Um desafio a vista e um gato a caçar

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— O que estou fazendo? — questionou a si mesmo ao focar seu olhar para as dezenas aboboras com as suas caras assustadoras (ou ridículas) talhadas e espalhadas pelas ruas do centro de Beacon Hill. A pergunta abrangia diversas dúvidas que ele detinha dentro de si. O que estava fazendo ali especificamente. Tinha prometido a si mesmo em ficar em seu quarto no dormitório do instituto, longe de tudo ou de todos, pelo menos até que as visões ou pesadelos terminassem. Essa atitude leva a outra interrogação: o que estava fazendo de sua vida? Tinha buscado a mordida como uma forma de causar uma mudança...Buscava se transformar em algo diferente. Queria ser forte e talvez ter um maior controle sobre o seu destino. Verdade era que depois de conseguir se transformar em um lobisomem não sentiu que tinha de fato se tornando outro ser ou despertado em outra realidade. Seus pais não o abandonaram, o instituto não era muito diferente da sua antiga escola humana, nem a dinâmica entre os lobisomens era tão fenomenal...Ainda havia as "panelinhas" (ou alcateias), hierarquia, populares, perdedores.

A verdadeira mudança era que tinha perdido a sua patente de popular e se tornando um dos perdedores. Por não conseguir se transformar em sua forma beta, acabara sendo excluído da maioria dos grupos. Até mesmo seus companheiros de time o estavam evitando, como se ele tivesse um tipo de doença. Ninguém de fato sabia de seu defeito como lobisomem, mas devido as já incontáveis desculpas que criara para evitar demonstrar a sua forma beta já era o suficiente para gerar desconfianças e que boatos começassem a rondar pelos corredores do instituto. Sim, ele sabia que devia pedir ajuda aos professores, principalmente aqueles responsáveis pelas aulas voltadas para o sobrenatural...Mas...Só um perdedor busca ajuda de um professor! Logo, se ele realmente fosse buscar os adultos, só confirma o quão perdedor ele era. Uma humilhação!

Mas quem ele estava enganando? Estava chegando ao fundo do poço...Não estava acostumado a ser alvo de fofocas (não do tipo negativas) e tão pouco bullying!

Ele, Jackson Whittemore, sofrendo bullying? Impossível! A que nível tinha decaído.

E para completar estava ficando doido. As visões, pesadelos e coisas estranhas agora o perseguiam. Talvez devesse ignorar seu tolo orgulho e buscar sim ajuda...

— Não. Assim eu serei um perdedor ainda maior! Só nerds vão buscar os professores pedindo ajuda. Posso resolver tudo isso sozinho... — resmungava. Tentou chutar uma das aboboras, mas por um segundo a careta se modificou, na verdade se moveu como se fosse uma face ao invés de uma caricatura talhada no vegetal

— Assassino... — falou a abobora com seu rosto sinistro.

Jackson engoliu em seco. Seu corpo começou a tremer. Será que não teria paz? Seria perseguido por esses fantasmas o acusando erroneamente? Ele não era assassino!

Tomado por estranha fúria, atacou a leguminosa.

— Nossa...Eu já ouvi falar da expressão "enfiou o pé na jaca", mas no jerimum, nunca.

— É abobora, Stiles.

— Na verdade, jerimum e abobora são sinônimos, meu caro Danny. É igual almôndegas e porpeta! Ou mesmo, biscoito e bolacha.

— Ah! Não! Isso foi um sacrilégio! Biscoito e bolacha são coisas totalmente diferentes! Biscoito é salgado e bolacha é doce...

— Aí, você se engana, caríssimo Scott. Bolacha é que é doce...

— Sério mesmo que iremos começar essa discussão de novo?

Jackson encarou aquele grupo de adolescentes com misto de surpresa e irritação (por que não dizer alívio?). Tentou não deixar transparecer suas emoções. Simplesmente enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans e lançou seu olhar mais mortal para aquela turma de nerds.

Beacon Hills InstituteOnde histórias criam vida. Descubra agora