Capítulo XLIV

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A astúcia de George não conhecia limites. Ele decidiu deliciar-se de uma maneira peculiar e maldosa: não contaria nada do que sabia agora, aguardaria até o fim do jantar, o brinde de despedida, então, quando tudo parecesse bem ele espalharia o caos. Por hora daria a entender que não tocaria mais no assunto, aliviando as tensões momentaneamente.


Conversou sobre banalidades com o tio, algumas vezes Edmund se envolvia na conversa. Os demais permaneceram calados durante toda a refeição.

- Vamos brindar - sugeriu Eliott, assim que o tilintar dos talheres nos pratos cessou por completo. Ele gesticulou para um empregado que se retirou para buscar a bebida.
Logo em seguida o homem voltou com uma garrafa de Champanhe em uma das mãos e uma bandeja com taças erguida a cima do ombro direito.
Um silêncio reinou enquanto o líquido da garrafa era jorrado nas taças delicadas. George limpou o canto da boca com um guardanapo e sorriu.

- Um brinde a você, querido sobrinho - Eliott estendeu a taça na direção de George que agradeceu com um movimento de cabeça.

- Eu gostaria de propor um brinde ao novo casal, Charles e Adelaide - já que Charles não se encontrava em seu campo de visão George lançou seu olhar malicioso para Adelaide, a pobre dama se assemelhava a uma presa encurralada por seu predador.

- Oh sim, claro. Um brinde a essa união e à futura condessa - o Conde forçou um sorriso para Adelaide.

George voltou-se para Safira, que imediatamente desviou o olhar para o prato vazio a sua frente. Bebericou um gole da sua bebida e como se tivesse subitamente recordado de algo, sua voz aguda preencheu aquele silêncio

- Oh, quase me esqueci! - Ele fez uma pausa teatral mantendo o suspense do momento no ar - Um brinde ao futuro herdeiro dos Fretcher que a senhorita Cadwell já está carregando no ventre! – George fora o único a largar a taça e bater palmas.

Eliott e Edmund engasgaram com a bebida ao mesmo tempo.
Safira encarou a irmã. O rosto de Adelaide estava branco como papel.

Por um momento ninguém se arriscou a pronunciar um mísero som. O silêncio anunciando a vinda de uma tempestade que dilaceraria a alma de Adelaide.

Elliot manteve o rosto inexpressivo e o olhar cravado em algum ponto específico da mesa, como se tivesse dificuldades em processar o que ouvira.

Edmund fora o primeiro a encontrar a própria voz:

- O-o q-que o senhor quer dizer com isso? – George percebeu os dedos trêmulos e inseguros de do homem no momento em que o viu estender a mão para pegar novamente a taça e se servir de um demorado gole do champanhe.

- Ora senhor Cadwell, creio que fui bastante esclarecedor em minhas palavras.

- M-mas como? – Edmund se virou para a filha estupefato.

Safira agarrou firmemente a mão de Adelaide para demonstrar que ela não estava sozinha e que enfrentariam aquilo tudo juntas.

George soltou uma risada pouco elegante pelo nariz.

- Ora senhor, com duas filhas crescidas era de se esperar que soubesse como uma mulher engravida.

Lucinda se levantou batendo os punhos na mesa.

- Já chega George! – ela lhe lançou o olhar mais penetrante que possuía – Você ultrapassou todos os limites.

Safira nunca havia imaginado Lucinda daquele jeito selvagem, ofegante, raivosa. Chegou a temer pela saúde daquela que tinha em seu coração como sua tia.

- A senhorita Adelaide é uma adultera e sou eu quem está passando dos limites mamãe?

Até mesmo Isabel se surpreendeu, nunca tinha visto o irmão se dirigir com tanta falta de respeito a sua mãe.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora