Capítulo VIII

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Adelaide perdera o ar. Mas não fora por um beijo, um rapaz ou qualquer outra coisa possível - mesmo que o homem, ou melhor, o empregado do estábulo fosse alto e forte, de cabelos dourados e ombros largos. Não, não fora por isso.

Vamos do princípio...

Tudo começou quando ainda meio sonolenta Adelaide puxou as cortinas de seu quarto e fora cegada por uma claridade absurda. Após uma infinidade de piscadas finalmente suas pálpebras conseguiram se abrir por completo e ela pôde enxergar a bela manhã que resplandecia do outro lado de sua janela. Era estranho - ela pensou - que se sucedessem tantos dias de calor em Londres. Seria completamente inútil se ela não aproveitasse a ocasião ao ar livre... Estava decidida a dar uma caminhada, chamaria Safira para lhe acompanhar, as duas costumavam se divertir vagando sem rumo. Manteve a ideia até que avistou ao longe um dos criados guiando um cavalo de pelagem marrom.

Adelaide se sentiu encantada, era nada menos que um equino da raça puro sangue inglês.

Quando criança teve um pônei, seu nome era Ruby, era de pelagem marrom escuro e muito dócil, mas o pai teve de vender quando ela tinha 12 anos para pagar dívidas. Desde então nunca mais havia cavalgado, e por Deus, qualquer um que possuísse intimidade com ela sabia Adelaide amava aquilo. Cavalgar - ela sorriu consigo mesma - era isso que iria fazer. Só então se deu conta do quanto sentia falta de segurar as rédeas de um cavalo á galope.

Desviou o olhar da janela para a pilha de vestidos em sua poltrona. No dia anterior havia saído pela manhã para comprar vestidos novos e só retornara perto da hora do jantar. Havia sido um dia exaustivo de provas e mais provas de vestidos, mas tudo valeu a pena quando voltou para casa e entregou um total de doze - sim, doze! - sacolas de roupa para um dos criados. Havia comprado também algumas joias e sapatos. Sentia-se uma princesa, em um momento breve de reflexão pensou que a vida de condessa parecia bastante agradável, se imaginou em um vestido repleto de diamantes chegando num baile, todos a olhando boquiabertos... Ela havia nascido para isso. A sofisticação do título caia bem. O que não caia bem era ser casada com um homem como Charles - seus belos devaneios foram interrompidos pela imagem dele aparecendo em sua mente, segurando aquela bengala e a tratando com arrogância - sem dúvida ela seria alvo de chacotas por outras damas bem casadas, que a olhariam com pena, não suportaria isso, não havia nada de fascinante em ser jogada as margens da sociedade - o que sem dúvida aconteceria.

Tirou aqueles pensamentos tortuosos da cabeça e foi para trás do biombo se trocar para o café. Optou por um vestido simples cor de pêssego e prendeu a cabeleira longa em um rabo deixando alguns fios soltos em seu rosto.

Ao fechar delicadamente a porta de seu quarto notou a do quarto da irmã entreaberta, resolveu entrar após dar duas batidas.

• • •

Safira estava a pentear seus longos fios negros apenas com os dedos - sim, não costumava utilizar-se de escovas ou pentes, gostava de apreciar a sensação dos dedos tocando delicadamente nos fios finos, não havia uma explicação, era apenas uma peculiaridade sua.

Quando ouviu as batidas na porta soube de imediato que sua irmã entraria dali alguns segundos mesmo que ainda não houvesse permitido sua entrada. E foi o que ocorreu, Adelaide adentrou seu aposento de uma maneira incomum - cautelosamente, sem causar nenhum estrondo - ela parecia diferente... Estava mais jovial, Safira sentiu que algo resplandecia dentro da irmã, o que despertou sua curiosidade.

- É um belo dia minha irmã! - Adelaide sorriu de maneira calorosa.

- Parece que sim - Safira se voltou para a outra extremidade do cômodo onde os raios de sol ultrapassavam o vidro de sua janela.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora