Capítulo XII

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Safira o conduziu pelo interior da mansão até a sala de estar, onde checou o grande relógio. Não passavam das onze ainda, teria que arranjar outra ocupação para evitar que ambos ficassem entediados se encarando enquanto lembravam do...

— Tive uma ideia! Por que não vamos à biblioteca? Podemos ler um pouco até a hora da refeição.

Charles fez uma careta. Não estava com cabeça para aquilo, porém, diante do olhar suplicante dela maneou a cabeça positivamente.

Safira o guiou pela escada, o que fez com que o humor de Charles piorasse ainda mais.

— Posso saber por quê dessa carranca Milorde?

— Já pedi para que me chamasse de Charles – respondeu secamente.

— Charles – respondeu com um leve revirar de olhos.

— Eu devo mesmo ser esse tolo inválido que todos falam para precisar subir uma escada com a ajuda de uma mulher...

Safira apenas sorriu como resposta.

— Posso perguntar por que a senhorita está a rir? Nunca lhe disseram que é inapropriado rir de um homem?

— Sim já ouvi diversas vezes este sermão, mas não estou rindo propriamente do senhor e sim do seu vitimismo.

Charles bufou parando na metade da escada, sabia que estava parecendo uma criança birrenta mas ela o estava irritando e talvez – apenas talvez – ele estivesse ainda mais irritado consigo mesmo por não saber como reagir além de lhe lançar um olhar furioso.

— Ora senhor Fretcher o senhor está dizendo que preferia que um homem estivesse de braços dados com o senhor agora?

O rosto de Charles assumiu uma tonalidade nunca vista antes. Safira sabia que era perigoso irritá-lo, mas parecia inevitável... Havia nascido para aquilo! Possuía tanta convicção a respeito disso quanto tinha certeza de que o céu era azul. Sentiu-se invadida pelos deleite quando ele a encarou como se pensasse em mil maneiras diferentes de matá-la – quando na verdade por trás do olhar raivoso Charles estava pensando em mil modos diferentes de fazer com que ela calasse a boca. Talvez se a beijasse... A tocasse em...

— A senhorita é muito imprudente sabia?

— Imprudente por fazer comentários cujo o milorde não tem noção de como responder? – sua sobrancelha arqueou enquanto estendia novamente o braço para ajudá-lo.

Provocadora! Sem dúvida Safira Cadwell era a mulher mais provocadora que conhecia... Era provável que fosse por isso que nunca fora pedida em casamento, nenhum homem gostaria de se casar com uma mulher que o deixasse sem palavras. Exceto ele, a observando pelo canto do olho se pegou imaginando como seria casar-se com ela... O tiraria do sério com uma frequência absurda, era ousada e nunca se dava por vencida... Certamente teriam discussões intermináveis que o deixariam exausto... por outro lado a visão de uma mulher submissa não o atraia em nada. Charles nunca idealizou o tipo de mulher com que se casaria – no início por não desejar se casar e depois do acidente por pensar que ninguém se uniria em matrimônio com um homem naquele estado – Safira seria considerada inadequada aos olhos de muitos, por seu modo de se portar, no entanto... Para ele parecia a mulher ideal, sim, ele iria apreciar muito se casar com ela. Teriam um casamento saudável e prazeroso que... Charles se conteve, não poderia imaginar aquilo... Não quando estava comprometido – mesmo que contra sua vontade – com a irmã dela.

Ao terminarem de subir o lance de escadas Charles sentiu um leve formigar em sua perna, nada com o que já não estivesse acostumado, apenas um impertinente lembrete de sua invalidez.

Safira empurrou a porta e entrou no ambiente que cheirava a pó, madeira e papel. Lembrou- se da sensação agradável que era estar ali, cercada de histórias e conhecimento... Para ela livros deveriam ser considerados sagrados. Bem, parecia o tipo de coisa que deveria ser pensada caso alguém fosse o criador do mundo. Desvencilhou-se de Charles para poder ter a sensação dos seus dedos tocando a superfície de cada livro daquela estante.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora