isto... ou em breve terei que ser internado em um manicômio.

- Terminar? - perguntou ela - Então tem mais disso?

Charles sorriu em resposta, um sorriso que esbanjava malicia, mas também possuía um toque de veneração. Até mesmo quando ela estava sendo tão ingênua ele ainda a considerava a mulher mais sedutora de toda a Inglaterra... ele já tivera tantas mulheres em seus braços, mas nunca uma como aquela.

- Muito mais querida - sussurrou ele mordiscando o lóbulo da orelha dela enquanto sua mão deslizava pelo vestido apertando-a de uma maneira nada sutil ao se alojar no meio de suas pernas - Estou ansioso para lhe mostrar tudo o que pode ser feito entre um homem e uma mulher entre quatro paredes.

- Estou curiosa para entender o que está falando.

- Não esteja, depois que começa você não deseja parar, é um inferno - a mão dele permanecia em seu íntimo.

- É tão ruim assim?

- É maravilhoso - respondeu ele provocando-a ainda mais.

Charles sabia que ela era virgem, intocada, a não ser por ele... mas percebeu com uma dose de divertimento que ele também era virgem antes de conhece-la... de amor e de todas as sensações que somente Safira fora capaz de despertar nele, naquele momento poderia ser tão ingênuo quanto a dama em seus braços.

- Charles, nós precisamos voltar - Safira se contorceu em cima dele e mordeu o lábio inferior tentando conter um gemido.

Charles suspirou descontente e a beijou carinhosamente uma última vez antes de ajudá-la a se levantar.

Após certificar-se que estava totalmente apresentável Safira se virou para a mansão escondida entre o labirinto de sebes do jardim.

- Safira – a voz fraca de Charles a chamou.

- Sim? – ela voltou seu olhar para o homem que amava com cada fibra do seu ser.

- Ao retornar para dentro chamarei a atenção de todos e farei um discurso – ele foi até ela e segurou sua mão - Não sei como isso vai ser, mas preciso que saiba que tudo é parte do plano, preciso assegurar isso para que não haja algum mal-entendido entre nós.

Safira apenas sorriu esperançosa.

- Até logo... milorde - murmurou ela desejando ficar ali para sempre.

Charles a puxou novamente para si.

- Eu te amo Safira.

Com a mão acariciando seu peitoral Safira inclinou a cabeça para encontrar o olhar mais terno que alguém já destinara a ela.

- Eu também o amo Charles - o sorriso largo era um reflexo de tudo que se passava em seu coração.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora