- Nathália Narrando -
Hoje o dia amanheceu estranho, parecia que algo ia acontecer e eu fiquei logo preocupada, quando deu 09:00 começou os fogos e eu sabia que tinha acontecido alguma coisa. Peguei o meu celular e vi no face o povo colocando que a polícia tinha subido.
- Mãe, cadê você? - escutei o Kauã me chamando e eu percebi que ele estava com medo
- No quarto - falei e não demorou pra ele entrar, na hora que ele fechou a porta começou os barulhos de tiros - Ei, calma - me sentei no chão e puxei ele
- Eu tô com medo - falou chorando, como nasceu aqui no morro o Kauã não tinha esses medos de tiro, tinha acostumado, mas desde a operação que matou o Michel ele ficava nervoso com tiroteio
- A mamãe tá aqui - falei e me deitei no chão com ele
- E se o dindo - começou a falar em meio ao choro mas não conseguiu terminar
- Fica calmo - pedi e passei a mão no rosto dele - Não vamos pensar nisso, vamos pensar que o dindo e todos os outros vão ficar bem
- Será? - falou com medo
- Eu espero que sim - falei beijando a testa dele e a minha cabeça não parava de pensar no Éverton e nos meninos
Os barulhos de tiro demoraram pra parar e quando acabaram eu nem mexi, fiquei esperando pra ver se acontecia mais alguma coisa, quando eu vi que tinha parado me levantei e o Kauã foi para o quarto dele. Peguei meu celular e tentei ligar pro Éverton e nada, liguei pro Rael e ele também não atendeu. Eu já estava a ponto de sair de casa quando o Rael entrou na sala.
- Por que não atendeu o telefone? - perguntei rápido - Cadê o Éverton?
- Nat, calma - falou e na hora o meu coração disparou
- O que aconteceu? - perguntei morrendo de medo da resposta
- A polícia levou o Cuíca - falou e por um momento eu fiquei aliviada por ele não estar morto ou baleado
- Ele tá vivo? - perguntei e ele confirmou
- Não se machucou - falou e eu passei a mão no rosto
- Eu vou ligar pra um advogado e vou na delegacia, eu não vou deixar ele sozinho e - estava falando mas ele não deixou eu continuar
- Eles querem dinheiro - falou e eu fiquei confusa por um momento - Um dos policiais que tinha acordo aqui no morro pegou ele e tá pedindo uma grana alta e se não dermos o dinheiro vão matar ele
- Vocês vão dar, né? - perguntei nervosa
- Sim, o Dg tá levantando o dinheiro, é muita grana mesmo e como não a gente não estava deixando tanto dinheiro na favela vai demorar um pouco - explicou
- Ele não tem esse tempo - me sentei no sofá e senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto
- Vamos levar o dinheiro e trazer ele de volta, vamos tirar do nosso bolso se precisar - falou se agachando ao meu lado
- Eu dou o dinheiro - falei e ele negou
- Não se envolve nisso - pediu e eu ri sem humor
- Mais? - falei limpando o rosto e fechei os olhos - Já sei - falei de repente - Vocês vão pegar o Cuíca sem precisar dar o dinheiro
- Impossível - negou - Eu sei que você tá nervosa e não tá raciocinando bem mas vamos dar um jeito, tenta se acalmar, eu preciso voltar pra boca
- Cala a boca - interrompi o mesmo e me lembrei de uma conversa que eu tive com o Michel - O Michel
- O que tem o Michel? - perguntou e eu me levantei
- Ele vai ajudar - falei simples
- Tá chapada? - perguntou incrédulo
- Vem cá - chamei subindo e ele veio atrás de mim
- Flashback On -
05 de Maio de 2015
Eu tinha acabado de chegar em casa, fui buscar o Kauã na escola e estava um sol pra cada um, cheguei me desfazendo em casa. Assim que chegamos em casa ele quis ir logo pra piscina e eu deixei, tirou o uniforme no quintal mesmo e fui brincar, peguei o uniforme e coloquei pra lavar, subi pro meu quarto e encontrei o Michel sentado no chão com várias pastas.
- Que isso, maluco? - perguntei olhando pra ele
- Moeda de troca - falou simples
- Não entendi - falei sincera - E confesso que não sei se quero entender
- Você tem que entender - falou sério e eu tirei a minha blusa
- Lá vem - bufei e me sentei no chão ao lado dele - Fala
- Eu fiz vários dossiês sobre os cu azul que tem acordo com a gente - contou - E vou continuar fazendo enquanto eu tiver vivo ou solto
- Para de falar besteira - pedi e ele riu baixo - Termina
- Tem fotos, filmagens, contas bancárias, conversas gravadas, emails e mais uma porrada de provas contra eles - explicou e eu comecei a entender
- Como você fez isso tudo? - perguntei chocada
- O seu marido é esperto, neguinha - falou sorrindo - Eu imprimi tudo e isso vai ficar em um cofre no banco junto com vários pen drive, só eu e você teremos acesso
- Eu? - perguntei surpresa
- Sim - falou simples - Mas vou deixar uns em casa pra caso de emergência
- Por que eu? - perguntei tentando entender
- Se acontecer algo comigo você sabe o que fazer pra me liberar, se eu for preso dá pra um advogado e ele consegue uma pena menor ou um acordo - falou e eu só balançava a cabeça - E se eu não tiver mais por aqui use com sabedoria
- E porquê eu usaria isso? - perguntei já odiando as suposições
- Você sabe, Nat - falou e realmente eu estava entendo o raciocínio dele - Se algum dos nossos amigos ou alguém importante pra você for preso usa
- Tem mais de um policial? - perguntei e ele riu animado
- Vários - confirmou - Coloquei adesivo com o nome do otário
- Entendi - falei pensativa
- Com sabedoria - reforçou - Apenas com pessoas importantes pra você
- Eu entendi - falei e ele sorriu me dando um selinho rápido
- Flashback Off -
Assim que eu terminei de contar para o Rael ele ficou me olhando perplexo, eu peguei a caixinha que eu guardava os pen drives no armário torcendo pro pm que pegou o Éverton tá no meio. No cofre do banco ainda tinha muitos arquivos e pen drives.
- Michel era foda - Rael falou surpreso
- Qual nome do cara? - perguntei rápido
- Manhães - falou e eu comecei a ler os nomes
- Rogério Manhães - falei alto e ele se levantou rápido
- É esse cuzão mesmo - falou com raiva e eu peguei o notebook no criado mudo, eu estava me tremendo toda
- Vamos lá - falei nervosa com a demora pra ligar, coloquei o pen drive e por causa da tremedeira quase não consegui
- Caralho - Rael falou quando eu acessei os arquivos, estava tudo separado por pastas e tinha tudo que o Michel tinha falado e muito mais
- Traz ele de volta - pedi tirando o pen drive do notebook e olhei pra cima pra impedir das lágrimas caírem - Por favor
- Eu vou trazer - falou firme e pegou o pen drive
- Mesmo se ele tiver machucado pode trazer ele pra cá, eu vou cuidar dele - limpei o meu rosto quando a lágrima escorreu
- Pode deixar - me deu um abraço rápido e saiu do quarto
- Por favor, meu deus, não deixa nada acontecer com ele - falei baixinho e foi impossível segurar as lágrimas
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Nathália
FanfictionSabe quando você acha que tem o controle de tudo na sua vida mas algo acontece e você percebe que nada é como você imaginava? A vida de Nathália era perfeita ao lado do marido e filho até uma descoberta.