capitulo XVI

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Charles deitou-se em sua cama, mesmo sabendo que seria incapaz de dormir, ao menos naquela noite... Descera sentindo-se furioso, fora atrás de Safira apenas para certificar-se que ela estava segura, ou que não cometesse a loucura de fugir. É claro que ela não faria isso – pensou – por mais desnorteada que estivesse, Safira ainda era inteligente o bastante para saber dos riscos que correria... mas mesmo assim precisava certificar-se... precisava... não sabia ao certo, só que sentira uma preocupação quase paternal.

Então ele foi. E no momento em que a viu sua raiva se dissipou por completo. Então ela o beijou e... por Deus... Quando Charles fora atrás de Safira pensou que ele estaria a protegendo, que estaria ajudando a ela de alguma forma, mas naquele momento percebeu que o único que estava sendo salvo ali era ele. Como se finalmente algo dentro dele se encaixasse. Estava apaixonado, e que os céus o perdoassem, mas ele a possuiria ali mesmo naquele banco gélido, o luar sendo o único a testemunhar o desejo ardente e mútuo que existia entre eles... Afinal, ela o havia beijado! Isso deveria soar como um argumento plausível no dia de seu juízo final não é mesmo?

Charles enrijeceu-se na cama, seria uma longa e tortuosa noite. Fechou os olhos e teve seus pensamentos invadidos pela imagem libidinosa dela deitada no banco com os seios expostos... tinha a ligeira impressão que seria atormentado com aquilo em seus sonhos durante muito tempo, se não durante todo o resto de sua penosa vida.

Refletindo com mais clareza sentiu-se grato por alguma providência divina tê-los feito parar... Não seria o certo, não para ela. Charles nunca se perdoaria se tivesse a desonrado, não quando estava prestes a casar-se com a sua irmã. Safira merecia mais, merecia um homem a quem pudesse se entregar por inteiro. Sentiu uma grande pontada em sua perna em baixo dos lençóis, quase como um lembrete de que nunca voltaria a ser um homem completo... não com aquela bengala ridícula ao lado da sua cama, não com as dores que sentia... não, nunca.

...

As cortinas foram abertas, fazendo com que a luz do sol adentrasse preguiçosamente seus aposentos.

— Safira, não desejo vê-la, saia de meu quarto imediatamente – rosnou ele.

Seu humor estava péssimo, dormira muito pouco e por Deus seria tortuoso demais olhar para ela, vê-la em seu quarto quando a imagem da noite anterior ainda era tão recente em sua mente.

— Fico me perguntando o que há de ter acontecido entre vocês para que não deseje vê-la, justo a senhorita Cadwell, uma moça cuja companhia é tão agradável... – uma pequena risada ecoou do outro lado do quarto.

Charles descobriu a cabeça imediatamente, para encarar o mordomo com toda a raiva que sentia.

— Bom dia para o senhor também milorde – respondeu Fischer carregando uma bandeja até a cama – Trouxe seu desjejum.

Charles não pode ignorar uma pontada de decepção, talvez ainda tivesse esperança de encontrar Safira e ver que apesar dos acontecimentos nada havia mudado em relação ao elo de amizade construído entre eles, mas aquilo seria pedir por alguma intervenção divina.

— Ótimo, mais um para estragar meu humor – Resmungou Charles acomodando a bandeja sobre o colo.

— Como se o senhor precisasse de alguém para fazer isso. Também senti sua falta milorde! – respondeu ele com um meio sorriso.

Charles praguejou em voz baixa, ao menos teria alguém para jogar a culpa, se aquele mordomo não tivesse se ausentado de suas responsabilidades seus laços com a doce Safira não teriam se estreitado tanto.

— Vejo que a senhorita Cadwell cumpriu sua missão com êxito, está tudo em perfeita ordem. –Exclamou Fisher ao olhar em volta - Ela com certeza será uma excelente esposa – concluiu com um ar travesso.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora