Capítulo LI

926 90 8
                                    


Charles deu infinitas graças aos céus quando finalmente ouviu o estalo da porta se fechando e pôde se acomodar aliviado ao lado de Safira na carruagem. Ambos acenaram para seus convidados, os quais deveriam ver com bastante frequência nos próximos dias, afinal estariam a menos de 10 km de distância.

- Céus, pensei que Vincent jamais terminaria aquele discurso! – Charles jogou a cabeça para trás e se permitiu rir daquela situação.

Safira contemplou o marido maravilhada, aquele som que provinha dele era como música para seus ouvidos... A mais agradável melodia que já existira.

- Supus que estivesse bem contente com a demora dele, milorde – falou dando ênfase de maneira sedutora na última palavra – Percebi o olhar deveras amigável que lançara ao pobre Fischer.

Charles gargalhou mais uma vez, não se lembrava da última vez em que estivera assim: sorrindo para tudo, talvez fosse em sua juventude quando saía dos bares após o nascer do sol, completamente embriagado... era isso, estava embriagado de uma maneira que jamais estivera antes: de sentimentos bons.

- Ah minha querida – ele se voltou para ela com os olhos ardentes, se aproximou lentamente com a respiração ofegante – Se ele demorasse mais um mísero segundo com aquele discurso, acho que eu enlouqueceria ali mesmo.

Charles engoliu em seco observando os lábios terrivelmente convidativos de Safira, ouviu um breve arquejo vindo dela. O desejo irradiava de cada centímetro de seu ser, queria possuí-la ali mesmo dentro daquela carruagem que sacolejava em direção à sua propriedade, e sabia que naquele momento seus anseios eram tão recíprocos que nem mesmo Safira se importaria se o fizesse.

- Jamais pensei que pudesse ficar tão confortável dentro de uma carruagem – Acariciou suavemente as bochechas ardentes dela, seu olhar além de emanar a excitação que sentia, era carregado de veneração por aquela mulher – Mas nesse momento estou.

- E o que o deixa tão tranquilo milorde? – perguntou ela em tom de sussurro.

A mão dele passeou de suas bochechas para o seu pescoço causando uma onda de arrepios em Safira.

- Tranquilidade é de longe uma palavra que se encaixa em meu estado físico e mental neste momento querida. Estar com você é o que está fazendo com que eu me esqueça de tudo, até mesmo do fato de estar dentro de um veículo que tanto me recorda acontecimentos ruins... principalmente quando estou a poucos minutos de finalmente fazer algo que desejo desde o dia em que a vi pela primeira vez.

Ele queria, mas não podia desposá-la ali. Tendo em vista que sua vontade era de trata-la como uma rainha, reuniu todas as suas forças e precisou de uma boa dose da ajuda divina para se afastar dela, mesmo que poucos centímetros. Tirou seu relógio de pêndulo do bolso para checar as horas, poucos minutos os separavam da sua propriedade em Hampshire, mas "MALDIÇÃO!" - sua mente praguejava – "Aqueles minutos estavam se assemelhando á horas!" Havia esperado tanto para tê-la! Olhou para Safira que também se esforçava para se recompor. Lutou novamente contra a vontade de se debruçar sobre ela, beijá-la e arrancar suas vestimentas.

Precisavam de um assunto que os entretecem momentaneamente, para sua sorte estava com uma mulher que apreciava uma boa prosa independente da hora. Começaram rememorando com divertimento a trajetória daquele amor, comentando alguns acontecimentos isolados e abrindo honestamente seu coração sobre como haviam se sentido diante das diversas situações que vivenciaram naquele caminho, com ela, Charles não se sentia nem um pouco receoso em dizer a verdade, de despir sua alma diante dos olhos dela.

- Após nossa lua de mel, eu gostaria que passássemos uma temporada em Wilthshire, minha terra natal. Não sei exatamente o porquê, mas algo me diz que devo retornar ao meu condado, averiguar como estão as coisas por lá.

Safira assentiu compreendendo a importância daquele ato.

- Sinto que meu pai vem ignorando as pessoas que moram em nossas terras por anos, e me envergonho de dizer que eu também o fiz. Safira – ele pegou gentilmente na mão de sua esposa – Tu me fizestes enxergar que eu me ancorei neste acidente, julgando-me como um inválido, desperdicei os últimos anos de minha vida enclausurado em um quarto blasfemando contra meu mordomo, que de fato é alguém que tenho em alta estima, enquanto perdia momentos com minha família e a oportunidade de ajudar aqueles que mais necessitam de mim.

- O que importa meu amor é que você se deu conta de tudo isso e agora se vê diante da oportunidade para fazer tudo diferente, e não estará só enquanto Deus permitir que eu caminhe por esta vida.

- Você me fez renascer, serei sempre grato por isso. Eu queria desposá-la agora mesmo, mas não posso, pois sei que quando finalmente me deitar com você não serão apenas nossos corpos que estarão á se tocar, ocorrerá o encontro de nossas almas. Sei que sou mais experiente que você em vivências carnais, mas em matéria de amor, senhora Safira Fretcher – ele sorriu de maneira galanteadora ao dizer o novo nome dela - Serei seu eterno aprendiz.

Safira sorriu ao ouvir seu novo nome sendo pronunciado pelo marido pela primeira vez, ela achava que tinha uma sonoridade incrível.

- Eu também me sinto uma nova mulher. Na verdade posso dizer que apenas agora me reconheço como uma, antes era apenas uma garota preocupada em demasia com os que estavam à minha volta, insegura... Agora percebo que sacrificando a mim mesma, jamais poderia estar ajudando de fato aqueles que mais amo, que agora, estando bem, com a vida consolidada é que tenho as ferramentas e a disposição necessárias para amparar Adelaide e meu amado sobrinho como realmente precisam, além do fato de estar ao lado do homem que amo. Nunca vou me cansar de recordá-lo: nós dois fomos salvos por este amor.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora