Capítulo 5

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- Nathália Narrando -

Hoje eu tive que ir na rua resolver algumas coisas e na volta peguei o Kauã na escola, assim que eu cheguei em casa coloquei ele pro banho e peguei o uniforme pra lavar, aproveitei logo pra pegar a roupa de cama dele.

- Lava esse piru direito hein - falei entrando no banheiro

- Tá, mãe - falou entediado e eu ri

- A Gabi vai no shopping e perguntou se você quer ir - falei lendo a mensagem que ela tinha me mandado - A Juliana vai também - falei me referindo a minha irmã caçula

- Eu quero - falou me olhando e eu respondi a mensagem

- Não demora ai não - falei saindo do banheiro

- Ta bom - falou e desci, coloquei as coisas no cesto de roupa e fui esquentar a comida. Desliguei a air fryer, comprei toda receosa mas amei, ela fritava as coisas sem óleo e era muito boa - O que é a comida? Eba tem batata frita - Kauã falou animado entrando na cozinha

- Arroz, feijão, bife e batata frita - falei terminando de fritar os bifes - Vai chamar o Gb

- Neguinho não tá aqui hoje não? - perguntou me olhando

- Hoje é o dia que ele almoça em casa - falei e ele fez uma cara como se tivesse lembrado - Vai logo

- Tô indo - falou e eu coloquei as coisas na mesa e peguei a coca cola na geladeira, estava geladinho do jeito que eu gosto

- Maior tempão que tu não solta pipa, menor - escutei a voz do Gb e logo ele apareceu na cozinha com o Kauã

- Meu dindo disse que vai me levar na quadra amanhã pra soltar - Kauã falou e já ia se sentar

- Lavem as mãos - falei e eles foram pra pia - Senta ai pra comer, Gb

- Eu como lá fora, patroa - falou e eu revirei os olhos

- Lógica nenhuma isso - falei olhando pra ele - Já falei pra você e pro Neguinho que não tem nada demais

- Mas você é a patroa pô - tentou se justificar

- Seu patrão não ligava - falei lavando a mão - E outra conheço vocês desde sempre

- Não discute com ela - Kauã falou e eles se sentaram - Ninguém ganha mesmo - completou simples e o Gb riu baixo

- Tem salada, vai querer? - perguntei pegando na geladeira e coloquei na mesa, era salada de alface e tomate

- Não - Kauã falou e eu comecei a arrumar a comida dele

- Eu perguntei pro Gb, você não tem escolha, bonitinho - falei e o Gb começou a arrumar a própria comida

- Não disse - falou olhando pro Gb

- Come, garoto - falei e o percebi o Gb querendo rir

- Eu vou comer salada também - Gb falou olhando pro Kauã - É bom, cara

- Tá - falou se dando por vencido

Depois que a minha irmã veio buscar o Kauã aproveitei pra fazer uma faxina em casa, quando acabei aproveitei pra dormir um pouco e acordei no final da tarde com o meu celular tocando, era a minha sogra me chamando pra ir no culto com ela. Eu não tinha uma religião, sou batizada na católica e batizei meu filho lá também mas só vou quando a minha vó me chama e é assim também com igreja evangélica, eu penso que se alguém me chama pra ir em alguma igreja algum motivo tinha, eu acredito muito em Deus.

- As pessoas já foram mais discretas - falei me sentando no banco e percebi várias pessoas me olhando

- É assim mesmo, minha filha - minha sogra falou baixo

- Me sinto um bicho em zoológico - falei incomodada

- Com o tempo passa - falou rindo baixo e chamaram ela - Já volto

- Ta bom - falei e ela se levantou, observei algumas pessoas e percebi alguém se aproximando, quando olhei era uma amiga de muitos anos da minha mãe

- Oi, Nathália - falou sorrindo

- Oi, dona Débora - falei sorrindo de lado

- Posso falar com você rapidinho? - perguntou e eu assenti

- Aconteceu alguma coisa? - perguntei preocupada

- Não, só sinto que preciso falar com você - falou se sentando ao meu lado

- Pode falar então - falei baixo

- Na maioria das vezes acontece coisas nas nossas vidas que nos faz parar e pensar "porque comigo?" ou até pensar mais forte ainda com "será que Deus existe? ele não permitiria que isso acontecesse" - falou dando uma pausa e eu ouvia tudo com atenção - Mas na verdade tudo que acontece em nossas vidas é com a permissão dele, uma mísera topada no sofá é com a permissão dele

- É difícil pensar assim, sabia? Eu sei que o Michel acabou com várias famílias, eu tenho essa consciência mas é tão difícil aceitar a perda dele - falei sentindo as lágrimas escorrerem e limpei rapidamente - Será que é castigo?

- Não, minha querida - segurou a minha mão - Por diversas vezes Deus poupou a vida do Michel e isso desde que ele era um menino ainda. Mas chegou a hora que Deus resolveu recolher ele e assim foi feita a sua vontade. Ele realmente não foi uma pessoa correta, como você disse, mas o que você deve pensar é nos momentos bons que você e o pequeno Kauã tiveram com ele

- Eu me sinto tão fraca - confessei fungando

- Fraca? - perguntou confusa

- É, eu tento entender e por alguns momentos acho até que consigo - falei olhando pra ela - Mas quando eu vou dormir parece que tudo vai por água a baixo e eu durmo chorando

- Você não é fraca por isso - falou simples - Você é humana, minha filha, chore tudo que você tiver pra chorar e não se envergonhe disso em nenhum momento

- Um dia vai passar, né? - perguntei esperançosa

- Vai sim - falou sorrindo fracamente - Você vai encontrar algumas pedras no caminho mas com sabedoria vai conseguir superar tudo

- Pedras? - perguntei pensativa - Que pedras?

- Não sei - falou simples e me abraçou - Fica bem, menina

- Vou tentar - afirmei e ela saiu

Nathália Onde histórias criam vida. Descubra agora