Capítulo XVII

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- Ai! - protestou Safira ao sentir a pele ser cutucada pelo alfinete.

- Desculpe senhorita - murmurou a criada com o rosto envergonhado.

- Não precisa se desculpar - Safira tranquilizou a pobre moça - É que não estou acostumada com toda essa bajulação - suspirou ela.

O quarto de Adelaide estava repleto de criados, a manhã inteira as irmãs foram torturadas pelas provas de vestidos. Quando soube que seria submetida àquilo Safira tentou recorrer ao pai - afinal ela era apenas a irmã da noiva e qual seria a necessidade daquilo? Mas talvez o universo não estivesse conspirando tanto ao seu favor, pois, Edmund Cadwell fora bastante categórico ao dizer que desejava suas duas filhas impecáveis na noite do baile de noivado.

Espartilhos! Ah, definitivamente Safira odiava aquilo. Quando a modista, uma senhora nada afável - ela diria - se aproximou e ordenou a criada que apertasse mais o laço do espartilho Safira quase gritou. Aquilo era sem dúvida uma ferramenta para torturar as damas! Safira respirou fundo tentando devolver aos seus pulmões o máximo de ar que aquela coisa horrenda permitia. Por um breve instante ela deliciou-se com a visão da modista sendo atirada pela janela e do espartilho em chamas.

Recuperando -se da leve tontura que lhe fora causada, Safira observou a irmã do outro lado do aposento. Adelaide parecia uma rainha, não parecia importar-se com apertos e os criados amontoados em cima dela, ela parecia reluzir, adorava toda aquela atenção, com toda certeza o momento lhe permitiu dispersar o pensamento de que iria se casar com um homem de quem sequer gostava. Safira sabia que seu corpo era bonito e poderia bem ser atraente, no entanto o de Adelaide era... - Ah Deus era difícil até encontrar as palavras, talvez o fato de estar quase sem ar a estivesse a impedindo de pensar com clareza - o corpo de Adelaide era esplêndido o vestido cobria o seu corpo como uma pena.

De súbito Safira sentiu um aperto no coração: Adelaide sorriu para ela. Ah, como ela gostaria que a irmã fosse feliz, como ela queria... apesar do incidente com o cavalariço Aaron, Safira ainda acreditava na irmã, na doçura que existia por baixo daquele véu de rudeza ... Tudo que mais queria na vida é que a irmã amasse alguém como Safira amava... virou-se abruptamente fazendo com que outro alfinete espetasse sua pele.

- Por Deus garota pare quieta! - exclamou a senhora Leminsk, sem dúvida a modista mais rabugenta da Inglaterra.

A mulher a olhou com tamanha desaprovação, fazendo com que o corpo de Safira assumisse uma postura ereta sem que ela mesmo se desse conta.
Sua boca estava amarga, seus pensamentos vagavam para um lugar para onde Safira não desejava que fossem, uma noite específica... um breve instante de insanidade... O delicioso sabor do proibido...
Seu corpo chacoalhou novamente tentando dispersar aquele pensamento.

- Ai - Safira se amaldiçoou no exato momento em que disse aquilo. Fazendo com que a senhora Leminsk dirigisse novamente seu olhar rígido a ela.

- Você precisa de aulas de etiqueta minha cara. Não sabe ao menos se conter enquanto prova um vestido! Que tipo de dama é você?

Safira levantou o queixo mantendo seu olhar cravado nos olhos azuis daquela senhora.

- Uma dama que não gosta de vestidos extremamente apertados ou destes malditos sapatos que deformam os pés! - Protestou com rispidez.

A modista levantou as sobrancelhas em uma expressão de deboche, levou as mãos na cintura e disse entre dentes:

- Realmente não há sequer um vestígio de "dama" na senhorita... O modo que fala, as palavras que difere aos ventos sem um pingo de pudor - colocou as mãos na cintura e olhou para Safira por cima dos óculos redondos balançando a cabeça num gesto negativo - As aulas de etiqueta para ti se fazem extremamente necessárias!

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora