Capítulo XV

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Mesmo com a luz fraca das velas, Charles reparou com atenção no vestido de Safira. Era azul, a cor combinava com ela. As curvas visíveis ficavam delineadas pelo tecido de marfim, com as mangas longas e as rendas no final de cada uma. A saia era volumosa e cobria os pés — ele sabia que ela estaria de botas - Porém o que chamou atenção mesmo foi o decote quadrado, mostrava tudo que queria ver, sem vulgaridade, combinava perfeitamente com Safira. Estava bela, de uma maneira enlouquecedora.

Charles sabia que o fato de seu nome ser o mesmo de uma joia não poderia ser mera coincidência, a diferença entre as duas era que a pedra era facilmente lapidada, já Safira jamais poderia ser, por mais que a sociedade insistisse. Pela visão comum e medíocre das pessoas ela era vista como uma joia imperfeita, por isso nunca era tirada para dançar, nunca ganhara flores ou fora beijada por um homem. Quantas Safiras existiam por aí? Charles amaldiçoou-se, pois de súbito se lembrou de algumas moças, o semblante delas sendo um borrão em sua mente, sentadas sozinhas nos cantos em alguns bailes que ele frequentava. Entendeu o quão idiota a maioria dos homens era – e ele se incluía - por ignorar aquelas mulheres, talvez por medo. Agora tinha consciência do quão interessantes poderiam ser.

Safira sentou-se ereta á duas cadeiras de distância dele, enquanto Adelaide lamentavelmente assumiu o posto ao seu lado, não se dando ao trabalho de cumprimentá-lo, assim como ele não fez questão nenhuma de fazer o mesmo.
Os olhos de Charles correram novamente para Safira, aparentava inquietude, seus dedos passeavam distraidamente sobre a borda do prato com detalhes talhados em ouro. Charles podia jurar que ela estava evitando encará-lo, via isso no modo como as bochechas dela estavam levemente coradas sob o olhar nada discreto que ele lhe lançava.
Mais cedo ela havia estado em seus aposentos, logo após a discussão dele com o pai, perguntando se Charles precisava de algo, e ele apenas lhe ofereceu um grotesco "não" como resposta. Arrependeu-se naquele exato instante em que Safira fechou a porta com um baque ensurdecedor, sabia que não precisava ter sido tão rude, um "não, obrigado" não o teria matado. Mas ele era um ogro! O restante do dia não havia mais a visto, a dama não fizera nem mesmo questão de servir seu almoço, apenas enviou um criado para fazê-lo – e agora estava a evitá-lo.

Por um breve momento após todos serem servidos tudo que se podia ouvir era o tilintar dos talheres e a respiração dos ali presentes. Adelaide apenas encarava a comida, não sentia fome, tudo que queria era retirar-se dali, talvez era o que todos – com exceção de Elliot que parecia levemente satisfeito – desejavam.

— Bem... – começou o conde para o desagrado de todos — Já podem imaginar o porquê exigi a presença de vocês nesse jantar...

Sem nenhum motivo especial Elliot fez uma pausa dramática, e logo continuou sem olhar para alguém em especificamente:

— Quero falar sobre o enlace de meu filho Charles com a adorável Adelaide.

Safira se remexeu desconfortável na cadeira e tomou um grande gole do vinho que um empregado acabara de colocar em sua taça.

— Oh, que pena achei que iríamos falar sobre o clima, ou quem sabe o último ganhador de apostadores de cavalos — Charles ironizou levantando a taça de vinho e colocando com rudeza mesa novamente.

— Sinto de todo coração por estragar suas expectativas quanto ao rumo da conversa, meu filho — Elliot sorriu irônico.

Charles fez uma careta olhando para o prato vazio. Adelaide bateu os dedos impaciente na mesa e logo levantou a cabeça perguntando:

— Se me permite milorde, o assunto que o senhor deseja abordar com esse jantar não é surpresa para nenhum de nós... Me perdoe pela indelicadeza, mas poderia ir direto ao ponto sem rodeios?

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora