Capítulo 102

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- Nathália Narrando -

Hoje tinha completado uma semana da operação, as coisas começaram a se ajeitar mas mesmo assim as ruas viviam vazias, o medo da polícia surgir do nada era grande. Eu fiquei o dia todo no quarto pensando em várias coisas, o Kauã tinha ido pra minha sogra e eu aproveitei pra colocar o meu pensamento em ordem. Quando o Éverton chegou ele foi direto tomar banho, eu fiquei sentada na cama esperando ele sair do banheiro.

- Tá com essa cara porquê? - perguntou quando saiu do banheiro

- Nós precisamos conversar - falei séria

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou me observando

- Não - falei e ele se sentou na cama

- Mas você tá séria - falou e eu assenti

- Eu amo você - falei e segurei a vontade de chorar

- Mas? - me incentivou a falar

- Eu não consigo mais - falei passando a mão no rosto pra secar as lágrimas

- Não consegue o que? - perguntou sem entender

- Continuar - apontei pra nós dois

- Não consegue? - perguntou baixo - Tem outro na parada?

- Não tem - falei sincera

- Eu não tenho outra, Nat, pode acreditar em mim - falou rápido e eu nem tentei mais segurar o choro

- Eu sei que não - falei chorando

- O que aconteceu então? - perguntou e eu vi uma lágrima caindo mas ele logo limpou

- Eu sinto que as escolhas que eu fiz pra minha vida afetaram o Kauã - falei dando uma pausa - E nessas últimas semanas por conta das operações eu vi o quanto ele vem sendo afetado e por mais que ele não consiga se expressar direito eu percebi que ele não tá feliz

- É por isso? - perguntou e eu neguei

- Eu nunca tive um relacionamento que eu pudesse ir para os lugares que eu desejasse na hora que eu quisesse, sem ter a preocupação se uma blitz vai parar o carro e reconhecer o Michel e depois você - falei dando uma pausa - Óbvio que nós saímos e nos divertimos mas com aquela preocupação de sempre. É como se a minha vida tivesse num replay, sabe? Eu já passei por isso, tenho medo do final e eu não tô aguentando a pressão mais, eu queria aguentar mas não consigo

- Você se arrependeu da gente? - falou e eu neguei rápido

- Nunca - falei sincera - Foram 3 anos que eu vivi um amor lindo com você e eu nunca irei me arrepender disso

- Eu não posso te impedir - fungou e limpou o rosto - Eu te amo, Nat, e caralho você é parceirona comigo e eu entendo tudo que você quer

- Entende? - perguntei e ele confirmou

- Infelizmente eu não posso te dar nada disso - falou e eu abracei ele - E você não tá errada e eu detesto admitir isso

- O tempo que nós ficamos juntos foi incrível - falei baixo - E eu te amo

- Também te amo - falou e olhou nos meus olhos - Nunca esqueça disso

- Não vou - garanti e ele deu um beijo na minha testa

- Obrigado por ter olhado pra mim e me ajudado quando ninguém fez - falou e eu tentava limpar o meu rosto mas não adiantava - Eu aprendi muito com você

- Eu também - sussurrei - Você é incrível - falei e ele me deu um abraço apertado

Foi difícil a conversa com o Éverton, não que por algum momento eu imaginei que seria fácil, eu não estava terminando por falta de amor, traição ou algo do tipo e sim porquê eu queria um futuro com mais oportunidades e vivências pra mim e pro Kauã. Depois da nossa conversa eu fui conversar com o Kauã.

- Posso entrar? - bati levemente na porta do quarto dele

- Pode - falou e quando eu entrei vi o mesmo jogado na cama mexendo no celular

- Preciso conversar com você - me sentei na cama e ele ficou me olhando

- Sério? - perguntou e eu assenti

- Muito sério - confirmei e ele se sentou na hora

- O que tá pegando? - perguntou e eu respirei fundo

- Eu e o Éverton terminamos - falei e na hora senti os meus olhos encherem de lágrimas

- Terminaram? - perguntou assustado e eu confirmei - Mãe, ele fez algo contigo? Te traiu? Te machucou? - disparou a perguntar e eu percebi que ele estava irritado

- Não, meu amor, calma - falei segurando a mão dele

- Foi o que então? - perguntou tentando entender

- A decisão foi minha - falei e me olhou confuso

- Por que? Você ama ele - falou confuso

- Eu não aguento mais viver essa loucura que é ser casada com um traficante, foi uma escolha minha começar e eu não me arrependo de forma nenhuma, mas não da mais pra mim - falei explicando

- Você tem medo de perder ele, né? - perguntou baixo

- Muito - admiti - E eu quero algo novo na minha vida

- Algo novo? - perguntou me olhando

- O que você acha de morarmos de vez no apartamento? Eu amo aqui mas acho que devemos respirar novos ares - falei e ele ficou me olhando pensativo

- Mãe, você realmente vai levar em conta a opinião de um garoto de 13 anos? - perguntou rindo fraco - Você é mãe e o certo seria você apenas decidir

- Não é assim que funciona, pelo menos comigo - falei simples - O que você acha?

- Eu acho que pode ser legal e eu vou pra onde você for - falou e eu sorri de lado

- Então vamos pro apartamento - falei baixo

- Você não tá feliz - falou me observando

- Não tô - confirmei - Mas aos poucos tudo se acerta

- É mais difícil porque vocês se amam - falou e eu assenti

- Eu tive que ser um pouco egoísta e em relação isso - falei limpando o meu rosto

- Você não é egoísta - negou - Eu acho você corajosa

- Corajosa? - ri sem humor

- É, tem que ter muita coragem pra terminar amando, você teve que colocar a sua felicidade em primeiro lugar - falou dando de ombros - Não tem nada de errado nisso

- Eu tô sendo consolada por um garoto de 13 anos? Meu deus - falei e ele riu

- Tá sim - falou me abraçando

Nathália Onde histórias criam vida. Descubra agora