Capítulo V

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Safira não esperava encontrá-lo na biblioteca.

Pelo modo que Fischer falara não parecia que o senhor Charles Fretcher costumava sair muito do quarto. Ele estava vestido do modo que só um tolo não diria que não havia acabado de acordar: seus cabelos castanhos que faziam curvas onduladas estavam bagunçados fazendo alguns fios caírem em sua testa de modo casual, usava uma camisa de tonalidade azul escuro - que contrastava bem com a cor de sua pele - e parte de sua vestimenta, estava presa a seu cinto de couro enquanto outra ficara para fora da calça. Um visual pouco adequado aos veres da sociedade, porém, capaz de mexer com a sanidade de qualquer dama.

Mesmo com o corpo inclinado para o lado e pouca postura ainda assim ele emanava aquela sensualidade masculina. Alguns botões de sua camisa estavam abertos permitindo a vista do início se seu peitoral, entre tantas coisas o que mais prendeu a atenção de Safira fora justamente aquela veia grossa que saltava de seu pescoço logo a baixo de seu maxilar... ela pegou sua mente formulando a pergunta de como seria tocá-la.

Ali parado a porta, ele tinha o olhar selvagem vidrado nela. Que imediato quando o percebeu encolheu os ombros e não conseguiu impedir que suas bochechas ruborizassem. Depois do breve diálogo entre os dois o que se seguiu foi um longo silêncio. Safira abaixou a cabeça para os pés inquietos sentindo o olhar dele sobre ela a deixando mais desconfortável ainda, como se fosse possível.

- O senhor já leu todos? — perguntou ela quebrando o silêncio e apontando para os livros.

Ele demorou alguns segundos para responder, pois estava concentrado em demasia observando cada movimento que ela fazia.

- A grande maioria — ele levantou o olhar para a estante de livros que se estendia ainda a pelo menos um metro acima de sua cabeça — Não há muito que se possa fazer quando não se pode andar direito. Então o que me resta é ler — respondeu secamente.

- O senhor deveria dar graças aos céus por ainda conseguir andar, mesmo com dificuldade.

A frase saiu repentina. Mal se formou em sua mente e seus lábios se apressaram em dizer, Safira não planejou dizer aquilo, mas as vezes - nas poucas ocasiões em que perdia o controle da própria fala - ela poderia se parecer com Adelaide.

Charles poderia bem ter engasgado com a resposta que ouviu. Ninguém nunca havia dito nada parecido a ele. Ele abaixou a cabeça lentamente para lançar um olhar raivoso a Safira, mas teve a certeza que também não conseguiu esconder a surpresa que aquela resposta o causou.

Safira prendeu a respiração no momento em que terminou a frase. Se arrependeu amargamente. Não deveria ter dito aquilo, mal o conhecia, não tinha o direito de julgá-lo, não estava em sua pele e também não fazia ideia do que aquele rapaz tinha de enfrentar - apesar de ter uma breve noção pelo modo como Adelaide praticamente o insultara naquele jantar.

- Bem — respondeu ele em tom severo — Agradeceria se não tivesse que usar isto —Apontou para a bengala de madeira gasta que equilibrava seu corpo.

- Perdoe-me milorde eu não tive a intenção de insultá-lo.

Ele apenas lhe lançou um olhar rude. Essa palavra não cabia no vocabulário dele. Perdão. Era algo que as pessoas pediam sem de fato estarem arrependidas, mas havia algo na voz dela e no modo como seus olhos negros se arregalaram suplicantes que o fez acreditar que ela realmente não havia falado por mal, na verdade ele desconfiava que ela nunca havia feito ou falado algo com más intenções, simplesmente a maldade não combinava com ela. Então ele fez algo que não era de seu feitio: a perdoou.

- Esqueça isso senhorita.

- Desculpe milorde é que eu... — agora ela andava de um lado para outro inquieta.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora