Capítulo XX

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Era surpreendente - pensou Charles olhando para a enorme janela da sala de estar - tantos dias ensolarados em Londres! O sol nascia lentamente no horizonte dissipando a neblina da manhã, anunciando um céu límpido e um dia provavelmente muito quente. A quanto tempo ele não acordava cedo para ver o nascer do sol? Geralmente quando se levantava a luz do dia já cegava seus olhos... Havia se esquecido de muitas coisas, inclusive das mais simples da vida, como apreciar o renascer que chega com um novo amanhecer entre os vales e montanhas de seu lar...

Ele respirou fundo inalando o aroma refrescante e leve daquele dia. Estava se sentindo perfeitamente bem. Como se fosse outra pessoa que não ele mesmo. Olhou para baixo, ainda estava apoiado na bengala, ainda tinha o movimento de uma de suas pernas limitado, mas estranhamente se sentia outra pessoa. Talvez fosse a presença de pessoas amadas naquela casa, talvez a lembrança de uma infância, onde seu lar era frequentemente visitado pelos seus primos e parentes... algo havia o deixado um pouco mais otimista - Óbvio que ele não diria isso a ninguém. Nem mesmo a presença do odiável George o deixara de completo mau humor.

Charles olhou em volta. Sua prima Isabel estava sentada a mesa cortando um pedaço de maçã para o pequeno Thomas enquanto sua tia Lucinda folheava o jornal - um hábito dela durante o café - com os óculos de leitura pendendo na ponta do nariz, fazendo com que este parecesse ainda maior.

Charles gostava realmente delas, quando criança pedira inúmeras vezes que tia Lucy o adotasse e o levasse para viver em Hampshire. Óbvio que o conde nunca permitira (Não que ela mesma já não tivesse enfatizado que poderia educar o sobrinho muito melhor do que o próprio irmão).

[ . . . ]

De súbito tudo mudara naquele ambiente.

Era incrível - pensou ele - como notava sua presença, mesmo quando ela não emitira nenhum som ao entrar na sala. Bastou que seu nariz detectasse seu cheiro, um aroma adocicado e fresco de rosas colhidas no campo. Os lábios de Charles se abriram em um sorrisinho contido enquanto apoiava a cabeça na parede, ainda com os olhos fixos nos vales verdes que se estendiam para além de sua propriedade. Mesmo de costas ele adivinhava qualquer um dos movimentos dela com a precisão de um mestre.

Safira entrara timidamente na sala, o olhara de soslaio e sem que percebesse seus passos diminuíram, um leve rubor subiu pelas suas bochechas, continuou a caminhar, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e se recompôs para que ninguém percebesse aquilo - mas ele notara.

- Bom dia Senhoras - a voz suave e agradável de Safira atraiu a atenção das outras mulheres e de Charles.

- Bom dia senhorita - Respondeu tia Lucy com um sorriso amável.

- Bom dia querida - Respondeu Isabel - Diga bom dia para a senhorita Safira meu amor - ela cutucou o pequeno Thomas que brincava com alguns pedaços de fruta.

- Bom dia - Thomas lhe ofereceu seu sorriso sincero de criança.

Os olhos dela brilharam, Safira segurou a mão do garotinho encantada. Ela queria ser mãe - isso não deveria ser uma surpresa para Charles, já que a maioria das mulheres desejava isso - mas ele nunca havia parado para pensar a respeito. Percebeu, apenas por aquele olhar que ela seria uma mãe afetuosa, assim como a falecida condessa era com ele.

- Você é um verdadeiro cavalheiro garotinho.

- Eu o educo para que seja - Respondeu Isabel com evidente orgulho do menino - Não gostaria que Thomas fosse como alguns homens que vejo por aí.

Assistindo aquela cena Charles não pode deixar de pensar que queria... Meu Deus, mas que pensamento tolo! Ele sabia que não poderia se casar com ela, mas... Queria ter um filho com Safira Cadwell... aquilo o assustou completamente. Precisava afastar aquele pensamento ou ficaria louco.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora