Naquela manhã Safira, pela primeira vez ficou olhando para o teto, sem se importar em levantar-se e procurar algo de útil para fazer em Fretcher Hall, até porque ainda era muito cedo. Apenas de limitou a pensar... O que talvez fora um erro, pois seus pensamentos - que até então estavam focados apenas na ardência de seus ferimentos - foram direcionados para Charles e de súbito seu quase primeiro beijo.
Safira fechou os olhos — e como se fosse real — pôde sentir novamente as mãos de Charles em suas costas a pressionando para mais perto, enquanto sua respiração ofegante passava por seus lábios, insinuando que iria beijá-la a qualquer momento... Jogando o braço em cima dos olhos Safira respirou fundo, e se lembrou perfeitamente das palavras de Charles:
"— O que eu quero dizer é que eu não posso beijá-la" É claro que não! - pensou ela - Charles era noivo da sua irmã gostasse ele ou não!
Mas é óbvio que a mente de Safira fora traiçoeira o bastante para fazê-la pensar em como seria um beijo — principalmente com aquele homem sendo o seu parceiro, imaginou que ele a beijaria da mesma forma que fazia tudo: Intensamente. Gemendo baixinho ao morder os lábios e se censurar mentalmente, Safira iria seguir disposta a não sair da cama tão cedo quando se levantou ao ouvir um choro baixinho, que parecia vir do corredor.
Calçou as pantufas confortáveis que a criada deixara em seu quarto na noite anterior e vestiu um robe para cobrir seus trajes noturnos, por certo quem estava em prantos não se importaria em vê-la vestida daquela forma.
Enfiou a cabeça pelo vão da porta para espiar o corredor que ainda estava mal iluminado. Ao longe viu um homem encolhido num canto sombrio entre a porta do quarto de Charles e um vaso de flores murchas.
— Quem está aí? – sussurrou.
Os suspiros imediatamente cessaram e o homem se levantou trazendo seu rosto a meia luz que entrava pela janela.
Fischer.
— Milady, o que faz acordada tão cedo? – perguntou com a voz embargada esfregando as mãos nos olhos.
— Vim ver o que está acontecendo aqui — disse se aproximando com cautela.
— Oh, perdão se a acordei.
— Não há nada – Safira estende um lenço a ele, que aceita com as bochechas coradas. Homens pareciam nunca apreciar o ato de parecer vulnerável na frente de uma dama.
— Obrigado – respondeu assoando o nariz.
— O que aconteceu, Fischer? – perguntou preocupada.
— Minha mãe senhorita... Acabo de receber uma carta informando sua morte.
Safira levou a mão à boca.
— Minhas condolências.
Fischer apenas assentiu.
— O senhor precisa de algo? Um pouco de água talvez? – sugeriu ela mesmo sabendo que nada seria capaz de aplacar aquela dor que ele estava sentindo.
O mordomo dispensou a ajuda com um gesto e sorriu tristemente ao dizer:
— A senhorita é mesmo muito generosa de oferecer ajuda a um criado... Ficaria feliz se um dia se tornasse a senhora desta casa.
Safira não esperava por aquele comentário.
— O que o senhor quer dizer?
— Que tudo seria melhor se fosse a senhorita a se casar com Charles.
Safira sentiu seu rosto arder em chamas e sabia que Fischer havia notado. Tentou falar algo mas sua voz havia sumido. Após um minuto de silêncio finalmente conseguira se recuperar de seu desconcerto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1
RomansaSéculo XIX Após uma tempestade que inundou toda a Inglaterra Londrina, a vida de Charles Fretcher mudou drasticamente quando a carruagem em que se encontrava despencou numa ribanceira e uma de suas pernas fora esmagada por uma roda que se desprendeu...