O som das rodas da velha carruagem se enroscando nas pedras da estrada, era tudo que se ouvia. Adelaide sabia que a irmã estava zangada, pelo modo como reprimia os lábios com força. Mas o que poderia fazer? Fora uma decisão egoísta sem sombra de dúvida, não pensara no bem-estar de sua irmã, somente que a presença de Safira por lá facilitaria sua vida.
Assim que entraram em sua residência Adelaide não suportou mais o silêncio dela que costumava não conseguir manter se calada por mais de dez minutos.
- Espere — Adelaide segurou nos ombros de Safira — Eu preciso lhe pedir desculpas — anunciou, mesmo sem um pingo de arrependimento.
Safira desvencilhou-se do toque da irmã.
- Suas desculpas, podem estas mudar o passado? Não! Então não perca seu tempo com elas quando posso ver que não há nenhum pesar em seus olhos.
- Não me restou escolha! — gritou Adelaide em sua defesa.
- Havia uma escolha! Havia a escolha de não ser egoísta e lidar por si só com seu destino, mas você escolheu me arrastar para o seu caos por que não é capaz de lidar com ele sozinha!
Adelaide deu um passo para trás com o orgulho ferido.
Safira subiu as escadas à passos firmes em direção ao quarto deixando para trás os chamados desesperados da irmã. Parou na porta do quarto varrendo o ambiente com o olhar em busca de algo para calar a irmã.
- Poderia experimentar ser gentil da próxima vez que o encontrar — disse ela sabendo que Adelaide estava parada atrás dela — Por mais rude que você possa ser, nunca imaginei que chegaria a tanto.
- Sabe que não consigo me controlar — Adelaide se aproximou de Safira — é que, sempre me imaginei casando com um conde ou um duque e sendo feliz. Sei que pode ser egoísmo de minha parte mas, o que mal tem em sonhar?
Diante do silêncio de Safira, Adelaide suspirou.
— Eu quero ter uma família, um casamento feliz e.. Nós duas sabemos que com ele — Adelaide se referiu a Charles com indiferença — Não será bem assim.
— Adelaide, você consegue ouvir o que diz? — Safira se virou para a irmã completamente ultrajada — Diz que não pode ter um casamento apropriado só por que Charles tem uma das pernas comprometidas?
— Não. Não é por causa disso — Adelaide se defendeu, mesmo sabendo que o "problema da perna" era um dos fatores de sua arrogância — É que... Você viu como ele me olhou. Viu como ele reagiu no jantar, Safira aquele homem é repugnante!
— Você nem o conhece, não pode tirar conclusões das pessoas assim. — Safira se aproximou da irmã que sentou na ponta da cama.
— A primeira impressão é a que fica — Adelaide sorriu para irmã — É o que dizem.
- Não, não é — Safira revirou os olhos.
O peso no clima entre as irmãs Cadwell começava a desaparecer.
- Me dê um argumento plausível — Adelaide cruzou o braço e levantou uma sobrancelha para a irmã desafiando-a.
- Bem... — começou com o tom de voz pensativo — Quem te vê com essa postura hostil e orgulhosa... — Safira fez uma pausa para lançar um sorriso de escárnio a irmã - Nem se quer imagina que... — desta vez deixou a frase pairar no ar.
- Que?? — Adelaide questionou curiosa.
- Que você ainda dorme agarrada com aquele coelhinho rosa e sujo de quando éramos crianças.
- Ele não é sujo! — protestou a irmã com uma mão sobre o peito fingindo estar ligeiramente ofendida.
— Ou... que tem medo do escuro por isso dorme sempre com uma vela acesa, o que na pior das hipóteses pode incendiar a casa.
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Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1
RomanceSéculo XIX Após uma tempestade que inundou toda a Inglaterra Londrina, a vida de Charles Fretcher mudou drasticamente quando a carruagem em que se encontrava despencou numa ribanceira e uma de suas pernas fora esmagada por uma roda que se desprendeu...