Capítulo II

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- Ainda não acredito que estou fazendo isso - Adelaide comentou deslizando a mão pelo vestido de seda azul que usava.

Safira a olhou enquanto pintava os lábios com uma tonalidade levemente avermelhada. Adelaide, apesar do cruel julgamento que havia feito sobre seu pretendente, era uma pessoa de boa índole e merecia ser feliz em seu casamento. Ela entendia a angústia da irmã, afinal já ouvira os piores boatos que corriam por toda Londres sobre o tal Charles Fretcher, alguns diziam que seu rosto havia ficado mutilado pelo acidente, outros que ele mal conseguia tomar um banho decente, que era incrivelmente rude, e por aí se estendia. Mas Safira compreendia que as pessoas adoravam uma fofoca.

- Minha irmã - ela se levantou e apertou as mãos trêmulas de Adelaide - Fique calma - sussurrou com a voz serena - é apenas um jantar para vocês serem apresentados, caso ele seja um completo patife, daremos um jeito e eu importunarei papai até que ele mude de ideia.

- Não sei o que faria sem você querida - Adelaide abraçou a irmã.

Apesar de não ser o tipo de pessoa que demonstra o que sente, Adelaide gostava de pensar em Safira como sua base de sustentação, quem sempre estaria com ela quando precisasse.

- Você está radiante - comentou assim que se desgrudou da irmã para melhor observá-la, ela escolhera um vestido da cor vinho que contrastava com sua pele clara e os cabelos negros ondulados.

- Obrigada - Respondeu Safira com um brilho reluzente no olhar.

Adelaide não entendia como nenhum cavalheiro ainda não pedira a mão da irmã em casamento, ela era tão bela!

- Cuidado ou os olhos de Charles podem se voltar para você senhorita Cadwell! - ela riu baixinho ao ver as bochechas da irmã corarem.

Mansão Fretcher

Fischer parecia uma gazela falante, não parava de tagarelar, parecia mais ansioso que todos por aquele jantar - talvez pensasse que aquela seria sua deixa para se libertar de suas responsabilidades com Charles.

Charles por sua vez começava a se irritar. Desejava que a futura esposa fosse pouco falante, na verdade muda, ou melhor: que nem existisse.

Talvez se a importuna-se um pouco - pensou ele - a tal moça não o aguentaria e desistiria do casamento. Pronto! Perfeito! Era o que iria fazer, dentro do limite que o respeito lhe permitisse.

O mordomo só parou de tagarelar quando Charles ameaçou fazê-lo engolir o travesseiro caso não parasse com aquele falatório. Após silenciar-se Fischer começou a andar de um lado para outro roendo as unhas.

- Por Deus Fischer pare quieto! É apenas um jantar.

- Se tratando do senhor sei que não se trata de "apenas" um jantar e sim um espetáculo de ironias.

O homem revirou os olhos.

- Fique tranquilo lhe garanto que a tratarei com o devido respeito.

Apesar de ser um digno rabugento Charles ainda tinha uma parcela de honra que jamais lhe permitiria faltar com respeito à uma mulher. Ele olhou para o relógio e soltou um gemido baixinho, já passavam das seis e já deveria estar se aprontando.

- Está na hora do meu banho - descobriu as pernas e arrastou o corpo para fora da cama, com ajuda de suas muletas.

- Precisa de ajuda senhor?

- Acho que ainda me resta um pouco de dignidade Fischer - resmungou - Posso tomar um banho sozinho - lançou um olhar desaprovador e o mordomo apenas assentiu.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora