Assim que Charles se virou para encarar o pai que murmurou algo, Safira balançou a cabeça bruscamente na intenção de libertar-se daqueles devaneios perversos. Aquele homem estava prometido a sua irmã e ela imaginando como seria ser tocada por aqueles lábios, os mesmos que trocaram sua luva há pouco, só que desta vez na boca. Por Deus! Onde havia ficado sua sensatez? Certamente havia a perdido no momento em que cruzou o olhar com o do futuro conde.
Isso a assustava, mas decerto ele causava aquele impacto nas mulheres.
•••
Se o houvessem perguntado, Charles sem dúvida alguma responderia que não, não consideraria deparar-se com uma mulher tão bela. Quem diria então duas mulheres de tamanha formosura. Ele estaria mentindo se não afirmasse com certeza que a beleza de Adelaide era estonteante, com os olhos mais verdes que ele já vira, os cabelos claros levemente encaracolados, usava um vestido de seda azul que contrastava com sua pele branca, mas que não poderia se nivelar ao encanto da irmã, a sutileza e graciosidade nas feições de Safira - um nome que, como observou, caia muito bem a moça, nobre e com sonoridade intensa - eram exorbitantes. Algo nela o deixara curioso e ele não pôde evitar que seus olhos se cravassem naquela dama delicada e ao mesmo tempo sedutora. Era pouco mais baixa que a loira, tinha os olhos grandes e escuros assim como os dele, a diferença era que os dela exibiam uma luminosidade que os dele perderam há muito. A pele que cobria suas maçãs era levemente rosada com algumas sardas, e os lábios, ah, aqueles lábios carnudos e avermelhados eram plenamente convidativos e sensuais, fazendo-o por uma pequena fração de tempo esquecer-se de tudo e se perguntar como seria a sensação de como seria tocá-los. Os cabelos grossos e negros estavam presos em um penteado elegante em sua nuca, com a exceção de uma única mecha ondulada que descansava sob a pele de seu rosto de um jeito encantador e terminava no corpete de seu vestido da cor vinho, ele não pode evitar que seu olhar se afundasse no decote discreto, no entanto, atrativo do mesmo.
Ela o cativara, e céus! Quando uma mulher o cativava - o que não acontecia com frequência, já que a maioria das jovens que frequentavam os bailes e recitais da alta sociedade eram burras como uma porta - ele ia até o fim para conquistá-la. Se a tivesse conhecido em um evento social, certamente uma conversa agradável com ela terminaria em Charles desmanchando com os dedos seu elegante penteado e libertando seus longos cabelos.
Mas não poderia. Nunca poderia.
Charles esperava que ninguém estivesse observando a careta que ele fez assim que Adelaide se apresentou com um sorriso escrachado no rosto. Ele desejou, ah como pediu aos céus, que Safira fosse a tal Adelaide, a mulher que o pai tanto lhe falara a respeito nos últimos dias... Ela parecia tão pura, com aquele olhar de criança, não o olhava de cima a baixo como sua futura noiva fizera no instante em que ele pisara naquele cômodo, mesmo que tenha tentado ser discreta - com o tempo Charles havia aprendido a dominar a habilidade de perceber os olhares à sua volta. Mas Safira, ela o olhava de um jeito doce, desprovida de maldade, o encarava como se fosse normal, e ele sabia... Como sabia que estava longe disto, "normal" era algo que nunca voltaria a ser! A benevolência daquela jovem o fez ter a estranha sensação que seu estomago se reprimia e algo caloroso se acendia dentro dele.
Finalmente Eliott chamou a atenção de todos para que se acomodassem, Charles se sentou na cadeira entre seu pai e Adelaide.
Um silêncio pesado reinou entre os ali presentes.
Alguns minutos depois Fischer, o mordomo, apareceu trazendo cinco taças equilibradas em uma bandeja acima dos ombros e uma garrafa de vinho tinto nas mãos. Exceto pelo tilintar das taças o silêncio ainda perdurava, ouvia-se apenas o barulho do liquido sendo derramado em cada uma delas.
Quando se encontrava cansado daquele silêncio, Elliot resolveu começar um assunto.
- Diga-me Edmund, soube que o comercio não está em seus melhores dias.
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Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1
RomansaSéculo XIX Após uma tempestade que inundou toda a Inglaterra Londrina, a vida de Charles Fretcher mudou drasticamente quando a carruagem em que se encontrava despencou numa ribanceira e uma de suas pernas fora esmagada por uma roda que se desprendeu...