Coração de Pedra

Capítulo 147

O braço estava preto e quase deformado pelo inchaço. Mas não era isso que chamava minha atenção.
E sim o ombro dela. Haviam enormes e profundas cicatrizes marcando a pele dela, que pareciam ter sido feitas por algo provido de grandes presas. O estrago era impressionante. A dor que ela sentiu...
No mesmo instante, percebi que as fotos haviam sido adulteradas e mais tarde eu iria atrás de quem fez isso. Mas naquele momento, toda a minha atenção estava focada naquela frágil menina, a quem eu julguei errado e quase matei.
— Mas que porra aconteceu com ela? –perguntei.
— Foi picada...
— Não estou falando da picada. Aquilo! –apontei para o ombro que o lençol deixava exposto.
— Ela pulou na cova de um leão na reserva animal do pai para salvar um menino de sete anos que caiu dentro da cova, quando ninguém estava vendo.
— Meu Deus do céu! E onde estava o pai dela enquanto isso estava acontecendo? –eu quis saber.
— Parado perto da grade, observando tudo –doutor Ribeiro respondeu, com um evidente desdém.
— Filho de uma puta! –xinguei com a voz rouca.
— Não poderia concordar mais.
Prendi a respiração enquanto a observava.
— Ela vai sobreviver? –perguntei, por fim e o médico me encarou.
— Não sei –respondeu sincero– O veneno teve um bom tempo pra agir antes de ela ser encontrada...
Passei pelos técnicos de enfermagem e me aproximei da cabeceira da cama, onde Helena estava deitada, tão pálida e imóvel. Afastei uma mecha de cabelo suado de sua testa com uma das mãos e me inclinei para falar em seu ouvido.
— Você tem que viver –sussurrei, forçando estabilidade na voz– Tem que viver. Isso é culpa minha, mas não posso... Viver... Se você morrer... –me vi obrigado a me calar, porque minha voz estava falhando. A imagem de Helena estava embaçada. Eu nunca chorava. Com o polegar, acariciei os lábios pálidos dela, enquanto deixava escapar um suspiro audível. – Vou matar aquele detetive particular.