Mort

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A estante de livros foi empurrada, revelando uma porta oculta. Com um sorriso no rosto e tendo o cuidado de não ser visto, ele girou a maçaneta que tinha um formato de lobo.

A porta levava a uma longa escadaria. No passado, tochas a iluminavam, mas agora isso não era mais necessário. Não demorou muito para encontrar o interruptor e as luzes fluorescentes iluminarem o ambiente.

Ele desceu a escadaria, apoiando-se em sua bengala. O som de seus passos e o toque da bengala no chão de pedra ecoavam pelo espaço. Não demorou para alcançar uma ampla sala.

A sala em si estava repleta de seus tesouros. Na parede, pendiam troféus, presas e cabeças caçadas por sua família ao longo de séculos. Ele mesmo havia contribuído para aquela impressionante coleção. Seus olhos pousaram sobre a cabeça de um lobisomem albino extremamente raro, adornado em uma moldura dourada. Ele havia obtido aquele troféu em uma caçada nos anos 80.

Ele observou ao redor e pôde contemplar outras preciosidades do passado. Um unicórnio embalsamado, majestoso em sua pose eterna. O chifre de um Minotauro, elegantemente banhado em prata. A escama de um basilisco, brilhante e ameaçadora. Cada peça contava uma história, testemunhas silenciosas das proezas de sua linhagem caçadora.

Contudo, mesmo essa coleção estava incompleta, relembrando os troféus que foram perdidos quando a mansão Argent foi invadida pelas forças policiais. Com as leis internacionais proibindo a profissão de caçador de seres sobrenaturais, os clãs foram desfeitos e as sedes foram alvo de investigações e ocupações pela justiça. Gerald teve que usar parte de sua fortuna para subornar algumas autoridades e conseguir preservar algumas peças históricas da família Argent.

Ali, naquele porão, apenas uma parte do legado dos valorizados Argents está preservada. No passado, até os antigos reis e imperadores da França buscavam a ajuda da família. Aliás, tudo começou com a Besta de Gévaudan, um dos casos mais famosos e enigmáticos de ataques de criaturas desconhecidas na história da França. Ocorrera na região de Gévaudan, localizada no sul do país, entre os anos de 1764 e 1767.

A Besta de Gévaudan foi descrita como uma criatura feroz e monstruosa, semelhante a um lobo, porém de proporções muito maiores. Relatos descreviam o animal como possuindo um tamanho incomum, pelos escuros e uma mandíbula poderosa capaz de despedaçar facilmente suas vítimas. Suas presas eram principalmente mulheres e crianças que se aventuravam pelos campos e florestas da região.

Os ataques da Besta de Gévaudan provocaram pânico e terror na população local, resultando na morte de mais de cem pessoas durante aquele período. Houve uma grande mobilização para caçar e exterminar a criatura, com diversas tentativas de capturá-la ou matá-la, porém sem sucesso imediato.

Eventualmente, em junho de 1767, um caçador chamado Jean Argent foi creditado por ter abatido a Besta de Gévaudan. Supostamente, ele utilizou uma bala de prata benta para matar o animal, encerrando assim o período de ataques. A partir daí a fama do clã Argent começou a se espalhar não apenas pela França, mas por toda a Europa. Pelo menos até agora...

Seria esse o fim do clã? Ficar relegado a se esconder nas sombras, nos porões?

Gerald Argent sentou-se em uma imponente poltrona no centro do salão. Ali, ele se sentia seguro, porém não conseguia dissipar o sentimento de pesar que inundava seu peito. Ao lado, havia uma pilha de livros, diários e bestiários compilados por seus antepassados. Gerald pegou um deles aleatoriamente, esperando que as palavras do passado o guiassem rumo a um futuro melhor para seu clã.

As horas se passaram e ele se sentia cada vez mais perdido em desespero e nostalgia. Até que encontrou uma página presa em um dos antigos tomos do bestiário, datado da época de Jean Argent. Com delicadeza e habilidade, conseguiu despregar as páginas e observar o que estava oculto ali.

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