Capítulo XLV

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Como em um campo que a pouco fora açoitado por uma tempestade, agora já não se ouvia o ribombar dos trovões ao fundo, reinava a sensação de paz, o pior já havia passado. O mau tempo daquela sala também havia deixado seus rastros, talvez o machucado de Charles pudesse se assemelhar aos galhos quebrados, e as marcas no coração de Adelaide ás flores cruelmente castigadas que voltariam a florescer ainda mais belas na próxima estação.

Sua vida, seu futuro, não estavam mais em somente em sua imaginação. Agora Safira sentia o desenrolar desenfreado de tudo que ela desejara um dia para si e julgara inconcebível. Charles estava na ponta da mesa e lhe lançou um olhar que a deixou imersa como se estivessem sozinhos em outra dimensão. Ela seria dele, e ele seria dela, por completo, explicitamente, seu amor seria percebido por qualquer tolo que estivesse a um quilômetro de distância deles.

Charles sentia como se as nuvens negras que encobriam sua vida se dissipassem diante de seus olhos e o permitissem contemplar um céu límpido e um horizonte atraente, a calmaria após uma forte chuva, que o convidava para uma nova aventura. Se sentia mais como o homem que um dia fora, determinado, a vitalidade pulsando em suas veias... olhou para Safira a desejando mais do que nunca. Se antes existia algo que em sua mente que sempre o impedia de toma-la por completo em seus braços, agora olhava para ela e percebia que seria ainda mais difícil manter o controle... se é que existiria algum entre eles... Um fungado desviou sua atenção de seus devaneios mais íntimos para sua amada Tia Lucinda. Ela estava com os olhos inchados, chorava silenciosamente. Sem pensar duas vezes Charles arrastou uma cadeira para que ela se sentasse. Mal podia imaginar o quanto o coração dela estava dilacerado, naquele momento sentiu ainda mais raiva de George por ser incapaz de reconhecer a bênção que lhe havia sido concedida ao ser gerado no ventre daquela mulher fantástica. A cada lágrima que escorria por aquele rosto já marcado pelo tempo, Charles tinha mais certeza de que deveria ser considerado um pecado mortal, ou um crime, fazê-la chorar.

Fischer entrou na sala equilibrando uma bandeja e ofereceu um copo de água para Lucinda, que balbuciou um agradecimento e após enxugar os olhos com o lenço que Charles havia lhe oferecido, respirou fundo e voltou a assumir sua personalidade maternal. Ela se virou para Adelaide, que não havia movido um músculo sequer depois que seu pai havia saído da sala. Lucinda estendeu sua mão gorducha e apertou gentilmente a mão da jovem dama.

- Nem tudo está perdido querida – ela lhe lançou um sorriso acalentador.

- Estou arruinada – as lágrimas pareciam tornar o azul de seus olhos ainda mais intenso. Adelaide olhou para Safira – E nem sequer posso dizer que isso não é culpa minha.

- Você está certa. Mas nós vamos ajudá-la a recomeçar – assegurou ela.

Adelaide não conseguiu deixar de ter esperanças com a fala de Lucinda e o olhar terno que Safira lhe lançava. Saber que podia contar com elas era consolador. Até mesmo Charles lhe transmitia um pouco de paz naquele momento e a encarava como se dissesse que também cuidaria dela. Mas a vida inteira Adelaide havia feito isso, se permitido ser cuidada por outras pessoas, especialmente por Safira, mas a irmã tinha um casamento e um futuro para cuidar. Estava na hora de crescer e assumir as rédeas da própria vida. Olhou para tia Lucy e entendeu que ela era a única que poderia lhe aconselhar da maneira certa sobre como faria isso.

A voz suave e reconfortante da jovem Isabel chegou até seus ouvidos, ela se mantivera tão quieta que com toda aquela confusão todos quase se esqueceram da presença dela. Apesar do semblante cansado ela tentou sorrir para Adelaide.

- Lorde Frederich possui algumas propriedades no interior, estamos planejando ir para a casa no condado de Hampshire na próxima estação. É um lugar bastante agradável e silencioso. Talvez você e mamãe pudessem passar algum tempo por lá.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora