Capítulo XXI

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Naquela manhã específica Adelaide havia se levantado cedo. Não havia nenhum resquício de sono quando os primeiros raios de sol da manhã, ainda pouco luminosos, atravessaram o leve tecido das cortinas de seu quarto. A casa estava silenciosa, o que indicava que nem mesmo os criados haviam iniciado suas atividades matinais. Dado que faltava apenas um dia para o seu noivado, aquela paz não duraria muito tempo, então resolveu desfrutar dela com a maior plenitude que conseguisse.

Mas a quem estava tentando enganar? Ela era Adelaide, a mais agitada da família, simplesmente não conseguiu se limitar a observar enquanto os raios de sol aos poucos se intensificavam tornando as paredes amarelas ainda mais intensas. Não queria pensar muito no pesadelo que estava prestes a se tornar realidade em sua vida e se viu disposta a se esforçar para não lembrar daquilo naquele dia, ao menos quando alguém não estivesse lhe perguntando sobre. Seria um grande desafio.

Se levantou e abriu as janelas de seu quarto, avistando o pequeno bosque de árvores coloridas que se estendia pela propriedade. Era uma vista magnífica - pensou - parecia uma paisagem retratada por um pintor deveras talentoso a ser exposta em um grande museu... um dia poderia chamar aquilo tudo de seu... Será mesmo? Então porque sentia que estava ocupando o lugar de outra pessoa? Certamente haveria alguém disposta a ser dona daquilo tudo e até mesmo desejar um enlace com Charles, haviam muitas moças desesperadas por um casamento em Londres, talvez até mesmo ela se encaixasse nessa categoria, porém obviamente não estava desesperada o bastante ao ponto de desejar ser desposada pelo senhor Fretcher. Um arrepio percorreu seu corpo ao pensar naquilo. "Se lembre da promessa que fez a si mesma nesta manhã e não pense mais nisto!".

Seu coração palpitou quando avistou um homem marchando ao lado de uma linda égua branca em direção ao estábulo, mas não era Aaron - percebeu com pesar - Era um empregado menor e rechonchudo. O cavalariço havia lhe avisado que não trabalharia naquela semana, pois sua irmã havia dado a luz a um bebê e como o marido dela havia falecido, Aaron se dispôs a ajudá-la enquanto a jovem se recuperava. Ele era um homem tão honrado! Lhe espantava que ainda estivesse solteiro, com aquele lindo sorriso e seu jeito galanteador era de se esperar que alguma jovem já tivesse se rendido aos seus encantos. Se ele ao menos tivesse um título, ela não se importaria se fosse apenas um pequeno barão.

Adelaide ponderou por um breve instante: estava apaixonada por Aaron? A resposta lhe ocorreu mais rápido do que o esperado: Não. Não estava apaixonada por ele, mas gostava da sua companhia, isso era muito mais do que ela tinha com Charles. Além do mais se sentia incrivelmente atraída e desejada por Aaron e isso lhe bastava. Ela sabia que suas atitudes não eram nem um pouco corretas, e que Safira jamais as aprovaria - se lembrou do juramento que havia feito a irmã quando a mesma descobrira seu enlace com o cavalariço, um juramento que fora incapaz de cumprir - mas se estava destinada a se casar com um homem detestável como o senhor Fretcher, era mesmo tão condenável que ela desejasse estar no controle de ao menos uma coisa sobre sua vida? Era um pensamento tão egoísta assim? Ela achava que não. Ao menos havia algo que Charles não tiraria dela, algo que ela já havia experimentado com outro homem e que havia sido esplêndido e delicioso.

Com um sorriso no rosto Adelaide pegou seu melhor vestido - de uma tonalidade azul claro que combinava com seu tom de pele e destacava seus olhos, era um vestido de verão que revelava um pouco dos ombros e realçava suas curvas. Atrás do biombo enquanto substituía suas vestes noturnas pela bela vestimenta se viu disposta para uma caminhada antes que o café da manhã fosse servido.

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George Fernsby era apaixonado por Fretcher Hall, por ter crescido na pequena propriedade de seu pai no Sul seus olhos sempre brilhavam de entusiasmo quando olhava para a vasta imensidão de terras pertencentes ao seu tio, e quando estava lá gostava de imaginar as possibilidades de plantio, quais pedaços poderia arrendar, como poderia construir uma mansão de dimensões ainda maiores que aquela, simplesmente havia muita coisa que sua mente fértil gostava de pensar quando estava ali, uma delas é o quanto seria feliz se fosse herdeiro de uma propriedade e um título como aquele. Todos esses pensamentos rodeavam a mente de George enquanto cavalgava despreocupado ouvindo o cantar dos pássaros.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora