Coração de Pedra

Capítulo 24

— Não gosto -ri- Mas quando eu era pequena descobri que se eu não as jogasse fora, meu pai deixava eu comer duas fatias de pizza. -Marcelo soltou uma risada.
— Seu pai devia ser ótimo.
— Ele era -sorri fraco- Os animais o amavam. Eu o vi várias vezes alimentar os tigres na mão, sem nunca levar uma mordida. Até as cobras gostavam dele -comentei.
— Aquela reserva de animais deve ter sido um lugar incrível.
— Era maravilhoso -respondi- Mas houve um acidente horrível e meu pai perdeu tudo.
— Alguém foi comido? -perguntou curioso.
— Quase -retruquei querendo não prolongar o assunto- Houve uma ação judicial.
— E ele perdeu, não foi? -arriscou.
— Sim. E aquilo destruiu ele.
— Ele cometeu suicídio? -Marcelo perguntou curioso.
Eu hesitei. Marcelo era um dos meus melhores amigos. Eu sabia que ele não contaria nada a Luan e nem mesmo a Bruna se eu não lhe desse permissão.
— Meu pai não está morto -revelei- Não sei onde ele está ou o que faz da vida. Meu pai virou alcoólatra -não quis contar toda a verdade para Marcelo- Você não pode contar isso para ninguém, ok?
— Claro que não, jamais faria isso.
Olhei para a bolsa que estava em meu colo e continuei a falar.
— Ele me deixou com a minha mãe e foi embora. Isso aconteceu há seis anos e nunca mais tive notícias dele. Pode ser que ele esteja morto. -confessei.
— Você o amava muito não é?
— Sim -concordei me ajeitando no banco.
— O que foi?
Lembrei de algumas palavras que minha mãe havia me dito.
— Minha mãe confessou que nunca me quis. Que eu acabei com a aparência dela -soltei uma risada tentando não chorar.
— Meu Deus do céu! E eu pensei que minha mãe era horrível -Marcelo parou no semáforo fechado e me olhou. - Não é uma pena que nós não possamos escolher nossos pais?
— Sim, é -concordei- Fiquei com o estômago embrulhado de ouvir ela dizer aquilo. Eu devia ter percebido. Ela não gostava de mim quando fui embora com meu pai e passou a gostar menos ainda quando meu pai me devolveu para ela. Agora, acho que ela me odeia. Tentei agradar ela cuidando da casa, cozinhando, mas minha mãe não reconhece nada disso. Ela se queixa até da comida que eu como - olhei para Marcelo- Tenho que sair daquela casa -falei desesperada- Não aguento mais isso.