Capítulo XVIII

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Adelaide suspirou sentindo a brisa quente da janela com aquele aroma vespertino esvoaçar alguns fios de cabelo dourado que se desprendiam do seu coque. Desviou o olhar para seus aposentos, agora mergulhados em um silêncio absoluto, quase aconchegante, imerso nas sombras exceto pela luz fraca proveniente do sol que se punha entre os vales muito distante dali.

Não se preocupou em acender uma vela, queria – ao menos por um momento – observar a calada da noite se aproximando, serena, solitária, assim como ela se sentia. Não estava atormentada, apenas sentia uma tristeza em seu âmago... seu dia se resumira em provas de vestidos, apertos, discussões a respeito de penteados. Ela jamais seria hipócrita de dizer que não gostava de toda aquela atenção, mas... Sempre existia um porém não é mesmo? Sentira-se ligeiramente enjoada quando a senhora Leminsk lhe dissera com bastante "sutileza" que Adelaide deveria urgentemente controlar a boca até o casamento, do contrário até lá estaria com a aparência de uma morsa.

Adelaide se olhou no espelho.

– Não entendo o que está errado – retorquiu com irritação o ultraje.

A modista tirou todas as suas medidas novamente lhe mostrando todos os números desenfreadamente, sempre acompanhados da frase: "Está vendo? O ideal é...". Sinceramente? Era por aquilo as mulheres deveriam passar? Adelaide sempre pensara que fora abençoada por estar dentro dos padrões impostos socialmente sem nem mesmo ter que se esforçar para tal, e agora vinha aquela senhora e lhe mostrava que tudo, absolutamente tudo a respeito de sua estética estava errado? Que audácia! Adelaide rira da atitude drástica de Safira ao sair do quarto, mas no fundo ela admirou a irmã por isso, Safira era autossuficiente, não se encaixava e nem desejava isso. Já Adelaide não tinha tanta certeza se poderia ser assim.

...

Um movimento a alguns metros de distância no gramado chamou sua atenção: O conde Eliot conversava com o cavalariço enquanto apreciava um pequeno potro puro sangue inglês que parecia estar sendo levado para o estábulo, deveria ser uma nova aquisição do conde ou algo do tipo, mas apesar do seu claro interesse por cavalos, naquele momento o que lhe prendeu a atenção dela não fora o pequeno filhote, e sim ele: Aaron. Seu coração quase pulara do peito, com tantos compromissos ela quase não lembrara dele, mas agora o vendo... Deus do céu, que os anjos a ajudassem.

O cavalariço havia mudado nas últimas semanas, estava com os cabelos mais curtos e parecia ainda mais forte. Adelaide resolveu acender uma vela e a levar a até o parapeito da janela, uma tática para – ao menos tentar – chamar a atenção dele.

Por Deus o que ela estava pensando? Safira fora bem clara com ela, e jamais desejaria desapontar sua irmã novamente então por que continuar com aquilo?

"Porque Aaron faz com que eu me sinta uma mulher verdadeira e sedutora". – Seu cérebro argumentou automaticamente. "Será que eu o amo?" – perguntou para si mesma.
Não sabia ao certo, mas sabia que ele a amava, certa vez ele até mesmo dissera aquilo: "Eu te amo Adelaide", ela se lembrava bem, essa fala fizera seu coração se sentir quentinho e feliz, acreditava naquilo! Pela primeira vez alguém – que não era sua amada irmã – gostava realmente dela.

Estava lutando para se manter afastada, mas...

Seus pensamentos cessaram. O conde se afastava com um sorriso no rosto, Aaron se virou para levar o cavalo ao estábulo, e neste percurso ele a notara. Céus. O homem fora atraído pela chama fraca da vela e a vira parada junto ao parapeito da janela, provavelmente não enxergava seu rosto, no entanto, mesmo ao longe Adelaide sentia seu olhar curioso direcionado para a figura dela. Ele se virou e ela percebeu que ele sorria. Ele sorria!!! Aquilo fora o suficiente para acabar com sua sanidade mental e mandar seu juízo para um lugar muito, mas muito distante. Seus pés se moveram sozinhos.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora