Coração de Pedra

Capítulo 163

— Tudo bem. Se nós a cremarmos, podemos marcar uma missa em memória dela quando isso tudo acabar –Carla sugeriu, olhando preocupada para Helena- Você não vai conseguir ir ao funeral nas condições que se encontra agora.
— Concordo –Helena respondeu, prendendo a respiração– Ah, meu Deus! Meu trabalho! Eu nem liguei para o doutor Gustavo! Ele vai me demitir!
— Eu liguei para ele –me apressei em dizer– Gustavo colocou uma técnica temporária em seu lugar. Ele e toda a equipe da clínica te desejaram uma boa recuperação. Te enviaram uma enorme cesta de frutas. Acabou de chegar, então, a enfermeira entregou para mim. Eu coloquei no carro. Vou levar para casa e amanhã você pode se deliciar.
— Obrigada –Helena agradeceu– Estava com medo de perder meu emprego. Estava muito mal para ligar e contar o que aconteceu.
— Acho que todas as pessoas de Jaraguari e Campo Grande sabem o que aconteceu –Carla esclareceu com um olhar divertido para mim– E eu quero dizer tudo mesmo.
Carla se despediu e nos deixou a sós.
Enfiei as mãos no bolso da calça e a observei.
— Você parece um pouco melhor –comentei.
— Queria estar me sentindo assim. Mas ainda estou enjoada e meu braço dói –disse ela com a voz rouca, erguendo o olhar para mim– Odeio cobras.
— E elas não gostam que as pessoas sentem em cima delas –retruquei.
— Eu não sentei. Ela apareceu do nada. Não consegui nem virar para vê-la erguer a cabeça e me picar.
— Nervosismo.
Helena parecia confusa.
— O quê?
— Cascavéis são nervosas. Chocalham para tentar assustar as pessoas e afastá-las. –suspirei– De qualquer forma, nós a pegamos.
— Pegaram? Mesmo? –perguntou.
— Os peões encontraram ela a uma distância de seis metros do local onde ela te picou.