Capítulo XLIII

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Safira passou a ouvir a conversa com um nítido interesse.

- Está tudo bem senhorita Adelaide? – Perguntou George com uma preocupação que obviamente não possuía.

Adelaide se limitou a acenar com a cabeça num gesto afirmativo, seus olhos se mantinham baixos e as bochechas coradas.

- Oh o doutor Cooper? – a voz de Eliott preencheu o ambiente – Não sabia que vocês se conheciam.

Charles franziu o cenho tentando compreender o rumo daquela conversa.

- Ele é um médico bastante competente – pontuou Edmund casualmente – Creio que tenha aprendido o ofício com tamanha excelência com seu pai, o falecido doutor Gerard Cooper.

- Com certeza – comentou George separando algumas ervilhas que estavam em seu prato, detestava o gosto dela.

- Doutor Gerard Cooper – Eliott deixou o nome pairando no ar – Também o conheci, um homem de caráter excepcional.

Charles emitiu um murmúrio de desdém que fora ouvido por todos. Seu pai o encarou furioso, mas não disse uma palavra. Era óbvio que quando o conde elogiava a índole de alguém, esta simultaneamente se tornava questionável. Charles conhecia bem a fama daquela família, os modos arrogantes e nada românticos com que tratavam suas mulheres nos eventos sociais nos poucos eventos sociais em que os encontrara só deixaram claro que se tratavam apenas de outros membros desprezíveis da alta sociedade londrina.

- Fora ele, o falecido doutor Cooper, que salvara minha pequena Safira quando viemos residir em Londres – Disse Edmund retomando o assunto após o breve silêncio que reinou naquele ambiente – Ela estava tão frágil, não teria resistido sem os cuidados dele – Seu olhar terno se voltou para Safira, que estava sentada ao seu lado. A mesma deu um sorriso acanhado quando os olhares se voltaram para ela.

Talvez, em outra ocasião, quando não tinha conhecimento dos feitos ilícitos do pai, ela acreditasse na afeição dele, mas eram duas coisas impossíveis de serem conciliadas: o conhecimento da verdade e ter alguma confiança nele.

- Não o vejo há anos – foi a vez de Eliott falar - Costumávamos jogar juntos quando nos encontrávamos no clube. Como ele está?

- Está muito bem – respondeu George limpando o canto da boca com um guardanapo – Me surpreende que não o veja há muito tempo.

Adelaide estremeceu e fechou os olhos. Edmund se virou para a filha mais velha.

- Está tudo bem querida?

Novamente todos os olhares se direcionaram para ela. Aquilo não poderia estar acontecendo, ela repetia para si mesma já prevendo o fim daquela conversa aparentemente despretensiosa do senhor Fernsby.

- Está sim – ela abriu os olhos e lançou um olhar suplicante para George, estava óbvio que ele descobrira de sua gravidez e pretendia expor o assunto naquele jantar infeliz. O motivo ela não compreendia, visto que não havia feito nada para aquele homem. Se dera conta tarde demais da crueldade dele. "Tola, tola, tola" - sua mente formulava.

Todos rapidamente julgaram que ela estava bem e retornaram ao rumo da conversa.

- E por que isto o surpreenderia? – perguntou o conde que estava prestando bastante atenção a tudo o que o sobrinho dizia.

Charles, que não era nenhum tolo, imediatamente ligara a conversa e a reação de Adelaide. Ele sabia o que aquilo significava, e se as intenções de George eram mesmo as que ele supunha, ele era um ordinário, inescrupuloso. Charles cerrou os punhos, Lucinda observou a reação do sobrinho já prevendo o que viria a seguir.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora