Capítulo 75

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- Nathália Narrando -

Hoje o dia amanheceu estranho, parecia que algo ia acontecer e eu fiquei logo preocupada, quando deu 09:00 começou os fogos e eu sabia que tinha acontecido alguma coisa. Peguei o meu celular e vi no face o povo colocando que a polícia tinha subido.

- Mãe, cadê você? - escutei o Kauã me chamando e eu percebi que ele estava com medo

- No quarto - falei e não demorou pra ele entrar, na hora que ele fechou a porta começou os barulhos de tiros - Ei, calma - me sentei no chão e puxei ele

- Eu tô com medo - falou chorando, como nasceu aqui no morro o Kauã não tinha esses medos de tiro, tinha acostumado, mas desde a operação que matou o Michel ele ficava nervoso com tiroteio

- A mamãe tá aqui - falei e me deitei no chão com ele

- E se o dindo - começou a falar em meio ao choro mas não conseguiu terminar

- Fica calmo - pedi e passei a mão no rosto dele - Não vamos pensar nisso, vamos pensar que o dindo e todos os outros vão ficar bem

- Será? - falou com medo

- Eu espero que sim - falei beijando a testa dele e a minha cabeça não parava de pensar no Éverton e nos meninos

Os barulhos de tiro demoraram pra parar e quando acabaram eu nem mexi, fiquei esperando pra ver se acontecia mais alguma coisa, quando eu vi que tinha parado me levantei e o Kauã foi para o quarto dele. Peguei meu celular e tentei ligar pro Éverton e nada, liguei pro Rael e ele também não atendeu. Eu já estava a ponto de sair de casa quando o Rael entrou na sala.

- Por que não atendeu o telefone? - perguntei rápido - Cadê o Éverton?

- Nat, calma - falou e na hora o meu coração disparou

- O que aconteceu? - perguntei morrendo de medo da resposta

- A polícia levou o Cuíca - falou e por um momento eu fiquei aliviada por ele não estar morto ou baleado

- Ele tá vivo? - perguntei e ele confirmou

- Não se machucou - falou e eu passei a mão no rosto

- Eu vou ligar pra um advogado e vou na delegacia, eu não vou deixar ele sozinho e - estava falando mas ele não deixou eu continuar

- Eles querem dinheiro - falou e eu fiquei confusa por um momento - Um dos policiais que tinha acordo aqui no morro pegou ele e tá pedindo uma grana alta e se não dermos o dinheiro vão matar ele

- Vocês vão dar, né? - perguntei nervosa

- Sim, o Dg tá levantando o dinheiro, é muita grana mesmo e como não a gente não estava deixando tanto dinheiro na favela vai demorar um pouco - explicou

- Ele não tem esse tempo - me sentei no sofá e senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto

- Vamos levar o dinheiro e trazer ele de volta, vamos tirar do nosso bolso se precisar - falou se agachando ao meu lado

- Eu dou o dinheiro - falei e ele negou

- Não se envolve nisso - pediu e eu ri sem humor

- Mais? - falei limpando o rosto e fechei os olhos - Já sei - falei de repente - Vocês vão pegar o Cuíca sem precisar dar o dinheiro

- Impossível - negou - Eu sei que você tá nervosa e não tá raciocinando bem mas vamos dar um jeito, tenta se acalmar, eu preciso voltar pra boca

- Cala a boca - interrompi o mesmo e me lembrei de uma conversa que eu tive com o Michel - O Michel

- O que tem o Michel? - perguntou e eu me levantei

- Ele vai ajudar - falei simples

- Tá chapada? - perguntou incrédulo

- Vem cá - chamei subindo e ele veio atrás de mim

- Flashback On -

05 de Maio de 2015

Eu tinha acabado de chegar em casa, fui buscar o Kauã na escola e estava um sol pra cada um, cheguei me desfazendo em casa. Assim que chegamos em casa ele quis ir logo pra piscina e eu deixei, tirou o uniforme no quintal mesmo e fui brincar, peguei o uniforme e coloquei pra lavar, subi pro meu quarto e encontrei o Michel sentado no chão com várias pastas.

- Que isso, maluco? - perguntei olhando pra ele

- Moeda de troca - falou simples

- Não entendi - falei sincera - E confesso que não sei se quero entender

- Você tem que entender - falou sério e eu tirei a minha blusa

- Lá vem - bufei e me sentei no chão ao lado dele - Fala

- Eu fiz vários dossiês sobre os cu azul que tem acordo com a gente - contou - E vou continuar fazendo enquanto eu tiver vivo ou solto

- Para de falar besteira - pedi e ele riu baixo - Termina

- Tem fotos, filmagens, contas bancárias, conversas gravadas, emails e mais uma porrada de provas contra eles - explicou e eu comecei a entender

- Como você fez isso tudo? - perguntei chocada

- O seu marido é esperto, neguinha - falou sorrindo - Eu imprimi tudo e isso vai ficar em um cofre no banco junto com vários pen drive, só eu e você teremos acesso

- Eu? - perguntei surpresa

- Sim - falou simples - Mas vou deixar uns em casa pra caso de emergência

- Por que eu? - perguntei tentando entender

- Se acontecer algo comigo você sabe o que fazer pra me liberar, se eu for preso dá pra um advogado e ele consegue uma pena menor ou um acordo - falou e eu só balançava a cabeça - E se eu não tiver mais por aqui use com sabedoria

- E porquê eu usaria isso? - perguntei já odiando as suposições

- Você sabe, Nat - falou e realmente eu estava entendo o raciocínio dele - Se algum dos nossos amigos ou alguém importante pra você for preso usa

- Tem mais de um policial? - perguntei e ele riu animado

- Vários - confirmou - Coloquei adesivo com o nome do otário

- Entendi - falei pensativa

- Com sabedoria - reforçou - Apenas com pessoas importantes pra você

- Eu entendi - falei e ele sorriu me dando um selinho rápido

- Flashback Off -

Assim que eu terminei de contar para o Rael ele ficou me olhando perplexo, eu peguei a caixinha que eu guardava os pen drives no armário torcendo pro pm que pegou o Éverton tá no meio. No cofre do banco ainda tinha muitos arquivos e pen drives.

- Michel era foda - Rael falou surpreso

- Qual nome do cara? - perguntei rápido

- Manhães - falou e eu comecei a ler os nomes

- Rogério Manhães - falei alto e ele se levantou rápido

- É esse cuzão mesmo - falou com raiva e eu peguei o notebook no criado mudo, eu estava me tremendo toda

- Vamos lá - falei nervosa com a demora pra ligar, coloquei o pen drive e por causa da tremedeira quase não consegui

- Caralho - Rael falou quando eu acessei os arquivos, estava tudo separado por pastas e tinha tudo que o Michel tinha falado e muito mais

- Traz ele de volta - pedi tirando o pen drive do notebook e olhei pra cima pra impedir das lágrimas caírem - Por favor

- Eu vou trazer - falou firme e pegou o pen drive

- Mesmo se ele tiver machucado pode trazer ele pra cá, eu vou cuidar dele - limpei o meu rosto quando a lágrima escorreu

- Pode deixar - me deu um abraço rápido e saiu do quarto

- Por favor, meu deus, não deixa nada acontecer com ele - falei baixinho e foi impossível segurar as lágrimas

Nathália Onde histórias criam vida. Descubra agora