Capítulo 1

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- Nathália Narrando -

08 de Julho de 2014

Sabe quando você vê algo mas não consegue acreditar? Parece que a ficha só vai cair depois de ouvir da boca da pessoa? Era assim que eu me encontrava e não era sobre a derrota vergonhosa do Brasil pra Alemanha que eu tinha acabado de assistir, eu estava sentada na cama com o celular do meu marido na mão, ele tinha ido assistir o jogo no bar e eu como já estava um tempo desconfiada de uma traição resolvi dar uma incerta e eu descobri que não estava errada.

- Caralho, amor! Viu o jogo? - escutei a voz do Michel e logo ele estava dentro do quarto - Se botasse os moleque daqui do morro eles iriam jogar melhor, aposto também que aquela porra foi comprada

- Cadê o Kauã? - perguntei me referindo ao nosso filho que tinha ido com ele pro bar, meu pequeno só tinha 4 anos

- Ficou na casa da minha mãe - falou e eu finalmente olhei pra ele - O que aconteceu? - perguntou assustado e não era pra menos, eu estava com o rosto vermelho e inchado

- Isso aconteceu - falei mostrando o celular pra ele e o mesmo ficou branco

- Eu posso explicar - falou nervoso

- Explicar? - perguntei soltando uma risada sem humor - Isso não tem explicação, Michel

- Eu tentei - falou gaguejando - Eu tentei não sentir isso mas foi mais forte do que eu, se eu pudesse escolher - estava falando mas eu interrompi negando

- Pouco me importa se é com homem ou com mulher e nesse caso é homem mesmo - falei me lembrando das fotos que ele tinha recebido de um cara e das conversas - Me importa que você mentiu pra mim, você me traiu e isso está doendo

- Eu não tenho culpa, Nat - falou tentando se aproximar mas eu desviei dele

- Você é gay - gritei mas ele fez sinal pra eu falar mais baixo - Mas isso não justifica você me trair, chegasse pra mim e falasse que não me amava, mas preferiu me fazer de trouxa. Você tem noção de que 6 anos da minha vida foram uma mentira? Eu me entregava pra você e você devia sentir nojo - falei e segurei a vontade de chorar

- Eu amo você, Nat, isso você não pode duvidar - falou e eu olhei sem acreditar pra ele - Eu sei que errei mas tudo que eu vivi e falei sobre sentir com você foi bem sincero

- Se você é gay como você ia pra cama comigo? - perguntei tentando entender - Você tomava remédio?

- Não - falou rápido me olhando e eu me sentei na cama

- Desde quando você sabe que é assim? - perguntei encarando ele e o mesmo pareceu desconfortável - Eu tenho direito de saber, você não pode me negar isso

- Sabe aquela fase que os garotos começam a olhar para as meninas? Eu achava estranho não sentir nada, perdi o bv pra não ficar pra trás e com a virgindade foi a mesma coisa. Uma vez eu desci pro asfalto, eu tinha 15 anos, conheci uma pessoa e rolou

- Como você conseguia fazer sexo comigo? Sentia realmente prazer? - perguntei confusa

- Lembra que éramos amigos antes? Eu peguei um carinho fora do comum por você, sentia uma vontade de te proteger e eu realmente me apaixonei - falou dando uma pausa - Eu até pensei que nunca mais fosse sentir aquelas coisas mas não foi bem assim

- Então você é bissexual - falei mais pra mim do que pra ele - Tem muito tempo que você me trai? Seja sincero

- Uns 6/7 meses, eu me segurei o máximo que eu pude, tá ligado? Quando eu sentia que ia fazer merda eu assistia um filme - falou dando de ombros - Mas novamente no asfalto eu comecei a sair com algumas pessoas

- Você já saiu com alguém daqui? - perguntei torcendo por uma resposta negativa

- Nunca - falou e eu percebi que ele estava sendo sincero - Os daqui querem ser mulher e não me chama atenção

- Você é passivo, ativo ou relativo? - perguntei com uma certa curiosidade

- Que? - me olhou envergonhado

- Você dá, come ou faz os dois? - perguntei direta

- Nada entra aqui - falou e eu ri baixinho por causa do jeito

- Eu estou muito magoada com você, não por ser quem você é, mas por ter mentido pra mim - falei e ele se sentou ao meu lado

- Não tiro sua razão - falou baixo

- Mas eu tenho uma proposta pra você - falei passando a mão no rosto

- Que proposta? - perguntou desconfiado

- Você sabe que eu detesto mentira, né? - falei e ele assentiu - A minha vontade é gritar pra favela inteira a real sobre o chefe deles

- Você não vai fazer isso - falou sério

- Não vou - confirmei - Se eu fizesse você não poderia fazer nada. Iria me dar uma surra? Nunca me encostou a mão e não vai ser agora. Iria me matar? Jamais mataria a mãe do seu filho e mesmo que fizesse o estrago já estaria feito

- O que você quer? - perguntou receoso

- Vamos viver uma vida dupla - falei e ele me olhou de jeito que deixava claro que não estava entendendo nada - Aqui na favela vamos bancar o casal perfeito, mas bem longe daqui poderemos fazer o que quisermos

- Tá sugerindo você sair com outros cara? Sei não - falou negando com a cabeça

- Você sai - retruquei e ele ficou quieto - A diferença é que agora eu sei e vou poder conhecer novas pessoas

- Você não vai se separar de mim? - perguntou e eu neguei isso - Por quê?

- Você nunca foi um marido ruim pra mim, sempre cuidou de mim e do nosso filho, e eu sei que sempre fui uma ótima esposa - falei e ele concordou - Eu me casei com o meu melhor amigo e quero manter isso

- Acontece que nessa brincadeira você pode se apaixonar e querer me largar - falou óbvio

- Eu só quero me divertir - falei dando de ombros - Tenho 21 anos e estou há 7 sentando pro mesmo cara

- Entendi - falou pensativo

- Fechado? - perguntei estendendo a mão pra ele

- Fechado - falou depois depois de um tempo apertando minha mão, confesso que eu estava bem surpresa por ele ter aceitado

Nathália Onde histórias criam vida. Descubra agora