Capítulo XXXVI

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Tia Lucy, astuta como era, conseguiu acionar um médico antes que qualquer um da casa pudesse desconfiar. Doutor Ernest Cooper examinava o corpo de Adelaide com suas mãos frias quando apenas constatou o que era óbvio para todas ali:

- Ela está grávida – falou para tia Lucy – Provavelmente de duas ou três semanas – encarou Adelaide por cima de seus óculos antigos com um olhar de reprovação.

- A moça está perfeitamente saudável – disse enquanto vestia novamente seu casaco e ajeitava a cartola na cabeça – As recomendações são que repouse corretamente, mantenha uma alimentação saudável e que evite stress e situações que envolvam perigo ao embrião. Agendarei visitas regulares para monitorar a gravidez. Por enquanto é só, com licença senhoritas. Milady – levantou a cartola para Lucinda, que fez uma reverência.

- Estou muito agradecida pela sua visita doutor. Gostaria de pedir que mantivesse sigilo sobre.

O homem voltou seu olhar para Adelaide

- Não sou de sair por ai comentando a desgraça alheia.

Adelaide ficou chocada com tamanha grosseria.

- É claro que não – Lucinda forçava um sorriso simpático – Já volto meninas, vou acompanhar o doutor Cooper até a porta.

O homem saiu sem ao menos se despedir de sua paciente.

- Que homem arrogante! – exclamou Adelaide.

- É com essa arrogância que muitas pessoas te tratarão a partir de agora – Safira se sentou ao lado da irmã – As pessoas não tem o direito de ser grosseiras com você por não ter a conduta que a sociedade rotula como respeitável, mas mesmo assim o farão e algumas serão ainda mais cruéis tanto em atitudes como em palavras, para o seu bem, é melhor que aprenda a lidar com isso.

Adelaide concordou com a cabeça.

- Acho que agora posso compreender um pouco do que Charles passa – comentou ela tentando conter o choro, mas não resistiu e caiu em prantos no colo da irmã, molhando a saia do vestido com lágrimas que beiravam o desespero.

Safira se manteve ali até que os soluços cessaram e Adelaide adormecera em seu colo como uma criança nos braços de sua mãe. Decidiu que ao menos por enquanto não contaria nada do que sabia a respeito de seu pai para a irmã, a pobrezinha ainda teria muitas tempestades para enfrentar.

Seus dedos passeavam pelo cabelo liso, vez ou outra brincando com uma das mechas douradas a voz de Safira cantava em tom de sussurro uma cantiga suave, apesar de conseguir acalmar a irmã, ela não obteve o mesmo sucesso consigo mesma. Charles sempre elogiava sua maneira de ser, leve e descontraída, ela também gostava de ser quem era, porém, naquele momento desejava ser qualquer outra pessoa. Tinha um pai mafioso e uma irmã que estava grávida, e ela... ah ela só queria ser feliz ao lado do homem que amava. O universo lhe parecia mesquinho e muito perverso mesmo, talvez se pedisse algo de menor valor sentimental e maior valor material ele tivesse um pouco de compaixão com ela.

. . .

Naquela manhã, Charles se levantou esperançoso. Assim que o mordomo adentrou em seu quarto ele ordenou:

- Ande, abra logo essas janelas e me conte o que descobriu.

Fischer parecia mais lento que o normal, como se retardasse o que tinha para contar.

- Então? – perguntou Charles curioso.

O mordomo gostou de ver seu patrão naquele estado de espírito, por um momento se sentiu tentado a contar, mas lembrou da promessa que fizera á Safira e se calou.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora