Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1

Capítulo LII

A brisa roçava delicadamente nas maçãs do rosto de Safira como se dessem boas-vindas à futura condessa de Wiltshire. O véu negro noturno encobria praticamente tudo ao seu redor, no entanto as muitas velas espalhadas no entorno da residência tornavam possível o vislumbre daquela bela propriedade doada pelo atual conde ao jovem casal.

Safira simpatizara muito com seu novo lar e agora caminhava vagarosamente em um caminho de pedras rodeado por arbustos muito bem podados, absorvendo cada detalhe que fosse possível. A construção a sua frete era imponente - por consequência dos dois andares que possuía – tinha um aspecto elegante - em razão das grandes janelas de vidro presentes no primeiro andar e ás delicadas janelas de madeira dos incontáveis aposentos que possuía - ao passo que também poderia ser considerada singela e acolhedora devido ás suas paredes que tinham os tijolos à mostra. Era a aparência perfeita para seu novo lar, um deles, visto que o conde também passara para Charles – depois de muita insistência do filho - sua propriedade no condado de Wiltshire na qual eles deveriam passar a maior parte do ano. Mesmo assim Safira sabia que teria um apreço muito especial por este lugar, que mais tarde ela viria a denominar como "Seu refúgio em Hampshire".

Para Charles, era uma verdadeira nostalgia voltar a pisar naquele lugar, que ele considerava o seu favorito no mundo, onde passava boa parte das férias escolares e tivera inúmeras aventuras ao lado de seu melhor amigo Henry Huttleford, o qual ele não via desde que a esposa do mesmo falecera, numa época muito próxima à de seu acidente.

Ao adentrarem na residência Safira percebeu o quanto se sentiria confortável ali, haviam luxos e confortos, mas nenhuma extravagância, era assim que ela planejava que fossem as propriedades de sua família. Charles subira as escadas acompanhado de sua esposa e apoiado em sua bengala, sentia um leve desconforto em sua perna em razão das inúmeras horas que passara de pé, mas nada capaz de desmanchar seu semblante sereno ou sequer impeli-lo a fazer alguma queixa. Safira diminuiu o passo à medida em que chegou ao topo da escada e avistou um grande quadro da falecida condessa, de proporções semelhantes ao que havia em Fretcher Hall, mas neste a mulher estava com um semblante mais jovial e ainda mais radiante, sentada em uma cadeira, olhando em direção à janela enquanto as mãos estavam depositadas delicadamente na superfície de sua barriga que exibia um notável volume.

Charles inclinou levemente a cabeça para o lado enquanto contemplava o retrato de sua mãe, a pintura totalmente fiel à lembrança que possuía a respeito do semblante dela.

- Este era o favorito – comentou – Ela parecia feliz.

- Não é difícil adivinhar o motivo. Estava carregando seu maior tesouro – Safira sorriu e recostou a cabeça em seu ombro, após um breve instante acrescentou – Ela era muito bonita.

Charles soltou um suspiro demorado, ao examiná-lo Safira percebeu que os olhos dele marejavam. Diante daquilo sentiu como se seu coração desse piruetas, céus ficar ao lado daquele homem despertava nela sensações tão intensas. Mentalmente ela enviou um alerta para seu coração: "A partir de agora essa será nossa rotina, o senhor trate de se fortalecer para suportar toda essa agitação sem fim".

Safira acariciou o rosto do marido e o voltou para si. Depositou serenamente um beijo nos lábios dele. Estavam tão próximos que ela podia sentir o quanto o coração dele estava acelerado.

- Há tantas coisas que desejo lhe mostrar Safira! Muitas coisas de minha mãe estão guardadas aqui, as joias, seus livros, seus quadros... ela amava pintar, há inúmeros deles espalhados pela casa... Mesmo depois da sua morte, esse era meu lugar favorito para passar as férias escolares... – Charles começara a sentir que estava falando demais, quase semelhante ao que Vincent fazia – Sei que você irá amar conhecer tudo isso, mas... – ele apertou ainda mais a cintura da jovem dama – Acho que podemos falar sobre isso amanhã.